Martín Fernandez
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Exatamente três meses atrás, no dia 7 de março, John Textor deu uma entrevista bombástica. Disse ter provas de que houve manipulação de resultados nas últimas três edições do Campeonato Brasileiro. Falou em inteligência artificial, em um suposto “olho que tudo vê”.

O dono do Botafogo bateu todos os recordes num esporte popular no Brasil: destruir a credibilidade de competições esportivas. A modalidade — muito disseminada entre cartolas, técnicos, jogadores, torcedores e “jornalistas” — é sempre praticada após derrotas nessas mesmas competições.

O empresário americano não foi um pioneiro, portanto. Mas é inegável que levou a coisa a outro nível. O padrão no Brasil era a acusação genérica, a insinuação-arte, a indignação-raiz, a reclamação-moleque. A que era facilmente enquadrada como choro de perdedor, não demandava consequências e era facilmente esquecida.

Foi assim quando Luiz Felipe Scolari, então técnico do Atlético-MG, disse que havia uma “ordem lá de dentro” para os árbitros mostrarem cartões ao atacante Hulk. De dentro de onde? DA CBF, para quem Felipão já trabalhou duas vezes? Ninguém se preocupou em perguntar ou responder. Não era importante.

Foi assim quando João Martins, auxiliar de Abel Ferreira, afirmou ser “ruim para o sistema o Palmeiras ganhar (a Série A) dois anos seguidos”. A futilidade da acusação ficou provada alguns meses depois quando o Palmeiras ganhou o Campeonato Brasileiro pelo segundo ano seguido. Felipão e Martins foram “punidos” com alguns jogos de suspensão e a vida seguiu.

John Textor foi mais bem longe, turbinou suas insinuações com efeitos especiais, estatísticas, análises do comportamento de jogadores e árbitros. Na prática, não conseguiu provar nada. Ao contrário: só causou dano à própria reputação e, com a ajuda de uma CPI infame no Senado, fez aumentar a circulação de desinformação sobre o tema.

Uma das “provas” exibidas por Textor “revelou” que no jogo entre Botafogo e Palmeiras no Campeonato Brasileiro do ano passado o árbitro de campo não teve à sua disposição todas as imagens do VAR para tomar uma decisão. O que levou o senador Carlos Portinho a usar letras maiúsculas nas redes sociais: “DENÚNCIA GRAVE! o árbitro de vídeo PODE ESCOLHER AS IMAGENS que envia ao árbitro de campo. Isso é gravíssimo!”

O que o senador chama de “gravíssimo” é literalmente o que está nas regras do jogo, universalmente aceitas, publicadas em todos os idiomas: o VAR escolhe as imagens e envia, o árbitro de campo pode pedir outros ângulos e replays. O que é regra no mundo inteiro aqui no Brasil é matéria-prima para “denúncia grave”.

Sob os holofotes da CPI, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, tratou o dono do Botafogo como um mau perdedor, alguém que “está na história” por ter perdido “um campeonato que estava na mão dele”. Nas redes sociais, outro clube atingido por Textor partiu para o contra-ataque: “O São Paulo FC espera que o Botafogo, um clube protagonista na história do esporte, resolva suas diferenças e cure feridas esportivas dentro de campo”.

Textor está sendo derrotado no jogo perigoso iniciado por ele mesmo. Só vai vencer se tiver muito mais do que mostrou até agora.

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