Martín Fernandez
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Enquanto os principais craques do mundo estão prestes a entrar em campo por suas seleções na Euro e na Copa América, o futuro da indústria do futebol está em jogo em outros palcos, com consequências imprevisíveis. Nesta semana os sindicatos de jogadores de França e Inglaterra moveram uma ação contra a Fifa num tribunal de Bruxelas. As entidades acusam a Fifa de “agir unilateralmente” na elaboração do calendário internacional do futebol. A queixa mais específica é contra o novo Mundial de Clubes, a ser disputado por 32 times a cada quatro anos. A primeira edição será nos EUA, entre junho e julho de 2025, no verão do hemisfério norte — justamente o período em que, segundo os sindicatos, os jogadores europeus deveriam descansar entre duas temporadas.

A Fifa, que nega ter imposto calendário e afirma ter consultado todos os interessados, tem bons argumentos a seu favor. Os torneios organizados pela entidade mundial representam em média menos de 2% do total de partidas que um clube de elite faz durante um ano. O grosso dos jogos, por óbvio, está nas competições nacionais e continentais. A partir da próxima temporada a Uefa Champions League será inchada e terá mais partidas; além disso, quase todos os grandes clubes europeus fazem turnês de exibição por EUA, Oriente Médio e Ásia. Por trás dos argumentos do calendário lotado e da exaustão dos jogadores, existe uma feroz batalha por espaço, por atenção e, sobretudo, por dinheiro.

Outra disputa judicial com consequências imprevisíveis foi iniciada pelo Manchester City contra a Premier League. O time que ganhou os últimos quatro campeonatos contesta as regras que regulam os contratos de patrocínio dos clubes ingleses (para evitar distorções e injeções artificiais de dinheiro) e também quer o fim do que chama de “tirania da maioria” — o fato de que as principais decisões da Liga precisam ser aprovadas por 14 dos 20 clubes que estiverem na primeira divisão naquele momento. Em um resumo grosseiro: o City quer gastar quanto quiser sem precisar dar satisfações a ninguém. O desfecho deste caso pode transformar para sempre a melhor liga nacional do mundo.

No mês passado, durante seu Congresso anual, na Tailândia, a Fifa criou um grupo de trabalho formado por confederações, clubes, ligas, jogadores, torcedores e “entidades privadas”. O objetivo é estudar as possibilidades de que jogos de ligas nacionais sejam disputadas no exterior. Isso já acontece em torneios menores como as “Supercopas” da Itália e da Espanha, organizadas na Arábia Saudita. A depender de como as discussões avançarem, poderemos ter partidas da Premier League na África do Sul, da Liga espanhola na Argentina, do Campeonato Alemão na Austrália. O tema, claro, é motivo de ação judicial em curso nos EUA.

Enquanto o futebol mundial discute seu futuro, o Brasil continua abraçado ao atraso, com um terço de seu ano-útil ocupado com os insuportáveis campeonatos estaduais — cujos efeitos nefastos se sentem agora, com os clubes desfalcados dos jogadores convocados para a Copa América. Nem a presença garantida de três times brasileiros no Mundial de Clubes da Fifa vai mudar esse cenário em 2025.

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