Olimpíadas
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Por — Paris

O multiculturalismo francês é um fato observado numa rápida caminhada pelas ruas de Paris. E boa parte dos franceses se orgulha disso — a outra tenta vencer politicamente com um discurso de extrema direita e antimigratório. Mas é se afastando dos principais pontos turísticos da cidade que bairros inteiros ganham cheiros, sabores e sons de várias partes do mundo.

A Rue de Belleville, que fica no bairro homônimo, é uma pequena extensão de países do continente africano. A feira livre local, que ocupa uma boa extensão da avenida, pode ser facilmente confundida com um mercado marroquino ou argelino, reunindo senhoras de hijab e abaya, homens com túnicas coloridas e feirantes anunciando seus produtos num misto de francês e línguas árabes.

Ali, era possível comer um tradicional mhajeb argelino (espécie de crepe de sêmola recheado com legumes e especiarias), comprar tâmaras, cuscuz marroquinho, todos os famosos temperos árabes e uma variedade de frutas. E mais o que quisesse: de bolsas e roupas a partir de 3 euros até produtos de limpeza e de higiene a preços bem mais em conta do que nos mercados.

O comércio local também mantém traços da imigração da região do Magreb (região do noroeste da África formado por Argélia, Marrocos e Tunísia). Boucheries, patisseries e cafés com referências aos nomes dos países e sua comida típica, no entanto, dividem espaço com estabelecimentos orientais e vias descoladas com galerias de arte.

A região já teve uma ocupação maior de imigrantes dessa região. Hoje, eles se dividem de acordo com as condições sociais. Quem migrou há mais tempo ocupa os bairros com menos infraestrutura e a periferia. Os jovens estudantes estão em áreas mais centrais.

Dos cerca de 68 milhões de franceses, os argelinos e a segunda geração (os que já nasceram na França) são em torno de 1,7 milhão. Os marroquinos e a segunda geração chegam a 1,5 milhão e os tunisianos são 800 mil. Um pouco menos de 6% da população total.

— Marroquinos, argelinos e tunisianos, principalmente, começaram a migrar em maior número para a França a partir dos estabelecimentos das administrações coloniais, no fim do século XIX. Aumentaram quando os soldados das regiões ocupadas pela França foram arregimentados para lutar na Primeira e na Segunda Guerras e depois desta última, muito foram atraídos para trabalhar nas obras civis de reconstrução do pós-guerra. Parte do esforço do general de Charles de Gaulle para manter as colônias ligadas à França e garantir reconstrução financeira da metrópole foi estender cidadania francesa e garantir a presença de deputados representando as várias colônias na Assembleia Nacional — explica Alexandre dos Santos, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio e um dos coordenadores do Lepecad (Laboratório de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares sobre o Continente Africano e as Afro-diásporas).

Mas apenas 132 atletas desses países estão em Paris para representar Marrocos (60), Argélia (46) e Tunísia (26). Alguns deles, inclusive, nascidos na França, como a ginasta Kaylia Nemour, campeã mundial das barras assimétricas e que ganhou o ouro nas barras assimétricas ontem. Apesar da escolha por problemas com a confederação, foi uma das mais aplaudidas durante as provas na Arena Bercy.

Fora das arenas, como na Rue de Belleville, a vida segue como se não houvesse Jogos Olímpicos na capital francesa para os imigrantes. A não ser que o evento do dia seja o futebol. Na última sexta-feira, os marroquinos transformaram os arredores e o estádio Parque dos Príncipes em uma filial de Casablanca e Rabat. Eram as quartas de final contra os Estados Unidos, vencida por 4 a 0, e com um dos gols marcados por Hakimi, ídolo marroquino que joga no Paris Saint-Germain.

Os gritos de Magreb ecoavam pelo estádio, onde fizeram uma festa ensurdecedora com direito à torcida organizada e sinalizadores nas cores da bandeira, ignorando os pedidos da organização no telão do Parque dos Príncipes. A comemoração se estendeu pela cidade e até a noite era possível encontrar marroquinos enrolados na bandeira — muitos, inclusive, vieram de outras cidades para acompanhar o time.

Nesta segunda-feira, eles tentam superar o feito de há dois anos no Mundial do Catar, quando ficaram com o quarto lugar. A seleção enfrenta a Espanha, pelas semifinais do torneio masculino, em Marselha, às 13h. Mais uma vez a cidade vai se ver lotada de camisas vermelhas com a estrela verde pelas ruas.

—Foi incrível poder ver o jogo do Marrocos aqui na França. Foi muito difícil conseguir ingresso, mas conseguimos no fim. É o meu primeiro jogo num estádio de futebol, e logo aqui — disse a estudante de marketing Hind Mellas, de 26 anos, que vive em Paris há três.

Há dez anos em Paris, o marroquino Yassine Boussouis, de 32 anos, conta que o futebol é o principal esporte a atrair tantos compatriotas em um único lugar em competições na França ou em qualquer lugar. Ele acompanhou a seleção na Copa da Rússia, em 2018, e na Copa da África, na Costa do Marfim, este ano.

— Cada vez que a seleção marroquina joga na França ou na Europa, de maneira geral, a torcida costuma estar presente por três razões: existem muitos marroquinos na Europa, a seleção é um orgulho nacional, e a cultura de torcer para o time é muito presente no Marrocos — analisa o engenheiro de cibersegurança.

É um jeito de Boussouis se sentir em casa. Ele ainda vai ver o medalhista de ouro em Tóquio-2020 Soufiane El Bakkali nos 3000 metros com obstáculos, que faz as eliminatórias amanhã no Stade de France.

— Estou há 10 anos morando aqui, mas nunca me senti francês, e nunca me senti bem-vindo. O preconceito hoje em dia é muito presente.

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