Por que o PL de Jair Bolsonaro desistiu de tentar cassar Sergio Moro
Por Rafael Moraes Moura— Brasília
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Os senadores Sergio Moro e Flávio Bolsonaro
Os senadores Sergio Moro e Flávio BolsonaroGeraldo Magela/Agência Senado
Assim como o PT, o PL de Jair Bolsonaro também fez uma leitura pragmática ao desistir de entrar com um recurso pela cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR).
As duas legendas, arquirrivais no Congresso Nacional e nas últimas eleições presidenciais, somaram forças há um ano e meio na Justiça Eleitoral para tentar condenar o ex-juiz federal da Lava-Jato por caixa 2, abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação na campanha de 2022.
Mas Moro acabou absolvido tanto pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), por 5 a 2, quanto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por 7 a 0. Após o revés no TSE, PT e PL informaram que não recorreriam ao Supremo Tribunal Federal (STF) e não insistiriam mais na perda de mandato do parlamentar paranaense.
Foi crucial para essa decisão a postura do clã Bolsonaro, que já tinha sido contra apresentar o recurso no TSE logo depois da absolvição no Paraná. À equipe do blog, o senador Flávio Bolsonaro disse, em abril, que “nós não temos que nos igualar ao PT nessa pauta”.
Lula e Lava-Jato: denúncias, prisão e a volta ao tabuleiro político
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DISCURSO - Em discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula criticou duramente a gestão de Bolsonaro durante a pandemia e chamou o presidente de negacionista — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP 2 de 24
SUSPEIÇÃO - Logo após a decisão de Fachin de anular as decisões de Moro, a Segunda Turma do STF considerou Moro suspeito no processo sobre o triplex — Foto: Reprodução
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EX-CONDENADO - O ministro Edson Fachin, do STF, determinou, no dia 8 de março, a anulação de todas as decisões e condenações de Lula na 13ª Vara Federal de Curitiba, em quatro processos, o que abriu a possibilidade para a candidatura do petista para 2022 — Foto: NELSON JR./SCO / STF 4 de 24
Lula da Silva discursa durante o Festival Lula Livre, no Recife, em novembro de 2019. Primeiro comício do petista no Nordeste deste que deixou a prisão, no dia 8 de novembro daquele ano — Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS 5 de 24
Lula é carregado por apoiadores após sair da prisão e discursar em São Bernardo do Campo. Ex-presidente fez críticas ao juiz Sergio Moro e ao procurador Deltan Dallagnol — Foto: AMANDA PEROBELLI / REUTERS 6 de 24
LULA LIVRE - O ex-presidente Lula deixa a sede da Polícia Federal em Curitiba após ficar 580 dias preso, acusado de corrupção — Foto: Marcelo Andrade / Agência O Globo 7 de 24
VAZA-JATO - Depois de trazer à tona conversas de Moro e Dallagnol, o jornalista Glenn Greenwald, o mesmo que revelou ao mundo o escândalo de espionagem da CIA, através da história de Edward Snowden, foi convidado a depor na Câmara' — Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo 8 de 24
HACKEADO - Deltan Dallagnol, então coordenador da Lava-Jato, teve o celular hackeado e conversas vazadas pelo jornal The Intercept Brasil. As conversas mostram relação de proximidade e combinações impróprias entre ele e o juiz Sergio Moro — Foto: Rodolfo Buhrer / Reuters 9 de 24
ENTREVISTA - Depois de mais de um ano na prisão, a Justiça autoriza, e o ex-presidente Lula dá entrevista à imprensa na sede da Polícia Federal em Curitiba Foto: — Foto: Ricardo Stuckert 10 de 24
VIGÍLIA - Desde o dia em que o ex-presidente Lula foi preso, apoiadores fizeram vigília em frente à PF de Curitiba durante todos os 580 dias da prisão Foto: — Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo 11 de 24
MUDANÇA DE PODER - Em novembro de 2018, Sergio Moro anuncia que decidiu deixar a magistratura após 22 anos de carreira e assumir o cargo de ministro da Justiça de Jair Bolsonaro — Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo 12 de 24
PROTESTO - Manifestantes protestam em frente à Superintendência da PF em Curitiba contra a prisão de ex-presidente Foto: — Foto: Denis Ferreira / AP 13 de 24
PRISÃO - Em 2018, o ex-presidente Lula se entrega à Polícia Federal após ter sua prisão determinada pela Justiça. Ele é levado no dia 07 de abril para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba para cumprir pena — Foto: MAURO PIMENTEL / AFP 14 de 24
DENÚNCIA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA - O então procurador-geral da República, Rodrigo Janot , denuncia em setembro de 2017 Lula e Dilma pelo crime de organização criminosa. Segundo Janot, o ex-presidente foi o líder e "grande idealizador" da organização, devendo inclusive ser condenado a uma pena maior por isso — Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo 15 de 24
