Brasileira diz ter sido abandonada pela TAP em Lisboa. Presidente da empresa pede desculpa

Por Gian Amato


Após tentativas frustradas de embarcar para o Brasil desde a última sexta-feira, Gabriela Sivini, o marido Flávio e os dois filhos têm passagem marcada para amanhã com destino a Recife. Calejados devido aos dois voos cancelados e mais de dez horas nas filas no aeroporto de Lisboa em busca de informações ou remarcações, eles dizem que estão reticentes e decepcionados com a companhia aérea portuguesa TAP. Eles só acreditam quando estiverem em "modo avião" e distantes do caos aéreo europeu.

Somente ontem, 32 voos foram cancelados na capital até o início da noite, sendo 14 da TAP. Nesta terça-feira pela manhã, foram anunciados 27 cancelamentos em Lisboa, quatro no Porto e dois na Ilha da Madeira. A soma dos voos cancelados desde o fim de semana se aproxima dos 190.

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Sivini é especialista em saúde da mulher e revelou ao Portugal Giro que um dos filhos necessita de um medicamento, que estava em uma das quatro malas grandes que já foram despachadas. Reuniam roupas, objetos e memórias de um ano da vida da família em Cascais, nos arredores de Lisboa. O apartamento alugado já foi entregue.

— As malas, só Deus sabe onde estão. Vamos tentar resgatar, porque passamos horas na fila e não tínhamos condições físicas de continuar (a esperar pela devolução). Fomos abandonados, totalmente abandonados pela TAP. Até hoje (ontem), já gastei mais de € 2 mil (R$ 11 mil) em hospedagem, alimentação, transporte, roupas e o remédio dele, que consegui comprar porque, por sorte, a receita ainda estava na validade… E a conta vai subir, porque somos quatro — disse Sivini.

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O prejuízo profissional também aguarda o casal no Brasil. Ela dá palestras e remarcou algumas. Flávio é médico e precisou cancelar consultas, contou Sivini. A saga da família é uma entre milhares em meio ao novo caos aéreo. Algumas, ela própria testemunhou nos últimos dias.

— As passagens estavam compradas desde agosto de 2021 para 1º de julho, quando houve o primeiro cancelamento. Nosso avião vinha de Angola e foi parar no Porto. Chegamos 13h ao aeroporto para o voo de 17h, mas só foram dizer que foi cancelado às 23h. Já estávamos desesperados, homens batendo no balcão, xingando, as crianças assustadas. A TAP não dizia nada. Esta foi a única noite que deram voucher de hotel. A caminho do hotel, até uma cadeirante teria ficado para trás se um casal não ajudasse a entrar no ônibus — contou Sivini.

No dia seguinte, novo voo foi cancelado. Mas, dessa vez, segundo ela, nada de vouchers de hospedagem:

— Recebemos apenas vouchers de € 6 para alimentação no aeroporto. Perguntei: e o do hotel? A funcionária da TAP disse que não existia. Mas como, se peguei ontem? Vou ficar pela minha conta? Sim, disse ela, prometendo reembolso.

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No terceiro dia de aeroporto, para onde se dirigiu para tentar remarcar o voo, conseguiu passagens para amanhã, um adiantamento de uma decolagem agendada para dia 9.

— Não é passar lá e resolver, porque ir ao aeroporto significa perder um dia na fila. Por isso, fomos para um hotel em Cascais, onde meus filhos têm amigos que ajudam a amenizar o sofrimento. Nós temos essa condição, mas e quem não tem? É desumano — garantiu Sivini, que diz que vai processar a companhia.

A assessoria de imprensa da TAP informou que todos os cancelamentos seguem o procedimento de reembolso mediante apresentação de notas.

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Em carta direcionada aos clientes, a presidente da TAP, Christine Ourmières-Widener, pediu desculpa e reconheceu que a crise não deve passar logo. Ela informou que as operações de voo foram do zero “para cerca de 90% dos níveis pré-pandemia de Covid-19”.

— Reconhecemos que não estamos a oferecer o serviço de excelência que planejamos e que queremos que experiencie conosco, face à crise que o transporte aéreo atravessa e que, de acordo com as previsões mais recentes, não deverá melhorar nas próximas semanas, fruto do aumento regular das viagens de lazer e de negócios. Por tudo isto, apresentamos-lhe as nossas mais sinceras desculpas — escreveu Ourmières-Widener.

Cinco novos voos do Porto ao Brasil

Enquanto o caos reinava em Lisboa, a TAP inaugurou no sábado cinco novos voos entre o Brasil e o Porto. Serão três voos semanais desde São Paulo às terças, quintas e ao sábado. E outros dois entre o Rio e a Invicta, às sextas e segundas.

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Em entrevista aos jornalistas estrangeiros em Portugal em dezembro, Ourmières-Widener garantiu que o Brasil é um mercado estratégico e adiantou a abertura de dezenas de rotas.

Os novos voos começam numa era de rusgas entre a prefeitura da cidade e a TAP, criticada pelo executivo municipal de privilegiar Lisboa.

Já o presidente do Turismo do Porto e do Norte, Luís Martins, disse que negocia com uma companhia brasileira para a cidade ser a sua base de operações no país.

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