Rodrigo Capelo
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GERADO EM: 09/09/2024 - 04:20

Importância do Fair Play Financeiro no Futebol Brasileiro

O fair play financeiro no futebol é crucial. Comparando a postura do Cuiabá e Corinthians, destaca-se a importância de salários em dia, impostos recolhidos e dívidas honradas. A Uefa e a LaLiga têm regras preventivas, mas no Brasil, o clubismo atrapalha o debate. Investimentos e dívidas são aceitáveis desde que as obrigações sejam cumpridas, visando a saúde financeira da indústria esportiva. A integridade e o respeito são fundamentais, evitando vantagens desleais e prejuízos a clubes cumpridores.

Um jogador do time A parece se machucar e cai no gramado. Em vez de o time B aproveitar a superioridade numérica para atacar e fazer o gol, põe a bola para fora de jogo e aguarda atendimento médico. Isto é fair play. Todo mundo assimilou a ideia — os atletas, o narrador e a arquibancada —, e todo mundo se espanta quando alguém tenta sacanear o adversário numa cena assim. Quem dera se já estivéssemos nesse grau de maturidade em relação ao financeiro.

Vejamos agora situação prática do Campeonato Brasileiro. O Cuiabá está na zona de rebaixamento, com salários e impostos em dia, endividamento sob controle, sem deixar de pagar suas obrigações em relação a outros clubes e entidades do esporte. O Corinthians também está ameaçado pelo descenso, à frente do Cuiabá. Este não recolhe impostos com rigor há mais de década, empurra dívidas públicas e privadas e aplica calotes sistemáticos.

A diferença entre o Cuiabá e o Corinthians é que, enquanto o clube mato-grossense se vira com o elenco que montou, o paulista foi buscar Memphis Depay e vai supostamente gastar mais de R$ 70 milhões entre salários, luvas e bonificações. Fora a disparidade em geral. Em 2023, a folha corintiana foi de R$ 309 milhões. A cuiabana, de R$ 85 milhões. Um dos clubes está caído no gramado, machucado, e o outro está tentando tirar vantagem da situação. Não há fair play.

Como é que se resolve? Ou com um sistema corretivo, como faz a Uefa em toda a Europa, ou com um sistema preventivo, como faz a LaLiga na Espanha. A confederação criou um conjunto de regras que os clubes precisam cumprir toda temporada: não pode ter tanto de prejuízo, não pode deixar a dívida passar de tal ponto, etc e tal. Feriu a regra, toma advertência. Quebrou de novo, fica sem contratar ou até é rebaixado. Já a liga espanhola limita antes de dar problema.

O problema é que, do lado de cá do oceano, não se tira a camisa para argumentar sobre temas dessa natureza. Há flamenguista incomodado com os gastos de John Textor no Botafogo, por exemplo, que se prende a “não pode gastar mais do que arrecada”. Calma lá. Salários estão em dia? Impostos são recolhidos? Acordos por compras de atletas são honrados? Credores são pagos? Se as respostas forem positivas, não é errado haver ciclos de investimentos e dívidas.

E é por meter clubismo em tudo, que não se ouve nem quem fala sério. A essa altura, há corintiano que desistiu da leitura por causa da crítica feita três parágrafos atrás. “Ele só diz isto porque o Corinthians recusou a Globo!”. Pois cito o clube do Parque São Jorge por ser talvez o exemplo mais gritante da atualidade, mas não o único. Fluminense, Internacional, Vasco, Cruzeiro, Santos. Todos esses na última década prejudicaram rivais que honram suas contas.

É melhor voltar ao básico, para que a gente não se perca nas picuinhas do meio do caminho. Fair play financeiro não existe para equilibrar o campeonato, e sim para tornar a indústria mais saudável. Clube que vende jogador precisa receber em dia, atleta que recebe promessa de salário deve ter o contracheque em ordem, e assim por diante. Lá no fim da linha, também é uma questão de integridade. Sacanear um adversário em desvantagem é uma grande covardia.

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