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Por O Globo

O atacante Vinícius Júnior, do Real Madrid e da seleção brasileira, se emocionou durante a coletiva desta segunda-feira. Ao ser abordado sobre o racismo, o jogador de 23 anos se mostrou bastante abalado e com uma mescla de sofrimento e resiliência ao tratar do tema. Ele, inclusive, afirmou que está com menos vontade de jogar futebol por conta de tudo que vem sofrendo.

— Eles (repórteres da Espanha) têm que falar menos de tudo que eu faço de errado em campo. Tenho que evoluir, melhorar, claro, mas só tenho 23 anos. É um processo natural, saí novo do Brasil e não aprendi muito. Sigo estudando. Por que os repórteres da Espanha não podem estudar? Não podem ver o que realmente está acontecendo, que cada vez estou mais triste, tenho menos vontade de jogar. Mas vou seguir lutando — disse Vini Jr.

Vini Jr. se emociona na coletiva da seleção brasileira — Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Vini Jr. se emociona na coletiva da seleção brasileira — Foto: Rafael Ribeiro/CBF

O atacante brasileiro, que chegou ao Real Madrid em 2018, afirmou durante a coletiva que pensou em deixar o clube merengue após os ataques racistas, mas disse que, se fizesse este movimento, estaria "dando o que querem aos racistas".

— Pensei em sair, sim. Mas se saio daqui, estou dando o que querem aos racistas. Vou seguir lutando e jogando no melhor do mundo, ganhando títulos e fazendo muitos gols, para que vejam cada vez a minha cara. Sigo evoluindo para isso. Jogar futebol e fazer a alegria das minhas pessoas e de todos que vão ao estádio. Racistas sempre serão minoria. Como sou um jogador atrevido, que joga no Real Madrid e ganhamos muitos títulos, é complicado. Mas vou seguir firme e forte pois presidente me apoia, o clube me apoia, para que eu continue e possa ganhar muitas coisas — exclamou.

Vini Jr. concedeu entrevista coletiva para falar sobre o amistoso da seleção brasileira contra a Espanha, nesta terça-feira, às 17h30 (de Brasília).

Confira outras respostas de Vinícius Júnior:

Por que você acredita ter sido o escolhido para tantos insultos, até quando não joga?

"Acredito que é algo muito triste tudo que venho passando aqui a cada jogo, a cada dia, a cada denúncia minha vem aumentando. Acredito também que eu e todos os negros, não só na Espanha, mas no mundo todo, sofrem no dia a dia. O racismo verbal é minoria perto de tudo que os negros sofrem. Meu pai sempre teve dificuldade de trabalhar por ser negro. Na dúvida, sempre escolhem o branco. Luto por tudo que vem acontecendo comigo. É desgastante, você está meio que sozinho em tudo. Já fiz muitas denúncias e ninguém é punido. Luto pelas pessoas que vão vir e minha família. Se fosse só eu, já teria desistido. Vou triste para casa. Fui escolhido, então estudo mais sobre a cada dia. Meu irmão tem cinco anos e que ele não passe por tudo que estou passando"

De onde vem essa força para lutar?

"Por todas as pessoas que torcem por mim, me acompanham, e me mandam mais mensagens para lutar com eles. Tenho força grande dentro de mim, na família, em casa. Nem todos têm o apoio que eu tenho em casa. Que podem falar por tantas pessoas. Quero seguir por eles, que sabem do que realmente passo e passei. E que é muito difícil"

O que é mais frustrante? Prisões, imagens flagrantes…

"Falta de punições. Se a gente começar a punir todas as pessoas que cometem crime, e aqui não consideram crime, vamos evoluir e vai ficar melhor para todos. Faço muitas denúncias, chegam carta para eu assinar. No fim, acontece como aconteceu com meu amigo em Barcelona e arquivam o processo e não sabem de nada. Se punirmos, não vão mudar o pensamento, mas vão ficar com medo de falar e assim vamos diminuir isso e colocar medo naquelas pessoas. Que possam educar seus filhos. Tem criança me xingando e eu não culpo, eu também não entendia o racismo nessa idade. E isso é muito complicado"

Peso da luta antirracista na sua vida

"No futebol tem muitas pessoas e jogadores melhores que eu que passaram por aqui. Quero que as pessoas evoluam, melhorem, e que possamos ter igualdade no futuro próximo. Menos casos de racismo e que os negros tenham vida normal como todas as outras. Luto por isso. Se fosse por mim, teria desistido e ninguém me xingaria em casa. Vou para o jogo centrado no jogo, nem sempre é possível fazer o melhor para a minha equipe. Preciso me concentrar muito todos os dias. Só quero jogar futebol e fazer o melhor para a minha família"

Melhorou um ano depois do episódio em Valencia?

"A cada denúncia, cada vez mais me insultam. Pensam que estou contra a Espanha, mas não estou. Estou contra todos os racistas do mundo. Estou contra todos eles e quero igualdade. Tive muitos contatos, reuniões, conversas com tantas pessoas que querem fazer a coisa evoluir. Outros que só querem escutar e colocar nada para frente. Todo dia coloco minha cara, quem gosta vai falar bem e vice-versa. Preciso assimilar. Grandes federações e pessoas importantes podem fazer isso junto comigo, mas têm receio. Peço ajuda da Fifa, CBF, Conmebol, Uefa, que podem combater realmente isso. A Liga está evoluindo e tentando melhorar, mas as coisas da Espanha não deixam melhorar. A Liga quer evoluir, mas como o racismo não é crime é complicado. Jogadores me ajudam, falam sobre e agradeço muito. Me dá mais força para lutar"

Se sente escutado?

"Hoje entendo mais sobre o racismo, por isso falo com mais propriedade, venho estudando, vendo o que as pessoas passaram. Mohamed Ali ficou sem lutar por essa causa, para lutar pelos seus, eu estou aqui para falar pelo Brasil, com os brasileiros me sinto mais acolhido, mais tudo, é meu país, onde as pessoas realmente me defendem e posso falar com tranquilidade, pois falo português e posso me expressar melhor. Perguntas são sobre coisas que já aconteceram, não me atacando ou não me dando o direito de resposta."

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