A CEO da Petrobras, Magda Chambriard, ainda nem nomeou sua diretoria, mas seus primeiros movimentos para cumprir a promessa de acelerar projetos de interesse do presidente Lula já provocam ruídos na cúpula da companhia.
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A decisão de retomar a produção de fertilizantes na Araucária Nitrogenados (Ansa), que fica no Paraná, e de recontratar os funcionários demitidos - que na semana passada causou um racha na diretoria - agora levou um dos integrantes do Conselho de Administração a fazer uma série de críticas e questionamentos que repercutiram internamente.
Em um e-mail enviado à direção da empresa e a todos os conselheiros, Marcelo Gasparino afirmou que a fábrica historicamente nunca deu lucro, “seja na época que era da Petrobras, seja quando foi vendida".
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A Ansa foi uma das quatro unidades de fertilizantes da Petrobras vendidas ou arrendadas ao setor privado entre 2017 e 2022, durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro. Na época, a gestão da empresa concluiu que não valia a pena mantê-las porque eram deficitárias.
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No ano passado, mesmo as fábricas que tinham sido repassadas também foram colocadas em "hibernação" pelo setor privado. Foi o caso das plantas da Unigel na Bahia e no Sergipe, que, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), poderão causar um prejuízo de até R$ 500 milhões para a Petrobras se forem retomadas.
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Desde o início deste terceiro mandato, porém, Lula e diversos ministros vêm pressionando a Petrobras para reativar essas fábricas. A retomada da Ansa é uma reivindicação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e da Frente Única dos Petroleiros (FUP).
Na semana passada, como informou o colunista Lauro Jardim, a diretoria da Petrobras aprovou a reativação da Ansa depois de uma discussão interna e uma votação que terminou em 5 a 4.
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Segundo fontes da empresa disseram à equipe do blog, os diretores que votaram contra a retomada da fábrica argumentaram que os riscos de prejuízo são altos e os custos de operação também.
Por isso, o conselheiro Gasparino pediu, entre outras informações, a ata de reunião da diretoria para avaliar os argumentos utilizados para a tomada de decisão.
Custo mais alto
Segundo ele escreveu no e-mail a que tivemos acesso, o custo de operação da Ansa é bem mais alto do que as outras unidades de produção, porque a matéria-prima usada na fabricação dos fertilizantes nas instalações do Paraná, o resíduo asfáltico, é 35% mais caro do que o gás natural, que normalmente é o insumo utilizado.
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Gasparino ainda questionou o fato de a companhia ter aceitado recontratar funcionários que já tinham sido desligados e recebido indenizações na época em que a fábrica foi "hibernada", ou seja, desativada.
E pediu uma manifestação da diretoria sobre a possibilidade de pedir à União que reembolse e compense a Petrobras por eventuais prejuízos das unidades de fertilizantes, uma vez que a decisão de retomar as fábricas foi tomada em obediência a uma diretriz de governo tomada pelo próprio presidente Lula.
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Na carta enviada à direção, o conselheiro também pediu diversos outros documentos – como o plano de retomada que subsidiou a decisão, incluindo a expectativa de retorno financeiro e prazos, e os resultados da Ansa nos seus últimos cinco anos de operação – todos com potencial de municiar os minoritários contra o projeto.
Procurada, a assessoria de imprensa da Petrobras afirmou que “a instância de competência para aprovação da reabertura da Ansa é da diretoria executiva, conforme as regras de governança da companhia”.
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Sobre o questionamento de Gasparino sobre o ressarcimento à Petrobras, a companhia alegou ainda que o caso “não se enquadra no trecho do Estatuto Social que trata de compensação à companhia pela União”.
Questionado pela equipe do blog sobre o e-mail, o conselheiro Marcelo Gasparino não quis comentar.
Sua manifestação circula desde quinta-feira na empresa como um sinal de que o clima entre minoritários e governo deve continuar tenso.
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O conselheiro é um dos representantes dos minoritários no colegiado, ligado a vários acionistas privados importantes, como Lírio Parisotto e Juca Abdalla.
Recentemente, o grupo esteve à frente da ofensiva para forçar o presidente do conselho, Pietro Mendes, a convocar uma assembleia extraordinária sob a alegação de que o ex-CEO Jean Paul Prates, que oficialmente renunciou ao cargo de conselheiro, foi destituído “tacitamente”, o que demandaria a eleição de um novo conselho segundo a Lei das SAs.