Martín Fernandez
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O Brasil merece receber a Copa do Mundo Feminina de 2027. Mais do que seu único rival na disputa por abrigar a competição, a candidatura conjunta de Holanda, Alemanha e Bélgica. Até algum tempo atrás, bastaria ler os nomes dos países envolvidos para decretar os europeus vencedores. Felizmente não é mais assim.

A decisão sai na madrugada de amanhã, durante o Congresso da Fifa na Tailândia. Votam as 207 associações nacionais de futebol (os quatro países diretamente envolvidos na eleição não podem votar), que foram cortejadas nos últimos meses em visitas das candidaturas e nos últimos dias no corpo a corpo aqui em Bangkok.

O primeiro ponto para sustentar a convicção de que o Brasil merece vencer é a lista de países que já foram sede do Mundial Feminino: China (duas vezes), EUA (duas vezes), Suécia, Alemanha, Canadá, França, Austrália/Nova Zelândia. Tem país sobrando, tem país faltando. A Copa das Mulheres nunca foi para a África nem para a América do Sul.

Se a ideia é descentralizar o desenvolvimento da modalidade — como quer a Fifa — faz muito mais sentido que o principal torneio seja organizado distante dos centros onde é mais avançado e já desfruta de um mercado mais maduro.

Uma Copa no Brasil tem potencial infinito de transformação do mercado interno, de impactar novas audiências. E, este não é um aspecto menor, também de constranger cartolas, patrocinadores e torcedores que ainda resistem ao futebol feminino. Os efeitos seriam sentidos por todo o continente.

A escolha do Brasil seria a coroação de um trabalho impecável feito por três mulheres — Valesca Araújo, Jaqueline Barros e Manu Biz — que conduziram a candidatura à margem das turbulências que sempre atingem a política do futebol brasileiro. E isso não quer dizer que não tiveram apoio ou que o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, não tenha se envolvido. Ao contrário.

Mas foi o trabalho discreto e eficiente do trio que levou o Brasil a tirar uma nota mais alta do que os concorrentes europeus na avaliação técnica feita pela Fifa (4, numa escala de 1 a 5; contra 3,7 da outra candidatura). A nota no relatório foi o motivo mais citado por eleitores de todos os continentes com quem conversei ao longo desta semana na Tailândia.

Uma vitória da candidatura brasileira também seria um triunfo do governo federal, que ofereceu ao projeto e à Fifa todas as garantias necessárias. O Brasil já tinha tentado se viabilizar como a sede da Copa do Mundo Feminina de 2023, mas por falta de apoio do governo anterior teve que abrir mão em favor da Colômbia — que acabou derrotada por Austrália e Nova Zelândia.

No mais, os argumentos — vários deles até bastante justos — apresentados por quem era contra a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil não se sustentam mais. Graças àquele Mundial não há necessidade de investimento pesado em estádios e infraestrutura.

Nos últimos dez anos o Brasil pagou caro pelos erros que cometeu na política e no futebol — muitos deles originados naquela Copa. Receber o Mundial de 2027 também representaria uma chance de redenção, uma oportunidade para o país mostrar que aprendeu alguma coisa.

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