Tatiana Furtado
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Tatiana Furtado
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Tatiana Furtado

Formada em jornalismo pela Uerj, trabalha no GLOBO desde 2004. Há 15 anos, atua no jornalismo esportivo, tendo participado da cobertura de três Copas do Mundo.

Grandes conquistas tendem a ser vasculhadas em seus mínimos detalhes a fim de se traçar a trajetória do sucesso. E esses roteiros serão imitados por muitos em busca de glória semelhante. Mas o futebol mostra que não há scripts preestabelecidos que resultem no mesmo final. Vimos isso acontecer em 2022, no Catar, e agora, na Austrália.

Lá no Oriente Médio, um time liderado por um técnico jovem e desconhecido, bancado pela federação local após medalhões não darem certo, chegou com uma missão que parecia impossível. Montar uma seleção competitiva que jogasse a favor do talento de Lionel Messi. O grupo comprou a ideia de Lionel Scaloni, e os jovens companheiros — e fãs — do camisa 10 da Argentina jogaram por ele. E ele, por todo um país.

O final do enredo todo mundo sabe. Virou História. A seleção argentina, que quase foi eliminada na primeira fase, conquistou o título mundial diante da favoritaça França de Mbappé e Deschamps, que tentava o bicampeonato com a base que venceu o Mundial da Rússia. As imagens catárticas de jogadores e comissão técnica entre prantos e abraços correram o mundo. Ali estavam estampados união de grupo, amizade sincera e companheirismo.

Corre o filme para julho/agosto de 2023, em terras australianas e neozelandesas. Uma seleção de extremo talento, que conta com a melhor jogadora do mundo nas duas últimas temporadas, embora vindo de uma longa recuperação de cirurgia de joelho, e que chega ao Mundial com algum status de favorita ao título inédito. Porém, um pouco atrás de seleções como Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo.

Um dos motivos para não figurar na primeira prateleira foi o racha com a comissão técnica. Menos de um ano antes do Mundial, 15 jogadoras pediram dispensa da seleção espanhola por divergirem do técnico Jorge Vilda. Alegavam, inclusive, que a divergência estava interferindo na saúde mental e no jogo tecnicamente. Do grupo dissidente, apenas três foram convocadas para a Copa do Mundo (as jogadoras do Barcelona Mariona, Batle e Bonmatí, eleita a melhor do torneio), e o treinador teve garantias de Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).

Foi nesse ambiente desunido, com comemorações visivelmente apartadas a cada gol e vitória — as jogadoras festejavam entre si, enquanto Vilda celebrava com sua comissão técnica — que a Espanha chegou até a final. Houve um senhor tropeço no caminho (uma goleada de 4 a 0 para o Japão na fase de grupos), antes do confronto com as atuais campeãs europeias, comandadas pela melhor técnica do mundo, Sarina Wiegman.

As diferenças, no entanto, não impediram que as jogadoras aceitassem as determinações do treinador dentro de campo. Com o talento de cada uma unido a mudanças táticas, o resultado foi a larga superioridade na final em Sydney. Na festa do título, Rubiales tentou mostrar uma união forçada e exagerada — o beijo na boca dado em Hermoso não foi bem aceito pela jogadora — com carinhos excessivos.

De um jeito ou de outro, ambas as seleções, argentina e espanhola, além de suas torcidas, puderam soltar o grito de campeãs. Afinal, não há receita de bolo pronta que faça um time de futebol vencedor.

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