Na véspera de uma viagem de Arthur Lira (PP-AL) para a China, a Câmara dos Deputados “desapareceu” com a criação da Frente Parlamentar Brasil-Taiwan, que já havia sido instalada por determinação do próprio Lira.
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O presidente da Câmara está em Nova Delhi, capital da Índia, de onde seguirá para a China no domingo (15), para se reunir com políticos e empresários para tratar de investimentos no Brasil.
Em 1945, a China tomou a ilha de Taiwan do Japão, após a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial. Pouco depois, eclodiu a guerra civil chinesa entre nacionalistas liderados Chiang Kai-shek e o Partido Comunista de Mao Tsé-Tung. Em 1949, Mao fundou a República Popular da China e as tropas derrotadas do Kuomintang (Partido Nacionalista) recuaram para Taiwan e formaram um governo.
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Localizada a pouco mais de 160km do sudeste da China, a ilha tem Constituição própria e governo autônomo eleito democraticamente. Mas sua independência não é reconhecida pelo governo chinês, que até hoje revindica a reunificação de seu território.
A frente Frente Parlamentar Brasil-Taiwan foi formada com o apoio de 213 deputados, mais do que o mínimo de 198 exigido pelo regimento da Câmara, e seu registro foi determinado pelo próprio Lira no último dia 28, conforme mostra um despacho obtido pela equipe da coluna. O documento, no entanto, não chegou a ser publicado no Diário Oficial da Câmara dos Deputados.
E chegou a constar oficialmente na relação de frentes já instaladas no site da Câmara, mas desapareceu na semana passada, na véspera de outro evento indigesto para o governo chinês: um encontro de cerca de 100 parlamentares apoiadores da frente em Brasília com o representante de Taiwan no Brasil, Diego Wen.
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O evento ocorreu na quarta-feira passada (4) no restaurante Nau, especializado em frutos do mar, com vista para o Lago Paranoá.
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O almoço foi marcado para celebrar antecipadamente a Data Nacional de Taiwan, comemorada em 10 de outubro, mas também serviria para anunciar oficialmente a instalação da frente parlamentar.
Mas, um dia antes do evento, o gabinete do deputado federal Junio Amaral (PL-MG), que lidera a iniciativa, constatou que a frente havia sumido do site da Casa e retornado ao status de “aguardando despacho do Presidente da Câmara dos Deputados”, mesmo Lira já tendo assinado esse documento no dia 28.
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No final das contas, o “sumiço” do grupo dominou as conversas reservadas durante o evento e abriu margem para especulações de que a própria embaixada da China entrou em campo para pressionar Lira contra a instalação da frente.
“Nunca vi isso. A partir do momento em que as assinaturas são coletadas e você protocola, não cabe ao presidente da Câmara nenhum outro tipo de análise. A gente acha que pode ter havido algum tipo de pressão”, acrescentou”, disse à equipe da coluna o deputado Junio Amaral.
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Apesar de Amaral não querer especular de onde partiu a pressão, integrantes da Frente com quem a equipe do blog conversou dão como certo que o governo chinês exigiu de Lira a extinção do grupo. E que o presidente da Câmara preferiu não confrontá-los a poucos dias da viagem.
Entre os objetivos da Frente estão “estreitar as relações de amizade” entre Brasil e Taiwan, além de “incentivar o intercâmbio” econômico, cultural, social e comercial entre as duas nações e “promover a aproximação entre os parlamentares”.
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A frente também poderia conceder títulos honoríficos “a parlamentares, autoridades e pessoas da sociedade em geral” que se destacarem na atuação alinhada aos objetivos do grupo.
Esta não é a primeira vez que a iniciativa de um Parlamento escancara as tensões diplomáticas entre China e Taiwan.
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No ano passado, a visita da então presidente da Câmara dos Estados Unidos, a deputada democrata Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan enfureceu Pequim e provocou uma crise diplomática entre a Casa Branca e o regime de Xi Jinping.
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Procurada pela equipe da coluna, a embaixada da China no Brasil não comentou a extinção da frente parlamentar e nem confirmou ter pressionado o presidente da Câmara.
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Afirmou apenas que “existe no mundo apenas uma China” e que “Taiwan é uma parte inalienável do território da China e o Governo da República Popular da China é o único governo legítimo que representa toda a China”.
“A questão de Taiwan é um assunto interno da China que diz respeito aos interesses fundamentais da China e aos sentimentos da nação. Conforme o princípio de Uma Só China, os países que mantêm relações diplomáticas com a China não devem efetuar qualquer tipo de intercâmbio oficial com Taiwan”, disse a embaixada, em uma alfinetada à frente, que pretendia “apoiar e incentivar o intercâmbio” entre as duas nações.
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A assessoria do presidente da Câmara, por sua vez, informou que o parlamentar não vai se manifestar.