Fato ou Fake

É #FAKE que virologista do Einstein fez áudio criticando vacina contra Covid-19

Não há nenhum Roberto Klaus trabalhando no hospital. Também não consta do cadastro do Conselho Federal de Medicina qualquer médico com esse nome. Além disso, o Instituto Butantan rebate as alegações a respeito da Coronavac contidas na mensagem
É #FAKE que virologista do Einstein fez áudio criticando vacina contra Covid-19 Foto: Reprodução
É #FAKE que virologista do Einstein fez áudio criticando vacina contra Covid-19 Foto: Reprodução

Circula pelas redes sociais um áudio em que um homem faz diversas alegações a respeito da vacina Coronavac. Uma legenda que o acompanha nos aplicativos de mensagem diz que o autor do áudio é Roberto Klaus, médico virologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. É #FAKE.

O Hospital Albert Einstein informa que tal pessoa não faz parte de seu corpo clínico. O nome também não é encontrado no cadastro do Conselho Federal de Medicina (CFM).

No áudio, o homem diz que a vacina não foi avaliada em pessoas acima de 59 anos. O áudio faz referência a uma experiência de uma pessoa idosa que recebeu a vacina, fez o teste posteriormente e não obteve certeza de que estava protegida.

A assessoria do Butantan, porém, afirma que "a vacina se mostrou segura e eficaz, com indicação de uso para toda a população adulta, incluindo os idosos".

"O conjunto de dados obtidos nos testes clínicos de fase 3 realizados no Brasil com 12,5 mil voluntários, sob coordenação do Butantan, confirmam que a resposta imunológica e a segurança da vacina no grupo de maiores de 60 anos são semelhantes à verificada no grupo de 18-59 anos, o que sustenta a extensão de indicação de uso do imunizante em idosos, prevista em bula e aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)", diz a nota.

Além de ser aprovada pela Anvisa , a Coronavac entrou para a lista de imunizantes de uso emergencial da Organização Mundial de Saúde, com recomendação de uso de 18 anos ou mais.

O Butantan destaca ainda que, segundo o artigo “ Estimativa do impacto inicial da imunização contra Covid-19 em mortes entre idosos no Brasil ", a escalada da vacinação entre idosos no país está associada a uma queda considerável na mortalidade desse público na comparação com pessoas mais jovens.

Uma nota técnica divulgada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) deixa claro, segundo o Butantan, que não devem ser feitos testes após a imunização, já que não existe nenhum teste que esteja correlacionado com proteção individual para nenhuma das vacinas de Covid-19. O instituto reforça que a vacinação é uma estratégia de saúde coletiva, e não somente individual.

O áudio também afirma que as vacinas mexem com o código genético de quem as recebe, uma informação falsa, já desmentida em checagens anteriores feitas pelo Fato ou Fake. Outra alegação falsa contida no áudio é a de que as pessoas devem optar por medicamentos sem comprovação científica para prevenir ou tratar a Covid, afirmação também já desmentida por autoridades de saúde.

O epidemiologista Paulo Petry, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirma: "De uma maneira geral, o áudio chega a dar nojo porque ele desestimula a vacinação e preconiza um tratamento totalmente ineficaz".

Segundo ele, "50% de proteção não quer dizer que metade das pessoas vai pegar o vírus e a outra metade, não".

"Nós podemos começar com a proteção da vacina da Coronavac, que é um pouco mais de 50% e ele faz um um cálculo errado dizendo que uma vacina que confira uma proteção de 50% quer dizer que 50% das pessoas vacinadas terão a doença. É um erro sutil, mas é um erro matemático importante. Isso não é verdade. Na realidade, quer dizer que todas as pessoas vacinadas têm 50% de chance de não contrair o vírus. E não que 50% estarão livres da doença e os outros 50% adoecerão. Não é assim. Todas as pessoas, repito, têm mais de 50% de proteção", diz.

"Quanto a internações, ou seja, o agravamento da doença e a mortalidade, a proteção sobe para praticamente 100%. Isso ele não menciona."

"As vacinas são seguras. A segurança é testada nas fases pré-clínicas, de ensaios randomizados, que são estudos experimentais, epidemiológicos, muito bem feitos, muito controlados. Então, elas são seguras, sim. E a Coronavac, especialmente, foi testada em pessoas acima de 59 anos. Os efeitos colaterais, se existirem, são brandos, na grande maioria são sintomas leves, mas eles acontecem num período de no máximo 7 dias a, extrapolando, 14 dias. Não há estudos longitudinais para buscar efeitos colaterais depois desse período. Então, é evidente que elas são seguras", atesta o professor.

"Ao falar de eficácia, ele fala em eficiência - o que é um erro", pontua o especialista. "A eficiência é quando se analisa em termos coletivos a vacinação e eficácia é individual. Então, ali há um outro erro."

Outro erro da mensagem diz respeito à testagem após a vacina. "Acho que um erro também grave é a não detecção de anticorpos pós-vacina por um teste rápido. Esses testes rápidos não foram produzidos para testar efeitos das vacinas, e sim para testar as infecções virais, o que é diferente. Então eles não detectam anticorpos na grande maioria das vezes, oriundos de pessoas vacinadas e, sim, de pessoas que adoeceram. Esses testes são feitos para testar em populações a circulação do vírus, mas eles têm muito baixa sensibilidade, ou seja, eles dão muitos resultados falsos negativos. Então a pessoa provavelmente tem os anticorpos proporcionados pela vacina e o teste não vai conseguir detectar. Esses testes só buscam um tipo de anticorpo produzido pelo organismo, mas não outros componentes que muitas vezes são importantes e produzidos pelas vacinas, que são as células de memória, que são despertadas pela vacina e que 'simulam', 'enganam' o organismo, como se ele estivesse sendo atacado e aí ele produz essas células de memória, que são defesa também do próprio organismo. Além dos linfócitos T, que também são células de defesa e não são detectados pelo teste. Então, tem aí outra falácia, outra falsidade."

As vacinas genéticas também não aumentam o vírus e não alteram o DNA, diz o professor.

"Essas vacinas genéticas não alteram o DNA. Elas são vacinas realmente estudadas em tempo recorde. Ele cita a da caxumba, que foi desenvolvida em quatro anos, mas nós estamos falando de 1966, ou seja, de 1966 para cá, quanta coisa mudou? A tecnologia avançou. Então, de fato, as vacinas para Covid foram estudadas em tempo recorde, até pela pressão no sistema de saúde mundial, mas elas não alteram o DNA. Essas vacinas da Pfizer e da Moderna, que são as genéticas, elas usam uma tecnologia que já tem dez anos e estava sendo estudada para outras doenças, mas que foram adaptadas. Elas usam o RNA mensageiro, que não se mantém na célula por muito tempo e principalmente não invade o núcleo da célula. Ou seja, não tem como alterar o código genético jamais."

Para finalizar, Petry rechaça totalmente o tal 'kit Covid'. "Há um absurdo final que é a questão do tratamento precoce, esse kit que se alardeou. É óbvio que não há nenhum tratamento precoce com evidência científica. Num primeiro momento pareceu promissor. Um médico francês que escreveu o primeiro estudo falando de ivermectina, cloroquina, enfim, e que terminou se retratando, admitindo que se entusiasmou e que lamentavelmente não existe essa proteção."