Martín Fernandez
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Enquanto domingo não chega, as verdades vigentes são aquelas esculpidas a cada quarta-feira. A derrota que o Flamengo colheu nesta semana em La Paz pela Copa Libertadores permite muitas conclusões — todas certamente precipitadas, só algumas provavelmente corretas. No domingo, após o clássico contra o Botafogo pelo Campeonato Brasileiro, será possível avaliar quais pereceram e quais resistirão a uma nova quarta-feira.

Só há uma que não aceita divergências: o jogo na altitude de 3.600 metros tem características peculiares, sempre muito favoráveis ao time mandante. E o gramado brasileiro (usado aqui como sinônimo de horrível) do estádio Hernando Siles, que impedia a bola de correr sem quicar, tornou tudo ainda mais difícil para o Flamengo. Feitas essas ressalvas, que são importantes, foi o próprio Flamengo que criou mais dificuldades para si próprio.

Tite e sua comissão técnica decidiram, conscientemente, reduzir as chances de vencer o Bolívar na terceira rodada da fase de grupos da Libertadores. Ao escalar apenas três titulares e deixar no Brasil jogadores como Pulgar, De Arrascaeta e Pedro, o Flamengo deliberadamente se afastou de uma vitória em La Paz. A prevalecer a leitura de que a derrota seria inevitável com qualquer formação, então não havia motivo para levar Rossi, De La Cruz, Fabrício Bruno e outros titulares.

A derrota deixou o Flamengo em situação incômoda em seu grupo, com quatro pontos em três partidas, a cinco do líder Bolívar, com poucas chances de terminar a chave em primeiro e sob algum (pequeno, mas algum) risco de eliminação. A fórmula de desprezar jogos desta fase foi aplicada em 2023, com resultado conhecido: o Flamengo terminou em segundo lugar no grupo, teve que decidir as oitavas de final como visitante e terminou eliminado pelo Olimpia. Decisões têm consequências.

Outra conclusão (de novo: certamente precipitada, nem por isso errada) é que não existe algo como um “elenco homogêneo” ou “dois titulares para posição”. Por melhor e mais caro que seja o elenco do Flamengo, é evidente que há uma hierarquia de qualidade. Com e sem a bola, o time sentiu a falta de seus principais jogadores. O fator altitude nunca pode ser descartado da avaliação, mas é evidente que se o Flamengo tiver que voltar às alturas num duelo de mata-mata os titulares serão escalados.

A abordagem tática de Tite também se provou ineficiente. Com três zagueiros — uma formação inédita em 2024 —, o Flamengo sofreu um gol logo depois do primeiro minuto e se mostrou inseguro. Léo Ortiz então foi adiantado para jogar no meio do campo e o time melhorou. Mas a mudança apresentou seu custo no segundo tempo. Quando os jogadores do Bolívar arrancaram para marcar o segundo gol, Léo Ortiz estava aberto na esquerda, muitos metros à frente de onde deveria estar, e naturalmente não conseguiu voltar para recompor, vencido pela altitude.

O clássico no domingo oferece uma chance para Tite começar a apagar todas essas impressões ruins — que só serão esquecidas de vez na própria Copa Libertadores. A diferença é que os maiores riscos não estão na altitude nem no próprio Flamengo, mas sim no Botafogo.

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