Afastado do cargo após a Polícia Federal encontrar US$ 171,8 mil em dinheiro vivo em sua casa, na operação que apura um esquema de monitoramento ilegal de celulares pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o diretor Paulo Maurício Fortunato Pinto era homem de confiança do atual diretor-geral da Abin, Luis Fernando Corrêa.
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A confiança era tão grande que, ao assumir o cargo, Corrêa deslocou Fortunato Pinto da área de operações – onde comandava o uso de softwares espiões como o que está sendo investigado agora pela Polícia Federal – para a área de logística, responsável pela prospecção e compra de novos sistemas de inteligência.
E defendeu Fortunato Pinto tanto em público, durante a sabatina pela qual teve que passar para ser confirmado no cargo, em maio passado, como também nos bastidores.
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Em conversas fechadas com senadores, nos dias que antecederam a sabatina, o diretor-geral da Abin indicado por Lula disse que se responsabilizava pelo subordinado – e, de acordo com testemunhas da cena, chegou a chorar em uma conversa reservada com integrantes da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado.
Na ocasião, Corrêa buscava convencer o senador Renan Calheiros (MDB-AL), presidente da comissão, a marcar a data da sabatina, o que ele se recusava a fazer.
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Calheiros não aceitava que Corrêa tivesse como número 2 o ex-diretor de inteligência policial da PF, Alessandro Moretti, e Fortunato Pinto como 03. Argumentava que os dois haviam tido cargos estratégicos no governo de Jair Bolsonaro.
E Calheiros atribuía a Moretti a interferência da corporação contra seu aliado, o governador Paulo Dantas, durante a eleição em Alagoas, o que fez até o senador ter que depor.
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Como não conseguia derrubar os dois subordinados de Corrêa, Renan recusava-se a marcar a sabatina.
Mesmo depois de receber a visita de Corrêa, ele não mudou de ideia. Só cedeu quando Lula fez o pedido pessoalmente, dizendo que confiava em Corrêa. E que se Corrêa confiava nos subordinados, ele também confiava.
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No caso de Fortunato, havia também o fato de ele ter virado alvo da CPI das Escutas Telefônicas, concluída na Câmara em 2009. Na época, a oposição quis enquadrá-lo no crime de improbidade administrativa, acusado de comandar um suposto grampo ilegal contra o ministro Gilmar Mendes, que comandava o Supremo Tribunal Federal (STF) à época.
O assunto veio à tona durante a sabatina, trazido pelo próprio Renan Calheiros.
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“O senhor está ciente de que o senhor Paulo Maurício Fortunato, nomeado para a Secretaria de Planejamento e Gestão, é suspeito de tramas para grampear ilegalmente o Ministro Gilmar Mendes, então Presidente do Supremo Tribunal Federal? O senhor pode esclarecer - é a última pergunta - a razão e as circunstâncias do afastamento desse mesmo servidor, o Sr. Paulo Maurício, da Diretoria de Contraespionagem da Abin em 2008?”, questionou o senador emedebista.
Corrêa rebateu: “Ele tem uma experiência operacional. Ele já estava aposentado. Ele foi acusado sim, mas foi acusado, absolvido e sequer teve ação. Então, não foi nem recebida.”
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A todos os interlocutores que perguntavam sobre Fortunato Pinto, Corrêa sempre disse que confiava plenamente nele e que o conhecia de outras passagens de sua carreira – como, por exemplo, quando os dois trabalharam na segurança dos jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
“O Paulo Maurício tem um histórico de profissional: oficial de inteligência, com operações, vem de longos anos”, disse ele à CRE.
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Agora que seu diretor de logística foi pilhado com US$ 171 mil dólares em espécie dentro de casa, o diretor-geral da Abin se recolheu. Não respondeu a mensagens de WhatsApp sobre o subordinado e também não atendeu ao telefone. A assessoria da Abin, por sua vez, não se manifestou.
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