Por Johanns Eller

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Exército se recusa a esclarecer uso do First Mile, software espião pivô da Abin paralela

Militares também dispõem de sistema israelense que monitora celulares, mas alega sigilo ao não prestar informações sobre serventia da ferramenta

Por Johanns Eller


Quartel-general do Exército, em Brasília Divulgação

Em meio ao avanço das investigações sobre o uso do software israelense First Mile no esquema de monitoramento ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro, o Exército brasileiro, que também adquiriu o programa, se recusa a prestar informações sobre sua utilização. Os militares dispõem da ferramenta desde 2018, mas seu uso é mantido sob sigilo.

Esta é a segunda vez que o Exército se nega a prestar informações sobre o uso do programa.

Em outubro passado, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou a primeira operação para apurar a chamada “Abin paralela” e encontrou documentos que apontavam para a existência de um contrato do Exército para a aquisição do First Mile — diferente do da agência de inteligência—, a equipe da coluna questionou formalmente a instituição sobre o papel do programa em suas atividades. A Força alegou que as informações eram sigilosas.

Os novos desdobramentos da investigação da PF, que identificou 21 mil dados de geolocalização obtidos pelo First Mile a partir de 1,5 mil linhas telefônicas pela Abin, voltaram a lançar luz sobre o uso indiscriminado do programa sem autorização judicial no âmbito da agência.

Nesse novo contexto, nós voltamos a questionar a aplicação do programa israelense pelo Exército e também indagamos se o software ainda está ativo, mas a instituição militar alegou que a demanda “não poderia ser atendida”.

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Para justificar o sigilo, o Exército avocou em ambas as ocasiões dois artigos da Lei de Acesso à Informação que preveem graus de sigilo a informações cuja divulgação prejudice ou traga riscos “a planos ou operações estratégicos das Forças Armadas” ou comprometam “atividades de inteligência” e “de investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas com a prevenção ou repressão de infrações”.

As evidências foram apreendidas na sede da Cognyte, fornecedora do programa no Brasil, em Florianópolis (SC). No caso do Exército, a compra foi firmada pelo gabinete de intervenção federal do Rio de Janeiro, como revelou na ocasião o jornal Folha de S. Paulo, em um contrato de R$ 40 milhões com o grupo israelense responsável pelo First Mile.

Mas o software acabou sob o controle do Exército, junto com outros materiais adquiridos pelo órgão liderado pelo então interventor, Walter Braga Netto, que era general da ativa do Exército.

O programa permite rastrear a localização das pessoas por meio dos metadados fornecidos pelas antenas de celular a torres de telecomunicações. A lista de monitorados ainda é mantida sob sigilo, mas, segundo a PF, mirou políticos, advogados, acadêmicos e demais personalidades tidas como desafetas de Jair Bolsonaro.

Ainda segundo a investigação da Polícia Federal, o monitoramento ilegal teria ocorrido entre 2019 e 2021, período que compreende a gestão do atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) como diretor-geral da Abin. Ramagem, homem de confiança da família Bolsonaro, foi alvo da operação First Mile na última quinta-feira (25).

A PF também mirou na última segunda-feira (29) o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente e apontado como integrante do núcleo político da Abin paralela. O esquema de vigilância ilegal foi revelado pelo GLOBO em março de 2023.

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