Não são só os petistas que estão em polvorosa com a possibilidade de que Lula escolha o atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, para assumir o lugar de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF).
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Os bolsonaristas também estão atentos aos movimentos do presidente da República e prometem “infernizar” a vida de Dino caso seja ele o indicado para o cargo, que estará vago a partir da próxima semana, com a aposentadoria da ministra.
Nos últimos dias, Dino ganhou força e o status de favorito nos bastidores de Brasília, alavancado pelo apoio dos ministros do Supremo Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.
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“É preocupante a possibilidade de ele (Lula) indicar Flávio Dino para a próxima vaga do Supremo Tribunal Federal", disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à equipe da coluna. “Uma pessoa que persegue a política, que usa o aparato público, usa a Polícia Federal para direcionar investigações, para ter acesso a informações privilegiadas de inquéritos sigilosos”.
O filho 01 de Jair Bolsonaro diz que, se for Dino o indicado por Lula, os bolsonaristas vão se mobilizar nas redes sociais e no Senado para tentar barrar a sua nomeação.
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“É um perigo botar no Supremo alguém que vai simplesmente perseguir a política e os políticos que ele não goste.”
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Flávio e outros aliados de Jair Bolsonaro atribuem ao ministro da Justiça o avanço de investigações da Polícia Federal como a das joias sauditas, a falsificação na carteira de vacinação e a confecção de uma minuta golpista que previa impedir a posse de Lula.
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Ironicamente, é a mesma acusação que pesa contra Bolsonaro, alvo de inquérito no Supremo que trata justamente da interferência indevida do então presidente da República na PF para obter acesso a relatórios de inteligência e informações sigilosas envolvendo investigações em curso.
Dino insiste que a “investigação é técnica, séria, isenta” e sem “nenhum tipo de interferência externa”, mas a postura enfática em defesa do governo e a ironia com que trata adversários em audiências públicas e entrevistas irrita os bolsonaristas.
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“Tenho a convicção de que Dino não passa no Senado”, diz Flávio Bolsonaro, num evidente exagero retórico.
A última vez que a Casa reprovou uma indicação do presidente da República para o Supremo foi em 1894, no turbulento governo do marechal Floriano Peixoto.
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E Dino, além de ministro, também foi eleito senador, e conta com o apoio da base governista, que soma hoje 55 parlamentares.
Para ser nomeado para uma vaga do Supremo, é preciso que o indicado pelo presidente da República tenha o apoio de pelo menos 41 dos 81 senadores, que votam no plenário, após a sabatina do candidato na Comissão de Constituição e Justiça.
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Os principais adversários de Dino na corrida pelo STF são o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, que conta com lobby de setores do PT, e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas.
Bruno Dantas e Jorge Messias enfrentam menor rejeição entre os bolsonaristas por diferentes motivos: o presidente do TCU possui bom trânsito na comunidade política, enquanto que o chefe da AGU é da Igreja Batista e conta com o apoio de expoentes da bancada evangélica, como o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP).
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Mas, apesar da probabilidade de Dino ser barrado ser mínima, não dá para garantir que a ameaça de Flávio Bolsonaro será inócua. Isso porque a bancada bolsonarista já mostrou seu poder para travar indicações feitas pelo presidente da República.
A indicação de Igor Roque para a chefia da Defensoria Pública da União (DPU), por exemplo, está desde maio esperando para ser votada no plenário do Senado.
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Conforme informou a equipe da coluna, a ala conservadora do Senado decidiu dar o troco no governo Lula, que antes mesmo da posse conseguiu barrar a sabatina do candidato escolhido por Bolsonaro para o cargo.
Alegando que Roque defende os “direitos sexuais e reprodutivos da mulher” e o “acesso ao aborto legal”, eles desmarcaram a votação prevista para o plenário, e o nome do defensor ainda está sob risco de ser rejeitado.
Agora, o próximo alvo dos bolsonaristas se chama Flávio Dino.