O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saiu da reunião desta segunda-feira com o presidente Lula sobre a crise dos dividendos da Petrobras com o direito de nomear um conselheiro para a companhia.
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Esse foi um dos movimentos do presidente da República na tentativa de aplacar a crise desencadeada pela decisão de não pagar dividendos extraordinários aos investidores, tomada pelo próprio Lula no Palácio do Planalto na semana passada.
Segundo o que ficou decidido na primeira parte da reunião com o presidente – em que Lula se fechou apenas com Haddad, Prates, e os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) –, o conselheiro Sergio Rezende vai ser substituído por um integrante da equipe econômica, o assessor especial para a transição energética Rafael Dubeaux.
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A mudança pode inverter a correlação de forças no time de Lula no conselho e dar ao presidente da empresa, Jean Paul Prates, um voto valioso no desempate de questões controversas dentro do próprio governo.
A União tem seis dos onze conselheiros da Petrobras, incluindo Prates, mas quatro deles são ligados a seus adversários políticos, Silveira e Costa.
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O grupo já impôs algumas derrotas importantes ao CEO – na última, houve seis votos pelo não-pagamento dos dividendos, com que Haddad não concorda. Os quatro minoritários votaram pelo pagamento de 100% dos R$ 43,9 bilhões. Prates era contra e queria pagar metade do valor, mas se absteve.
Nesse assunto a decisão foi do próprio Lula, como informamos ontem, mas, com um conselheiro ligado a Haddad no time, questões como essa poderiam ter um placar oposto – caso, por exemplo, Prates e o representante da Fazenda votasse junto com os minoritários.
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Haddad já vinha trabalhando internamente para ter um conselheiro na Petrobras desde o ano passado, quando o debate em torno do aumento do preço dos combustíveis esquentou o clima no governo e levou a uma intensa rodada de negociações internas.
No início do ano, quando os indicados para o próximo mandato começaram a ser escolhidos, o ministro da Fazenda chegou a reivindicar o espaço que já foi dado à sua pasta em gestões anteriores.
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O plano inicial de Haddad e Prates era colocar seus indicados no lugar de dois conselheiros do grupo de Silveira – o atual presidente, Pietro Mendes, e de Victor Saback, apadrinhado do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Dubeux entraria numa dessas vagas. Prates sondou diversos quadros petistas para a outra cadeira. A articulação, porém, não foi adiante porque Silveira cobrou de Rui Costa e do próprio Lula um acordo do início do mandato pelo qual ele (o ministro) comandaria o conselho e Prates (e portanto o PT), a diretoria.
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A crise dos dividendos extraordinários abriu a brecha de que o ministro esperava para voltar à carga. Mas desta vez o conselheiro que vai ter que deixar a cadeira é um indicado pelo próprio Lula, seu ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende.
Os presidentes da Petrobras desde o primeiro governo Lula
Os mandatos dos atuais conselheiros da Petrobras vencem no dia 25 de abril, para quando está programada a próxima assembleia-geral ordinária que definirá a composição do colegiado pelos próximos dois anos.
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Os nomes dos conselheiros indicados pelo governo para o próximo mandato já estão em avaliação pelos comitês internos da Petrobras, mas podem ser trocados até o dia 22 de março, quando a lista definitiva tem que ser enviada a todos os acionistas.
Além de Mendes e Saback, também foram incluídos Renato Galuppo, próximo do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o economista Bruno Moretti, pela Casa Civil, e o próprio Jean Paul Prates - o CEO é sempre membro do conselho.
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A companhia ainda vai escolher quatro representantes dos acionistas minoritários e um dos funcionários. Uma vez aprovados nos processos internos da companhia, os nomes serão submetidos ao conselho. Só depois serão enviados à assembleia.
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