A escolha de Cristiano Zanin por Luiz Inácio Lula da Silva para ministro do Supremo Tribunal Federal para ocupar o lugar deixado por Ricardo Lewandowski já desencadeou uma disputa nos bastidores pela vaga que ainda será aberta com a aposentadoria de Rosa Weber, em setembro.
Mas apesar de o presidente da República não ter dado ainda pistas sobre quem é seu favorito, os interlocutores com quem Lula falou nos últimos dias sobre o assunto saíram dessas conversas com uma certeza: a pressão para que ele escolha uma mulher não deve surtir nenhum efeito.
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"Ele não está nem um pouco preocupado com isso", contou um ministro com quem Lula falou sobre suas escolhas para o STF e sobre os erros que julga ter cometido no passado. "E deixou isso claro do jeito dele", completou esse ministro.
Entre esses erros, na opinião do presidente, está o de ter cedido a pressão de grupos políticos e lobbies variados – como o do grupo do ministro Marcio Thomaz Bastos, que ocupou a pasta da Justiça no primeiro mandato de Lula, e ainda de mulheres e negros. Uma das nomeações feitas por Lula em seu mandato foi o de Carmem Lúcia, que no churrasco realizado no Palácio do Alvorada o presidente inclui no rol de "erros" cometidos por ele no passado.
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Lula acha que o fato de terem sido escolhidos por esses critérios fez com que esses ministros tomassem, tempos depois, decisões que o prejudicaram – como por exemplo a execução da pena em segunda instância, que permitiu a sua prisão em 2018. Na época, foram a favora própria Carmem, Dias Toffoli, Luiz Fux, Gilmar Mendes – além de Teori Zavascki, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, indicados por Dilma Rousseff.
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No churrasco, Lula chegou a falar que não pretendia mais nomear ministros com base política própria e mais de uma vez disse que só nomearia alguém para quem ele pudesse telefonar diretamente.
A pressão pela nomeação de uma mulher para a vaga de Rosa Weber inclui a própria ministra, que já se manifestou abertamente a favor. Entre as possíveis candidatas estão a desembargadora Simone Schreiber, crítica da Lava Jato, e a advogada Vera Lúcia Santana.
Como já sabem que o presidente não deve ceder a essa pressão, os aliados de Lula já discutem formas de "compensar" a lacuna no STF com indicações para os tribunais regionais federais e outras cortes -- o que obviamente não deve resolver o problema, uma vez que são cargos de importancia muito diferente.
Lula também já não cedeu à pressão para nomear mulheres para o TSE, no início do mês. Preferiu nomear os dois candidatos indicados pelo presidente da corte eleitoral e ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
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Entre os homens que concorrem informalmente à vaga estão o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, ligado ao MDB do Senado, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Luis Felipe Salomão, candidato do ministro do STF Alexandre de Moraes, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Nenhum deles é tão íntimo de Lula como Cristiano Zanin, mas os três acham que tem chance. Até porque eles também já entenderam que ser mulher não será um requisito para a vaga de Rosa Weber.