Irritados com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), com quem negociam a formação de uma chapa na eleição municipal do ano que vem, aliados de Jair Bolsonaro têm feito uma ameaça e reconhecido um dilema nas reuniões fechadas para discutir o cenário político da capital paulista.
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A ameaça tem a ver com o fato de que, desde que Bolsonaro e Nunes passaram a discutir uma aliança, o prefeito vem tentando manter uma "distância segura" do ex-presidente, e hesita em fazer gestos de identificação com o eleitor de extrema direita. Para os aliados do ex-ocupante do Palácio do Planalto, "o casamento está enfraquecendo".
Bolsonaro e seu núcleo mais próximo, que por ora atribuem a atitude de Nunes aos "maus conselheiros e maus assessores" do prefeito, consideram lançar um candidato alternativo na eleição, bolsonarista raiz, mesmo que não seja tão competitivo.
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"A gente sabe que ele está tentando nos encurralar e nos deixar esperando porque acredita que o eleitor bolsonarista não vai ter alternativa a não ser votar nele mesmo. Mas se ele continuar nos tratando com indiferença, podemos indicar um dos nossos", diz um integrante do núcleo duro do bolsonarismo em São Paulo.
Deputados do partido de Bolsonaro em encontros com ministros de Lula
O dilema decorre justamente desse mesmo raciocínio: se o bolsonarismo decidir bancar um candidato próprio mesmo sem ter chance na eleição, pode acabar entregando a vitória a Guilherme Boulos (PSOL), que está na frente nas pesquisas.
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Os aliados do ex-presidente sabem que não têm nenhum quadro realmente capaz de ameaçar a esquerda em São Paulo. Entre os que vem sendo citados nas conversas reservadas do bolsonarismo estão o deputado estadual Gil Diniz (PL) e a secretária de Políticas para Mulher do governo Tarcísio de Freitas, Sonaira Fernandes (Republicanos).
O deputado federal Ricardo Salles (PL), que pleiteia a candidatura, é tido como inviável tanto por Bolsonaro como por Valdemar Costa Neto, o presidente do PL.
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Por enquanto, Nunes segue empurrando a aliança com a barriga, ora se afastando de Bolsonaro, ora fazendo algum gesto de aproximação. Seus aliados mais próximos garantem que, ao contrário do que dizem os bolsonaristas, não existe ainda um compromisso de entregar a vice-prefeitura ao PL.
De acordo com os relatos dos bolsonaristas, o plano original no entorno do ex-presidente era promover encontros e fazer fotos e vídeos para as redes sociais com figuras da direita local, como deputados estaduais, vereadores e influenciadores. Mas estão tendo dificuldades de conseguir espaço na agenda do prefeito.
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Da última vez que os dois se encontraram, na segunda-feira (16), para uma solenidade do aniversário da Rota, da polícia paulista, tanto o prefeito como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) chegaram atrasados, vindos de um evento na Fiesp – para o qual não convidaram Bolsonaro. Depois, foram almoçar na prefeitura, e Bolsonaro foi para o mercado municipal
"Falta leitura de rua ao prefeito", diz um aliado do presidente.
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Mas apesar das queixas e ameaças, os mais realistas admitem que nada será definido agora. Enquanto isso, vão fazendo pressão sobre Nunes enquanto tentam encontrar um plano B.