A turnê global de Taylor Swift, Eras Tour, é um dos principais eventos musicais do ano, atraindo públicos recorde e fazendo manchetes em todo o mundo desde que iniciou em março, na cidade de Glendale, Arizona. A demanda fanática fez com que a busca pelos ingressos se tornasse notoriamente difícil, para não dizer praticamente impossível. Porém, desde sexta-feira passada, com o lançamento do filme "Taylor Swift: The Eras Tour", os Swifties — como são chamados os fãs da cantora — ganharam uma forma mais acessível de ter um vislumbre do fenômeno ao vivo.
Filmado em agosto de 2022, ao longo de três noites, no estádio SoFi em Inglewood, Califórnia, e com direção de Sam Wrench, "The Eras Tour", como a maioria dos filmes de turnês, busca capturar um pouco da mágica de ver a artista ao vivo.
— A principal coisa que estamos tentando fazer é dar à audiência o melhor lugar da casa - disse John Ross, o mixer de regravação de "The Eras Tour" e veterano na produção de filmes de turnê de sucesso, como o Justin Timberlake + The Tennessee Kids. — Se você quer ir a um show e ficar com o melhor lugar, esse é o meu trabalho.
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Mas capturar uma performance ao vivo não é algo que pode ser feito de forma tão direta, simplesmente posicionando câmeras e microfones para gravar o que está acontecendo no palco. As demandas de um filme são incrivelmente complicadas, e reproduzir na tela de forma fiel o visual e o som de um show é uma tarefa árdua para os produtores e suas equipes.
— A ideia em si de filmar um show é uma ideia ruim - disse Jonas Akerlund, um diretor de filmes e clipes musicais, que foi responsável por "On the Run Tour: Beyoncé and Jay-Z Live" e "Taylor Swift: The 1989 World Tour Live".
Ele explica:
— [O filme] nunca vai ser tão bom quanto a experiência ao vivo. Isso é basicamente como tentar gravar fogos de artifício: todo mundo sabe que ver ao vivo não é a mesma coisa que ver na TV.
Mas Arkelund adiciona que um filme de turnê pode ter seu valor quando visto como cinema, sem competir com o ao vivo. O segredo para transformar o show em cinema, ele disse, é ter o tempo e os meios para gravar como se fosse um filme de fato.
Na prática, isso significa contratar pelo menos 40 operadores de câmera, gravar ao longo de várias noites, utilizar drones, Spidercams e GoPros, e deixar separado um dia para um ensaio, que é quando a artista toca sem plateia para fazer gravações extra, como cenas de perto que não teriam sido possíveis durante o show.
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Depois, todas as cenas gravadas são unidas em uma sala de edição, "com a precisão de um clipe de quatro minutos" para criar a ilusão de que o que você está vendo aconteceu em tempo real.
Essas edições são comuns e, segundo os próprios diretores de filme, necessárias. Quando Jon M. Chu, de "Crazy Rich Asians", fez "Justin Bieber: Never Say Never", ele filmou o show e o público em noites diferentes, e então juntou as filmagens na edição porque, paradoxalmente, isso fez com que a reação do público parecesse mais autêntica.
— Eu sempre amo filmes de turnê que passam a sensação de que o público realmente está ali — disse.
Mas, por causa das câmeras, do equipamento de gravação de som e da luz, "as plateias não reagem tanto" quanto reagiriam em uma noite comum. "Você tenta emular a sensação", ele explica.
Uma das coisas mais surpreendentes na produção de filmes de shows é o quanto eles tendem a ser emulados em vez de simplesmente gravados. O som do ao vivo não pode ser gravado de forma crua: "uma simples gravação do show seria inútil", disse Ross. No lugar disso, dúzias de microfones gravam os vocais, os instrumentos e a plateia em trilhas diferentes, e um mixador de regravação cuidadosamente mescla todas elas, adicionando os efeitos de reverb e eco para simular o som do lugar.
Mixadores como Jake Davis e seu pai, Tom Davis, que fundou a produtora de áudio SeisMic, do Tennessee, têm muito controle do som nos filmes-concerto, e fazer ajustes sonoros é boa parte do seu trabalho.
Alguns desses ajustes são apenas pequenos refinamentos no som, enquanto outros são mais como correções para fazer com que o sonoro do filme tenha mais a ver com o que a artista.
— Quando você grava algo em um DVD ou no streaming ou seja no que for, quando está na versão final, isso vive para sempre — disse Tom Davis. — Nunca vai embora. Então, é por isso que você quer que seja o melhor que puder ser.
Mixadores de som conseguem mesclar partes de uma música gravada em uma noite com partes gravadas em outra noite para criar a melhor versão. Eles podem ajustar uma nota errada em um solo de guitarra manipulando o som na pós produção, ou também podem pedir para o artista regravar uma nota vocal fraca no estúdio, colocando em camadas na edição para que soe como se tivesse sido gravado ao vivo.
— A gente copia, recorta e cola, como você faz em programas para escrever textos — explicou Davis. — Se o artista cantou uma nota errada no primeiro refrão, mas acertou a mesma no segundo refrão, a gente consegue cortar e copiar.
Muito embora os mixadores de som gravem a plateia com uma série de microfones escondidos pelo estádio, é possível — e, na verdade, comum — exagerar o som do público para artificialmente dar a ele um impulso a mais.
— Isso é meio que um segredo sujo — disse Tom Davis — Mas o som real da plateia é fraco. Não é suficiente. Você acaba adicionando algo, aumentando. Tem um quê de psicológico quando ouvimos outras pessoas se divertindo e reagindo a isso. É como as trilhas de risada nas sitcoms (séries de comédia).
Apesar desse alto nível de dificuldade, o trabalho dos cineastas e engenheiros de som é bastante ingrato. Os melhores filmes-concerto parecerão, para o espectador que desconhece todo esse processo, nada mais do que shows gravados — a produção do filme em si fica invisível.
— O objetivo é fazer com que as pessoas não pensem que [o filme] foi modificado ou é diferente de como foi ao vivo — disse Davis — Você quer que o público seja imerso na experiência e aceite que aquilo está acontecendo à sua frente, como se estivessem lá.