Morte de jovem que esperou atendimento por 5h em UPA levanta debate sobre classificação de risco; entenda como funciona

Mariane Silva Torres, de 26 anos, não resistiu enquanto aguardava ser recebida por um médico em unidade de saúde de Belo Horizonte

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Mariane Silva Torres tinha 26 anos Reprodução

Uma jovem de 26 anos morreu enquanto aguardava assistência médica em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na regional Centro-Sul em Belo Horizonte. A família diz que houve negligência. A vítima procurou atendimento na última terça-feira após se queixar de dores. Ela passou por triagem e recebeu uma pulseira verde, classificação que significa pouco urgente.

Mariane Silva Torres teve uma parada cardiorrespiratória após esperar por cinco horas. Ela chegou a ser medicada para dor, mas a situação se agravou. Familiares registraram boletim de ocorrência. Eles afirmam que o quadro não foi acompanhado por um médico. A prefeitura lamentou a morte da paciente  e nega a falta de atendimento. Segundo o Executivo municipal, assim que a vítima teve a parada cardiorrespiratória foi imediatamente levada para a sala de emergência, mas não resistiu às tentativas de reanimação.

A triagem em unidades de urgência e emergência é frequentemente questionada pelos pacientes. É compreensível que cada pessoa que busque este atendimento não possa aguardar uma consulta agendada, mas, para organização de toda a demanda, é preciso seguir critérios de prioridade. Hospitais e unidades de Pronto Atendimento utilizam classificação de risco. Um profissional de saúde com graduação, normalmente um enfermeiro com treinamento específico, avalia o estado de saúde e queixas do paciente seguindo protocolos. Um dos mais famosos é o protocolo de Manchester, que classifica a gravidade do quadro clínico por cores.

A UPA Centro-Sul de Belo Horizonte — Foto: Divulgação/PBH (Prefeitura de Belo Horizonte)

Professora da Escola de Enfermagem da UFMG e vice-líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Sistematização do Cuidar em Enfermagem, Luciana da Mata explica que são avaliados, por exemplo, frequência respiratória e cardíaca, pressão arterial, temperatura e sinais de consciência. Esses são alguns parâmetros clínicos que vão direcionar esse profissional para determinar o nível de gravidade do paciente.

Apesar de ser uma avaliação usada em várias partes do mundo, a triagem não se restringe a seguir um fluxograma. A avaliação vai além do que é demonstrado ou verbalizado pelo paciente. “É importante ter um acolhimento, uma classificação que conte com profissionais que estejam presentes para definir o fluxograma de uma forma rápida com o início dos sintomas e com essa opinião clínica médica. Pode acontecer de os dados fugirem dos que estão no fluxograma do protocolo? Pode. É usual? Não. Mas o profissional que está na linha de frente tem que ter essa percepção e já é orientado para essa conduta”, diz a profissional.

Sistema Manchester de Classificação de Risco — Foto: Reprodução

Ainda segundo Luciana da Mata, a classificação em amarelo, que caracteriza um quadro de urgência, precisa ser reavaliada a cada meia hora. “Esses 30 minutos já são definidos em protocolo para aqueles que recebem a classificação amarela. Para uma classificação verde, essa delimitação de tempo de reavaliação não está posta no documento. Mas se o paciente manifesta alguma queixa, ele precisa de uma reavaliação. O profissional vai reavaliar os parâmetros clínicos para verificar se gerou algum dado de gravidade que vai torná-lo um paciente com classificação amarelo ou até mesmo uma classificação vermelha de necessidade de atendimento imediato”, pontua a professora.

 A Polícia Civil vai apurar as causas e circunstâncias da morte da paciente da UPA. Só uma investigação poderá concluir se houve erro no protocolo de atendimento. Para a família, talvez seja impossível compreender e aceitar que uma jovem busque uma unidade de saúde, aguarde por cinco horas e só tenha sido atendida quando já tivesse evoluído para um quadro muito grave.

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