A Polícia Federal decidiu convocar o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, para depor sobre os fatos revelados pela operação Tempus Veritatis, desencadeada nesta quinta-feira contra Jair Bolsonaro, seus ex-ministros e assessores e vários oficiais militares que participaram da elaboração de um plano para dar um golpe de estado no Brasil.
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Os investigadores vão cobrar de Mauro Cid que entregue mais informações e detalhes sobre aspectos da trama golpista dos quais ele não falou no acordo de delação premiada que fechou com a Polícia Federal em setembro do ano passado.
Se não colaborar com a PF, Mauro Cid pode até perder o acordo, que permitiu a sua saída do batalhão do Exército em Goiás, onde ficou preso por quatro meses por ordem do ministro Alexandre de Moraes.
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Um dos temas que o ex-ajudante de ordens vai ser cobrado a explicar é o financiamento dos atos golpistas. De acordo com a decisão de Moraes que autorizou a operação, a Polícia Federal detectou que ele tratou da liberação de R$ 100 mil reais para levar um "pessoal" a Brasília para acompanhar as tratativas para um golpe de estado. As mensagens exibidas pela PF a Moraes mostram que o dinheiro custearia "hotel", "alimentação" e "material", segundo um documento protegido com senha e intitulado "Copa 2022".
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De acordo com investigadores, "o pessoal" que viajaria a Brasília era uma turma de oficiais das Forças Especiais de Goiânia, que ficaria de prontidão na cidade à espera de um chamamento de Bolsonaro.
Uma outra linha de investigação que não apareceu nos documentos da operação desta quinta-feira diz respeito ao financiamento empresarial da tentativa de golpe. Mauro Cid se refere ao assunto nas mensagens que a PF usou para fundamentar os pedidos de busca e apreensão, mas segundo os investigadores não detalhou nada disso em sua delação.
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Uma dessas mensagens foi um áudio enviado "possivelmente para o General Freire Gomes" em que ele cita o financiamento das manifestações em Brasília, por empresários do "Agro".
Outro tema sobre o qual Mauro Cid vai ser cobrado é a dinâmica de difusão de fake News pelo que a PF chama de "gabinete do ódio". Em seu relatório, a PF afirma que havia um núcleo de difusão de fake news sobre o sistema eleitoral do qual Cid participava, mas ainda não está totalmente claro como esse núcleo operava.
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Desde que fechou seu acordo de delação premiada, Mauro Cid não só não só prestou vários depoimentos como também entregou à PF documentos relacionados aos inquéritos em curso sobre os atentados golpistas de 8 de janeiro, o desvio das joias recebidas de presente dos xeques da Arabia Saudita e as fraudes no cartão de vacinação.
Ainda assim, aparentemente, faltou contar bastante coisa. Se não disser tudo o que sabe, o esforço para se livrar de Alexandre de Moraes poderá ser perdido