Martín Fernandez
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Para quem não tem ligação emocional com Borussia Dortmund ou Real Madrid não deve ser difícil escolher para quem torcer na final da Champions League amanhã, em Londres. Afinal, de um lado está o azarão simpático, o quinto colocado do Campeonato Alemão, a torcida que faz a festa mais bonita da Europa; e do outro está o sinônimo de opulência e poder, o maior vencedor do torneio, o clube que vem aqui no Brasil e leva Vini Jr, Rodrygo e Endrick antes que eles tenham idade para tirar carteira de motorista.

Mas tal escolha precisa ignorar o que acontece em campo. Este Real Madrid, que vai tentar conquistar a Champions League pela 15ª vez, é um time irresistível. Tem sido um exercício inútil e frustrante torcer contra este time. Quando os jogos não são resolvidos pelo talento puro de Vini, Rodrygo e Bellingham (nenhum com mais de 23 anos) ou pela energia de Tchouameni, Camavinga ou Valverde (nenhum com mais de 25 anos), são pela experiência e a classe de Toni Kroos e Luka Modric. Mesmo quando foi claramente dominado — contra o Manchester City nas quartas de final —, o Real Madrid conseguiu deixar a impressão de que mereceu avançar.

Um ano atrás, logo depois de o Real Madrid ter sido destruído pelo mesmo Manchester City, estava consolidada a sensação de que o técnico Carlo Ancelotti não servia mais. Até o interesse da CBF — que provou-se fictício, mas na época era levado a sério — em contratar o italiano era visto com alguma simpatia em Madri, uma saída honrosa para um treinador histórico. Pois Ancelotti ficou, Benzema foi embora, Bellingham chegou e a mágica aconteceu. O Real Madrid ganhou o Campeonato Espanhol com um pé nas costas, e é muito favorito a ganhar a Champions.

Depois de ter eliminado o City, Bellingham deu uma entrevista ainda no gramado na qual resumiu o espírito deste time.

— Sabe, um dos nossos pontos fortes é que nós improvisamos muito — começou o inglês numa conversa com o ex-jogador Rio Ferdinand. — Carlo simplesmente nos enche de calma e confiança. Antes do jogo (não qualquer jogo: de uma eliminatória contra a implacável máquina de jogar futebol de Pep Guardiola) eu percebi que ele estava bocejando. Então perguntei: e aí chefe, está cansado? Ele respondeu: “Sim, quero que vocês me divirtam hoje”. É esse tipo de calma e confiança que ele nos passa.

É curioso que este time tão cool — um bando de craques jovens e carismáticos treinados por um mestre zen — seja resultado de uma administração tão feroz. Faz poucos meses que o Sevilla acusou formalmente o Real Madrid de usar sua TV oficial para intimidar árbitros na Espanha. Seu presidente, Florentino Pérez, é o maior entusiasta da criação de uma Superliga, provavelmente a ideia mais antipática que já circulou pelo futebol europeu. Mas aí está um clube que conseguiu, à diferença das outras velhas potências do continente, se manter relevante num ambiente que mudou drasticamente de uns anos para cá. A ponto de se tornar o destino natural para tanto talento jovem que poderia estar na Premier League; a ponto de se tornar a única opção viável para Kylian Mbappé. O futebol vai mudar, como sempre muda, e o Real Madrid vai continuar onde sempre esteve.

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