Olimpíadas
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Por e — Especial para o GLOBO

RESUMO

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GERADO EM: 04/08/2024 - 04:00

Israel em Paris-2024: Controvérsia Olímpica

A participação de Israel em Paris-2024 causa controvérsia após a Rússia ser banida por invadir a Ucrânia. Protestos questionam por que Israel não sofre punições semelhantes. Atletas israelenses enfrentam críticas e boicotes devido ao envolvimento militar do país, enquanto a presença de países árabes gera tensões políticas no judô. O COI é pressionado a aplicar medidas consistentes diante de violações da trégua olímpica.

Em Atlanta-1996, a Palestina estreou nos Jogos Olímpicos. Após acordos firmados com Israel alguns anos antes, havia um clima de euforia: a paz na região estaria mais próxima do que nunca. O porta-bandeira palestino naquela cerimônia de abertura era o corredor Majed Abu Maraheel. Ele se encontrou com membros da comunidade judaica de Atlanta e disse que competiria “apenas pela paz”.

Corta para 2024, e Abu Maraheel morreu em Gaza por complicações renais. Devido à ofensiva militar de Israel no território palestino, os hospitais locais não têm condições de tratar muitos dos seus pacientes, e ele não pôde ser levado ao Egito porque a passagem de Rafah foi fechada pelos israelenses. A Rússia foi impedida de participar de Paris-2024 pela invasão à Ucrânia, mas muitos protestam: por que Israel não sofre a mesma punição?

Ontem, os israelenses ganharam o primeiro ouro, com Tom Reuveny, que ergueu a bandeira do país comemorando a vitória no windsurf.

O Comitê Olímpico Internacional se inspira em tradições da Grécia Antiga. Uma delas é a trégua olímpica: a ideia de que, antes e durante a Olimpíada, atletas e espectadores devem ter segurança para acompanhar os Jogos. Cidades gregas baixavam as armas quando a disputa estava próxima de começar, permitindo que as pessoas fossem a Olímpia, onde o evento acontecia, e depois voltassem sem riscos.

Na euforia ocidental pós-Guerra Fria, quando o comunismo havia caído no Leste europeu e a paz entre israelenses e palestinos parecia mais próxima, o COI também adotou essa ideia. A trégua olímpica foi resgatada como ideal: cessar as hostilidades entre as nações para que a Olimpíada fosse disputada em clima de paz.

A ONU acolheu a iniciativa e, desde então, sua Assembleia Geral adota resoluções para que os estados-membros respeitem a trégua olímpica a cada dois anos, durante as Olimpíadas de verão e de inverno. Porém, é uma medida não vinculante, não gerando punição obrigatória a quem a descumpre.

A invasão russa à Ucrânia teve início apenas quatro dias depois do encerramento da Olimpíada de Inverno de Pequim-2022 — ou seja, havia uma trégua em vigor, que só acabaria uma semana após o fim dos Jogos Paralímpicos que viriam na sequência. Com esse argumento, o COI puniu Rússia e Belarus por atacar ucranianos.

Mas outros países, como os EUA e a própria Rússia, já tinham violado a trégua antes. O atual banimento russo se deu muito mais por pressão política de autoridades e pressão financeira de patrocinadores do que por quebrar o pacto de paz. Com o início da ofensiva israelense em Gaza, em outubro de 2023, motivada por um ataque prévio do Hamas, o COI foi cobrado para também sancionar Israel. Não o fez. O Comitê Olímpico da Palestina afirma que mais de 400 atletas palestinos já foram mortos no atual conflito.

Na cerimônia de abertura dos Jogos de Paris, uma imagem televisiva revelou o lugar de Israel em um dos barcos do desfile das delegações vazio. Os atletas estavam protegidos por um sistema de segurança, e só na hora de realmente aparecerem na transmissão foram colocados na embarcação.

Não era à toa: dois dias antes, a seleção masculina israelense de futebol fizera sua estreia nos Jogos contra Mali. O hino nacional foi vaiado e um mosaico de protesto apareceu nas arquibancadas: “Palestina Livre”.

Com a revelação de que o porta-bandeira da delegação na abertura, o judoca Peter Paltchik, assinara mísseis que foram lançados em direção a Gaza, o ultraje em relação à participação israelense aumentou. Afinal, se as regras para russos eram tão restritas, como poderia alguém que tão abertamente se envolveu em assuntos de guerra por Israel ter sua participação permitida?

O judô talvez seja o esporte mais forte de Israel. Dos 88 atletas representando o país em Paris, 12 são judocas e três deles conseguiram medalhas individuais. Também é um esporte no qual vários países de maioria muçulmana são relativamente fortes, o que leva a repetidas ocorrências políticas.

Em Tóquio, três anos atrás e portanto antes do atual conflito em Gaza, o argelino Fethi Nourine deveria lutar contra o israelense Tohar Butbul, mas se recusou a entrar no tatame. O COI considerou que sua decisão foi estritamente política, e a Federação Internacional de Judô o baniu por dez anos.

Coincidentemente, em Paris, mais um argelino foi sorteado para enfrentar Butbul na estreia, dessa vez Messaoud Dris. Porém, ele não passou na pesagem oficial na véspera da competição, o que levou à sua desclassificação. Há investigações em andamento sobre a possibilidade dessa falha com o peso ter sido proposital, uma forma de também se recusar a lutar, mas driblando a punição. Para atletas de países que não reconhecem a existência de Israel, enfrentar representantes do país é uma forma de reconhecimento e, portanto, deve ser evitado.

Uma das regras para que um russo possa competir em Paris, sem hino e sem bandeira, é não ter qualquer conexão com o exército da Rússia, o que excluiu muitos atletas de elite que treinavam usando o aparato militar. Se o mesmo fosse aplicado a Israel, muitos judocas não poderiam ir aos Jogos Olímpicos de 2024, incluindo Raz Hershko, derrotada na decisão pela brasileira Beatriz Souza.

* Além da Olimpíada é produzido pela equipe do Copa Além da Copa, um podcast e projeto independente que mistura os assuntos do esporte com política, cultura, história e sociedade

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