Enquanto os atletas de surfe e fãs do esporte comemoraram a escolha de Teahupo'o , no sul doTaiti, para sediar as provas de surfe das Olimpíadas de Paris-2024 , a decisão desagradou moradores, ativistas ambientais e até mesmo surfistas. O motivo é que a torre de jurados construída no local poderia alterar a onda de Teahupo'o e causar um impacto ambiental irreversível ao ecossistema local. No entanto, a mobilização da comunidade local chamou a atenção do Comitê Olímpico Internacional (COI), que buscou soluções para que a competição não precisasse mudar de lugar. No entanto, ainda não é possível saber se a intervenção poderá causar um real impacto no ecossitema de Teahupo’o, em suas suas ondas e para a comunidade local.
- Quadro de medalhas: veja a classificação geral e a situação do Brasil nos Jogos Olímpicos
- O Brasil está demorando mais para ganhar ouro em Paris? Compare com as últimas edições das Olimpíadas
O local já tinha há 20 anos uma torre de madeira que poderia receber os jurados, mas o COI optou pela construção de uma nova estrutura que é de metal, tem 150 metros quadrados, nove toneladas e capacidade para receber até 30 pessoas. Inicialmente, o COI tinha até previsto a construção de um sistema de canos subterrâneos conectando a torre à ilha principal, o que permitiria vasos sanitários e água encanada na torre de juízes, além de um sistema de cabos que forneceria eletricidade à torre e ar condicionado. Foi graças a mobilização de surfistas e moradores e protestos pacíficos que isso não aconteceu.
Um estudo desenvolvido pela Universidade do Havaí, em Hilo, mostrou que a construção da torre poderia impactar diretamente ao menos em 200 metros quadrados do relevo aquático e resultar em um dano financeiro de no mínimo 1,3 milhões de dólares. Além de abalar indiretamente a comunidade local que depende do ecossistema para sobreviver. Em dezembro do ano passado, quando começaram os testes para a construção da torre, uma parte do coral foi danificada e os moradores compartilharam vídeos nas redes sociais mostrando o estrago. Também foi criada a petição on-line “Salve Teahupo’o” para proteger os recifes locais. Nomes como Kelly Slater se posicionaram contra a obra.
A maior polêmica surgiu quando foi informado que seria necessário perfurar o fundo do mar, que é composto por recifes de coral, para a construção da torre. A preocupação era que a intervenção causasse uma mudança na formação da onda, já que seus tubos dependem diretamente dos corais.
A Associação Internacional de Surfe (ISA) fez uma declaração em 19 de dezembro que dizia que não apoiaria a construção da nova torre após os testes que danificaram parte dos corais e sugeriu formas de realizar a competição no local sem danificar o ecossistema. Algumas alternativas sugeridas pela ISA e outras instituições foram: o uso da torre tradicional de madeira e avaliação pelos juízes em solo, usando imagens de drones e barcos.
O COI alterou o projeto inicial, onde a torre teria 200 metros quadrados, 14 toneladas e poderia receber 40 pessoas. Também desistiu da construção dos canos e desenvolveu uma solução temporária para a questão elétrica. Alterou também a rota realizada pelo barco que transportava os materiais de construção.
A torre não é permanente e poderá ser removida e reerguida de acordo com o calendário de futuros eventos. A área escolhida para a construção da torre também tem poucos corais. No entanto, outra preocupação dos moradores era que a construção causasse ciguatera, uma doença que afeta peixes e os torna impróprios para consumo. Fato que já foi observado em ambientes marinhos frágeis que receberam construções.
Ainda não é possível saber o que poderá acontecer em Teahupo'o. A resposta virá apenas com o passar do tempo