A direita bolsonarista prevaleceu sobre a esquerda no debate das redes sociais a respeito das chuvas no Rio Grande do Sul no ápice da crise, entre os dias 1º e 15 de maio, no X (ex-Twitter). É o que indica um estudo da FGV Comunicação Rio, que apontou ainda o protagonismo de perfis sem ligação com a política institucional ou órgãos oficiais no ringue ideológico.
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Como publicamos no blog na última sexta-feira, o debate geral no intervalo analisado pela FGV foi dominado pela contraposição entre “povo” e “governo”, que superou o embate ideológico entre esquerda e direita, que costuma dominar a pauta das redes sociais.
Quando se analisa apenas a disputa ideológica entre esquerda e direita, porém, fica evidente que os bolsonaristas tiveram quase o dobro de interações em relação à esquerda.
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O estudo, fornecido com exclusividade pela FGV à equipe do blog, analisou 11,2 milhões de tweets para compreender a dinâmica do debate nas redes a respeito da crise no Sul. A análise sobre engajamento e interações com o recorte ideológico foi feita em um universo menor, de 195.788 posts, em função de restrições da plataforma ao acesso aos dados após a compra do antigo Twitter pelo Elon Musk.
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Segundo os autores do trabalho, a amostra reflete o sentimento geral no X no período. A direita dominou 47% das interações na plataforma, enquanto a esquerda alcançou apenas 25,4%. Em paralelo, páginas de entretenimento tiveram 5,8% das interações, seguidas por páginas de fã-clubes de pessoas públicas (2,1%) e perfis não associados às demais categorias (1,3%).
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A dinâmica da direita nas redes, para a FGV, politiza “a tragédia em prol de uma agenda político-partidária específica”.
No entanto, entre os perfis de direita, somente 22% tinham alguma ligação com a política institucional, como parlamentares. Segundo o levantamento, na trincheira bolsonarista o protagonismo foi de figuras públicas e influenciadores (66%), seguidos de veículos de mídia e páginas ativistas (12%).
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Dinâmica semelhante foi identificada na bolha da esquerda: 48% dos perfis mapeados eram de artistas ou influenciadores, enquanto 28% eram ligados a veículos e páginas ativistas. O campo progressista foi o único a registrar alguma participação de órgãos políticos e figuras associadas à esquerda (24%), mas não na liderança do debate.
Personificação das discussões
O trabalho também identificou uma “personificação” nas discussões sobre a tragédia com viés politizado. Os autores apontam que os nomes do governador do RS, Eduardo Leite (PSDB), do então ministro da Secom e atual titular da Secretaria de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta (PT), e do coach Pablo Marçal (PRTB) estiveram entre os termos mais citados.
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Enquanto Leite alcançou seu pico de popularidade digital durante a crise, como publicamos no blog, Pimenta atuou como porta-voz do Palácio do Planalto nas primeiras semanas e Marçal, pré-candidato à prefeitura de São Paulo, viralizou nas redes acusando – sem provas – o governo federal e as Forças Armadas de inércia no resgate às vítimas e de deixar a população à própria sorte.
Para a FGV, o protagonismo dessas três figuras traz uma disputa sobre quem estaria fazendo mais pelo RS: o governo estadual, representado por Leite; o federal, na figura de Pimenta, e de influenciadores e da sociedade civil, no caso de Marçal – também em linha com a oposição entre o público e o privado, principal tônica do estudo.
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De acordo com o levantamento, a discussão sobre a crise, antes restrita ao Rio Grande do Sul, explodiu no dia 1º de maio, com a nacionalização do debate sobre as chuvas e a consequente polarização política do tema.
Os autores observam, porém, que o cenário ficou mais complexo nos dias seguintes, com o surgimento de novos atores relevantes que, por reunirem vários outros perfis em sua órbita, configuram o que os pesquisadores chamam de clusters. Esses novos núcleos, formados principalmente por influenciadores e páginas de entretenimento, romperam com a dualidade entre esquerda e direita e dominaram as discussões no período analisado.