Martín Fernandez
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Por , O Globo — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 28/06/2024 - 03:40

Impacto da seleção da Geórgia na Eurocopa

A seleção da Geórgia surpreende na Eurocopa, fazendo história ao se classificar para as oitavas de final. Enquanto o país se divide sobre se aproximar da Rússia, o futebol une a nação em torno de sua equipe. A campanha impacta a política local e gera debates sobre o futuro da Geórgia.

Com essa até Marcelo Barreto, que desaprova o uso do termo sem o devido rigor, vai ter que concordar: o que fez a seleção da Geórgia nesta Euro é histórico. Histórico com H.

Desde a independência da União Soviética, no início dos anos 1990, a Geórgia tentou 14 vezes se classificar para Euro ou Copa do Mundo — e falhou 14 vezes.

Quando finalmente conseguiu, não foi para fazer figuração. A Geórgia chegou à Alemanha para disputar o torneio como o time de pior posição no ranking da Fifa (74º, abaixo de Burkina Faso, só um pouquinho acima da Bolívia, o pior sul-americano da lista), condenado a uma eliminação precoce.

Na estreia contra a Turquia, fizeram o jogo mais divertido, uma partida aberta, com 36 finalizações, três bolas na trave e quatro gols: uma derrota por 3 a 1 que poderia perfeitamente ter sido um empate em 2 a 2.

Depois de um empate contra a República Tcheca, a Geórgia se classificou para as oitavas graças a uma vitória por 2 a 0 sobre Portugal, com uma atuação estelar do craque Khvicha Kvaratskhelia.

Seja qual for o resultado do jogo diante da Espanha, neste domingo, a seleção da Geórgia já fez história na Euro. O que está por ser descoberto é o impacto dessa campanha no próprio país, que atravessa severa crise política — que tem tudo a ver com o slogan desta Euro: “Unidos no coração da Europa”.

No mês passado, o parlamento da Geórgia aprovou um polêmico projeto de lei sobre “influência estrangeira”, que dificulta a atuação de ONGs e veículos de imprensa que recebam mais de 20% de seu financiamento do exterior, além de obrigá-las a compartilhar informações com o governo.

A lei foi entendida como “pró-Rússia”, desagradou a maioria da população — 60% defendem que o país entre na Otan na União Europeia — e gerou os maiores protestos da história do país, que foram reprimidos com violência por forças de segurança.

A tensão inevitavelmente chegou ao futebol. O atacante Budu Zivzivadze (que joga no Karlsruher, da Alemanha) fez críticas à maneira como o governo espancou e prendeu manifestantes. “Como cidadão, tenho que expressar mais uma vez minha opinião: não à Rússia e a tudo que leve a Geórgia até a Rússia. Estou entre as pessoas que estão dispostas a arriscar sua saúde por um futuro melhor da Geórgia”.

Do outro lado, Kakha Kaladze, ex-companheiro de Kaká no Milan, e hoje prefeito da capital Tbilisi, declarou-se um apoiador declarado da lei. O magnata Bidzina Ivanishvili, que tem ligações com a Rússia, ofereceu 9 milhões de euros para serem distribuídos entre os jogadores em caso de classificação às quartas de final.

Kvaratskhelia, craque da seleção e um dos grandes astros da Euro, só se transformou num jogador de altíssimo nível depois que deixou o Rubin Kazan, da Rússia, para jogar no Napoli, onde ganhou o título italiano, prêmios individuais e o apelido de Kvaradona. Suas atuações na Euro levaram milhares de pessoas às ruas da Geórgia — não para protestar, mas para comemorar.

Enquanto o time faz da Geórgia uma atração no torneio que prega “união no coração da Europa”, o país — uma ex-república soviética — se divide sobre a ideia de se aproximar da Rússia. O jogo contra a Espanha, no domingo, será o próximo capítulo dessa história — certamente não o último.

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