A decisão da Polícia Federal (PF) de considerar encerradas as investigações do caso Marielle Franco não repercutiu bem entre correligionários da vereadora do PSOL, morta em 2018. O deputado federal Chico Alencar (RJ) afirma que a bancada do partido vai pedir audiência com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para assegurar que Chiquinho e Domingos Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa sejam ouvidos no processo.
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“Nós achamos que a conclusão do inquérito é um pouco precipitada, inclusive porque os Brazão e o Rivaldo ainda não foram ouvidos", disse Alencar. "Há ainda muitos elos e cumplicidades a desvendar. A PF não conseguiu comprovar vários fatos narrados por Lessa, e os acusados irmãos Brazão e delegado Rivaldo ainda não falaram..."
Para o deputado, a versão de Lessa sobre o crime "pode ser verdade e pode ser trama inventada. Uma boa investigação, ouvindo mais gente, traria elementos de prova mais consistentes. Até agora, pelo que sei, não dá pra aceitar como 'solução definitiva do caso'".
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Como revelou o programa “Fantástico”, da TV Globo, o assassino confesso de Marielle, o ex-policial militar Ronnie Lessa, relatou em sua delação premiada que os irmãos Brazão garantiram a ele o comando de uma nova milícia que controlaria um enorme loteamento na Praça Seca, Zona Oeste do Rio.
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Lessa afirmou à PF que não prestaria apenas o serviço de assassino de aluguel, mas também formaria uma “sociedade” com os Brazão, junto com o comparsa Edmilson Macalé, morto em 2021. O delator disse ainda que os rendimentos do bairro a ser loteado eram estimados em R$ 100 milhões.
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Para Chico Alencar, caso Lessa esteja falando a verdade, é implausível que o empreendimento miliciano se limitasse aos irmãos Brazão, a Lessa e a Rivaldo.
“Nós consideramos que é plausível, sim, a história da grilagem das terras e dos negócios imobiliários com o objetivo de implantar um domínio miliciano em Jacarepaguá, [que é] curral de votos deles. Agora, isso é um projeto de longo prazo”, pondera o deputado do PSOL.
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“E é claro que não é um projeto só dos irmãos Brazão, do tal Macalé, já morto, para o qual o Ronnie Lessa foi convidado. Quando o Ronnie fala em sociedade, um empreendimento dessa grandiosidade macabra implicaria mais gente”.
Na última quinta-feira, Alencar e outros parlamentares do PSOL se reuniram com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso na Corte, pediram a responsabilização “de todos os envolvidos”.
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Segundo o deputado, Moraes disse que aguarda que a PGR envie o indiciamento dos irmãos Brazão e do Rivaldo. O parlamentar do PSOL defende que o Ministério Público Federal (MPF) e o próprio Supremo abram novas frentes de investigação.
“[Supondo que Moraes acate o indiciamento proposto pela PGR] Ele vai abrir o processo judicial onde cabe a produção de novas provas, através da sua instrução processual probatória, e não mais em sede de Polícia Federal”.
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Além da audiência com o ministro Lewandowski, a bancada do PSOL também vai pedir um encontro com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, para entender a extensão do monitoramento de outros políticos do partido – incluindo ele próprio – por Lessa.
'Lista do Ronnie'
Em sua delação, Lessa declarou à PF que, além da vereadora e de Alencar, também acompanhou os então vereadores Tarcísio Motta e Renato Cinco, além de Marcelo Freixo, amigo pessoal de Marielle e deputado estadual à época.
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“Vamos oficiar a PF para buscar saber a extensão [do monitoramento] e as cautelas e eventuais providências que os membros da ‘lista do Ronnie’ devem tomar”, declarou Alencar.
Na denúncia contra os supostos mandantes, a PGR alega que a motivação do crime está relacionada a uma briga em torno de um projeto de lei patrocinado por Chiquinho, então vereador, que flexibilizava regramentos ambientais e urbanísticos.
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O texto sofreu oposição ferrenha da bancada do PSOL, incluindo Marielle, que afirmava que a proposta favoreceria as milícias e a grilagem de áreas como as que teriam sido oferecidas para Lessa pelos Brazão em troca do assassinato.