Bia Ferreira, prata nos Jogos de Tóquio-2020, é a boxeadora a ser batida nos 60kg. A brasileira é a atual campeã dos Jogos Pan-americanos e bicampeã mundial. Desde o final de 2022, ela tem carreira híbrida e concilia o boxe olímpico com o profissional. A brasileira não quis migrar totalmente para o profissional, assim como fez Herbert Conceição, que foi campeão olímpico em Tóquio-2020, porque queria o bicampeonato mundial, em 2023, em Nova Dheli e o ouro em Paris-2024. Uma meta ela já bateu, quando venceu o torneio na Índia.
— Eu quero trazer para o Brasil a mãe de todas dourada. E resolvi continuar porque o ciclo Paris-2024 ficou mais curto. — explica Bia, que fala em "gostar de desafios". — Está sendo muito legal conciliar os dois, uma novidade para mim e minha equipe, e acho que estamos indo bem. O boxe profissional é o meu plano B. E este será o meu último ciclo olímpico.
Bia diz estar muito animada com a nova fase. Ela já fez três lutas, em novembro e em dezembro de 2022 e em junho de 2023, e venceu todas. A quarta será em 9 de dezembro, em San Francisco. Ela lembra que Tóquio-2020 seria seu último ciclo, mas como título não veio, ela mudou os planos.
Segundo o técnico Mateus Alves, Bia dará prioridade de calendário ao olímpico até Paris-2024. As lutas do profissional são realizadas em momentos em que há brechas nos planos da Confederação Brasileira de Boxe. Após Paris ela estará exclusiva da Matchroom, empresa com a qual assinou contrato.
— Não tem proteção, luva bem seca... fica bem difícil e eu gosto disso — fala a brasileira, que teve influência do pai Raimundo Oliveira Ferreira, um dos grandes nomes do boxe baiano, bicampeão brasileiro e sparring de Acelino Popó de Freitas. — Acredito que seja por isso que meu estilo combine com o profissional. Eu não tinha isso em mente, mas estou gostando. Sou de partir para cima e mandar golpes mais embaixo (da cintura), algo essencial no profissional, mas é uma modalidade mais cansativa.
Por ora, ela está de olho na classificação para Paris-2024 e garante que consegue separar os estilos das diferentes modalidades. Afirma que está "entendendo melhor como fazer" cada uma delas.
— Querendo ou não, o boxe profissional é dinheiro também. Desde que passuo a ser permitido lutar em ambos, ela optou pela carreira híbrida — afirma Mateus Alves, técnico e chefe da equipe do boxe em Santiago.
Mateus explica que não é tão simples essa migração. E que muitos atletas não encaram o profissional de forma definitiva porque o boxe olímpico paga bem.
— Quem migra é porque teve proposta que vale a pena. Se não, é melhor ficar com o salário da confederação, governo, militares, estados, casa e comida... tudo. Para sair deste esquema é preciso segurança, algo raro no profissional. Só ganha quando luta — observa Mateus. — A realidade para o brasileiro é complicada, difícil. O boxe continua forte no mundo, mas é fraco no Brasil. Não há mercado no Brasil. As pessoas não acompanham o boxe no país. Nem olímpico e nem profissional. Não há luta na TV, não há cultura. Ganhamos sete medalhas olímpicas em três Jogos Olímpicos e o que mudou?
Bia estreia no Pan contra a mexicana Esmeralda Reyes (60k), no domingo. Caso avance, enfrentará nas quartas de final a costarriquenha Pamela Valdivia. Na semi, poderá encontrar a americana Jajaira Gonzalez, campeã olímpica da juventude em 2014. A brasileira quer chegar em Paris-2024 e encerrar a sua trajetória no boxe olímpico com o ouro.
*A repórter viaja a convite da Panam Sports