CONDENAÇÃO PELO TRÍPLEX - O então juiz Sergio Moro condena Lula em julho de 2017 a nove anos e meio de prisão (pena aumentada depois para 12 anos e 1 mês) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Na foto, Segurança reforçada em frente à sede da Justiça Federal em Curitiba no dia do julgamento — Foto: Geraldo Bubiniak / Agência O Globo 16 de 24
O ADEUS A MARISA - A ex-primeira-dama Marisa Letícia morre aos 66 anos, depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em janeiro de 2017. — Foto: NELSON ALMEIDA / AFP 17 de 24
CINCO VEZES RÉU - Lula se torna réu pela quinta vez quando Moro (foto) aceita nova denúncia do MPF, em dezembro de 2016. O petista é acusado de se beneficiar da compra, pela Odebrecht, de um terreno para a construção da nova sede do Instituto Lula e de um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo do Campo — Foto: Givaldo Barbosa / O Globo 18 de 24
OPERAÇÃO ZELOTES - A quarta denúncia contra Lula é aceita pela 10ª Vara Federal de Brasília. Desta vez, o caso é referente à Operação Zelotes, em dezembro de 2016. Procuradores afirmam que Lula integrou um esquema que vendia a promessa de que ele poderia interferir junto ao governo da então presidente Dilma Rousseff para beneficiar o grupo CAOA — Foto: Edilson Dantas / O Globo 19 de 24
RELAÇÃO COM A ODEBRECHT Na foto, Lula e Marcelo Odebrecht. Pela terceira vez, o ex-presidente vira réu na Lava-Jato. Em outubro de 2016, ele é acusado de receber dinheiro da construtora Odebrecht para defender interesses da empreiteira em outros países, interferindo na concessão de financiamentos do BNDES — Foto: Arte/O Globo 20 de 24
MORO ACEITA DENÚNCIA - O procurador Deltan Dallagnol durante apresentação do MPF da denúncia contra Lula, em 14 de setembro de 2016. No dia 20, Lula vira réu pela segunda vez. Neste caso, o ex-presidente é acusado de receber R$ 3,7 milhões da OAS referentes ao tríplex do Guarujá (SP). Lula nega a propriedade do imóvel — Foto: Rodolfo Buhrer / La Imagem / Fotoarena 21 de 24
RÉU PELA PRIMEIRA VEZ - Lula se torna réu em 2016, acusado de tentar obstruir a Justiça comprando o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras. Em 2018, o ex-presidente foi absolvido — Foto: Michel Filho / O Globo 22 de 24
AFASTAMENTO DE DILMA - Lula surge abatido ao lado de Dilma Rousseff à frente do Palácio do Planalto horas após o Senado decidir pelo afastamento da presidente, em maio de 2016 — Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo 23 de 24
GRAMPOS TELEFÔNICOS - A Justiça Federal divulga, em março de 2016, com a autorização de Moro (foto), áudios de escutas telefônicas de Lula. Um dos áudios mostra conversa com a presidente Dilma Rousseff — Foto: Edilson Dantas / O Globo 24 de 24
CONDUÇÃO COERCITIVA - O ex-presidente Lula é alvo, em março de 2016, de um mandato de condução coercitiva, autorizado pelo então juiz Sergio Moro, na 24ª fase da Operação Lava-Jato. O petista foi levado por agentes da Polícia Federal até o Aeroporto de Congonhas para depor — Foto: Marcos Bizzotto / Raw Imagem/Agência O Globo
“A orientação partidária é que o PL não recorra, essa é a orientação do presidente Bolsonaro”, disse o filho “zero um” de Bolsonaro à época, após Moro ser absolvido pelo tribunal paranaense.
Desta vez, a orientação se repetiu. Mas a oposição da família Bolsonaro não foi o único motivo para o PL desistir de tentar cassar Moro.
Havia também na sigla o receio de que uma eventual cassação de Moro poderia ter efeito negativo no eleitorado paranaense, que seria obrigado a fazer uma nova votação para definir quem ficaria com a vaga – e, ressentido, poderia dar o troco no candidato do partido de Bolsonaro.
No Paraná, Bolsonaro derrotou Lula no segundo turno de 2022 com ampla folga – o petista obteve 37,6% dos votos válidos, ante 62,4% do então candidato à reeleição.
Efeito Paulo Martins
Um terceiro fator que pesou na decisão do PL foi uma compreensão, disseminada na cúpula bolsonarista, de que o candidato do partido à vaga de Moro, o ex-deputado federal Paulo Eduardo Martins, é “homem do Ratinho (Jr. do PSD)”, o governador do Paraná, e não de Bolsonaro.
Por essa tese, Martins seria mais “volúvel” e “cooptável” pela base do presidente Lula, diferentemente de Moro, histórico adversário dos petistas.
“O Moro é nosso, sempre vai ser de direita, mesmo brigando com Bolsonaro. Ele nunca vai se aliar ao Lula. Já o Paulo Martins não é tão firme. Ele é leal ao Ratinho, não ao Bolsonaro”, diz um interlocutor próximo de Bolsonaro à equipe da coluna.
Portanto, na leitura pragmática de bolsonaristas, melhor ficar com Moro do que arriscar uma vitória do “imprevisível” Paulo Martins.
Já no caso dos petistas, o medo era outro: o de a cassação de Moro abrir as portas do Senado para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou algum bolsonarista radical que pudesse dar mais dor de cabeça para o Palácio do Planalto.
“O risco Michelle Bolsonaro salvou o Moro”, ironiza esse mesmo aliado de Bolsonaro.