Olimpíadas
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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 26/07/2024 - 04:30

"Os bastidores do boxe brasileiro olímpico: sacrifícios, investimentos e superação"

O sucesso do boxe brasileiro nas Olimpíadas tem um custo alto, marcado por sacrifícios e desafios além do ringue. Esquiva Falcão revela os bastidores, incluindo lutas contra o peso, privações na vila olímpica e a resiliência exigida na rotina de treinos. A confederação investe milhões para manter a estrutura e apoiar os atletas, que enfrentam uma jornada de superação e tenacidade para alcançar a sonhada medalha.

Nas últimas três edições olímpicas (Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio, em 2021), o boxe levou sete brasileiros ao pódio. Só ficou atrás do judô, com duas a mais. Quem olha o número frio, pode pensar que é fácil para a modalidade obter estes resultados. Mas, por trás de cada uma destas conquistas, houve uma luta que vai além da travada nos ringues. Aliás, uma não. Várias.

Esquiva Falcão ainda tem fresco na memória os socos que dava na bananeira no quintal de casa, aos 13 anos. Ou as noites embaixo da arquibancada do estádio de Santo André (SP), antigo dormitório da equipe B da seleção. Assim como do saco de lixo que enrolava no corpo para acelerar a perda de peso antes de cada luta em Londres. Cenas desconhecidas por grande parte do público, que só se recorda de sua prata olímpica, na época o maior feito olímpico do boxe nacional.

— Ser atleta de alto rendimento é abrir mão de muitas coisas. Da família, de tudo que você gostaria de comer, de festas. É saber que sua vida vai mudar com uma medalha e se dedicar a isso — reflete.

Embora esteja longe de ter sido o maior sacrifício de Esquiva, uma situação ilustra as privações. Ao chegar na vila olímpica de Londres, ele recebeu um crachá que lhe dava direito ilimitado a bebidas e comidas. Uma grande tentação contra a qual precisou lutar até o último dia.

O peso é um dos maiores inimigos dos pugilistas. Eles precisam atingir a pesagem da categoria na manhã que antecede cada luta — é comum que o peso natural deles seja maior. Esquiva, que competiu entre os médios (até 76kg) em 2012, tinha 5 quilos a mais.

A partir da chegada na vila, a primeira luta é contra o tempo. Os atletas pulam corda, fazem corridas, precisam suar o máximo possível. Na época de Esquiva, eles ainda usavam, por baixo da roupa, um saco plástico preto, daqueles de lixo, para intensificar o suor. Atualmente, foi substituído por roupas térmicas.

— Se beber uma Coca vai lá e pesa para ver se passou do peso. Somos muito viciados em balança.

Com o peso devidamente batido de manhã, começa outra corrida: recuperar a pesagem perdida em apenas algumas horas para não entrar no ringue fraco. E, vencido o combate, o pugilista recomeça imediatamente todo este ciclo até a próxima luta. Contando a final, são cinco no total. Uma espécie de mito de Sísifo até a sonhada conquista da medalha que afeta o corpo e até o psicológico do atleta.

Esta rotina não é exclusiva dos Jogos Olímpicos. Ocorre em todos os torneios de boxe amador. Mas não é só nas competições que a resiliência é testada. A seleção nacional, hoje formada por 26 homens e mulheres, tem uma rotina que desafia a vontade de seguir a carreira.

Os boxeadores vivem reunidos praticamente o ano inteiro. Quando não estão em Santo Amaro, bairro de São Paulo onde está o CT da confederação de boxe (CBBoxe), estão em viagens internacionais (por competições ou treino). Voltar para casa, só no recesso de dezembro. Durante anos eles formam sua própria família. Nas seis residências alugadas pela entidade, dividem quartos, guarda-roupas e cozinha, dormem em beliches, se apoiam e se desentendem.

— Teve momento em que eu pensei muito em desistir — admite Esquiva.

Se não se rendeu, foi porque já estava calejado pelas outras lutas que encarou antes de chegar à elite do boxe olímpico brasileiro. Ingressar no esporte é uma batalha em si. Não há uma estrutura de captação bem definida como no futebol. Em geral, os atletas ou são descobertos por projetos sociais ou são de famílias de pugilistas. Na equipe que está em Paris, este é o caso de Bia Ferreira (filha de Raimundo Ferreira) e de Luiz “Bolinha” (neto de Servílio Oliveira, primeiro brasileiro medalhista da modalidade, um bronze em 1968).

A trajetória de Esquiva foi uma mistura dos dois caminhos. Antes de entrar para o projeto Todos na luta, do treinador Raff Giglio, no morro do Vidigal, no Rio, e depois ser descoberto pela seleção, foram muitos treinos no quintal com o pai Touro Moreno.

Investimento da CBBoxe

A outra briga por trás das medalhas vem da própria confederação. Embora seja conhecido pela origem pobre dos atletas, o boxe não é exatamente barato. Nos últimos dois anos, a entidade contou com um total de quase R$ 18 milhões para manter esta estrutura. Entre os gastos, estão salários da equipe técnica e de outros profissionais que cuidam dos pugilistas, viagens, inscrições em torneios, alimentação, aluguel das casas e manutenção do CT, que pertence à Prefeitura.

O dinheiro é oriundo da Lei Piva, repassado pelo COB. Já testes e exames são feitos no Núcleo de Alto Rendimento, um centro criado pela iniciativa privada referência em estudos, avaliações e capacitação esportiva.

Os investimentos da CBBoxe nos últimos dois anos — Foto: Editoria de arte / O Globo
Os investimentos da CBBoxe nos últimos dois anos — Foto: Editoria de arte / O Globo

Além da rotina de treinos de segunda a sábado, os atletas ainda passam por um longo período fora do Brasil. As viagens são para participar de torneios ou de training camps acompanhados da equipe técnica. Só no ano passado, foram oito.

— Não adianta colocar todo mundo treinando manhã, tarde e noite sem fazer competições fora do país. O atleta precisa estar sempre lutando entre os melhores. Senão, não terá o mesmo nível de competitividade nos torneios mais importantes — explica Marcos Brito, presidente da CBBoxe.

A entidade também paga bolsas aos pugilistas, que varia de acordo com a experiência e os resultados. Há ainda bolsas estaduais, do Governo Federal e das Forças Armadas. Valores que, somados, podem chegar a algo entre R$ 20 mil e R$ 25 mil mensais. Isso sem contar que os mais badalados, como Bia Ferreira, possuem patrocínios particulares. São rendimentos de uma minoria e que, mesmo assim, tanto quanto as medalhas não são capazes de traduzir o trabalho por trás.

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