Por Vera Araújo

Investigações como o caso Marielle e as envolvendo bicheiros resultaram na denúncia de 58 policiais pelo Gaeco

Balanço do primeiro semestre de 2024 do Grupo Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado do MP do Rio revela ainda que foi pedido o bloqueio de mais de R$ 300 milhões dos investigados


Um dos três presos durante a segunda fase da operação Jammer Reprodução

RESUMO

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GERADO EM: 05/09/2024 - 04:30

Gaeco do MP do Rio: Operações contra Crime e Corrupção

No primeiro semestre de 2024, o Gaeco do MP do Rio denunciou 58 policiais, bloqueou R$ 303 milhões em contas de investigados e realizou 42 operações contra crimes como tráfico, milícia e corrupção, incluindo casos emblemáticos como o da vereadora Marielle Franco. As ações visam combater organizações criminosas e corrupção no estado, revelando uma conexão entre grupos criminosos e milícias.

Nos seis primeiros meses deste ano, o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ) denunciou à Justiça 58 policiais civis e militares, entre ativos e inativos. Entre os casos investigados, destacam-se as operações Murder Inc. e Pretorianos, em março. A primeira, em conjunto com a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República, levou à prisão os três autores intelectuais do homicídio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista, incluindo o ex-chefe de Polícia Civil, o delegado Rivaldo Barbosa. Já na operação Pretorianos, 18 policiais militares da ativa e um policial penal, que integravam o grupo do bicheiro Rogério de Andrade, foram presos.

O Gaeco requereu ainda o bloqueio de R$ 303 milhões das contas dos investigados por integrarem organizações criminosas, tráfico de drogas, milícia armada, contravenção, pirâmide financeira e outros crimes.

Ao todo, o Gaeco ofereceu 44 ações penais à Justiça contra 325 pessoas neste primeiro semestre, em 42 operações. Entre os denunciados, 92 são servidores e ex-servidores públicos; 29 policiais militares da ativa; 11 ex-policiais ou aposentados; 12 policiais civis; dois ex-policiais civis ou aposentados; um policial penal; e três delegados de polícia. Também foram denunciados três ex-prefeitos, cinco ex-secretários municipais e mais 26 outros prestadores de serviços públicos.

Segundo o promotor Fabio Corrêa, coordenador do Gaeco, os números revelam três aspectos da atuação do grupo especializado do MPRJ: o combate às atividades das organizações criminosas; as investigações financeiras e patrimoniais; e as investigações em parceria com as corregedorias para o enfrentamento à corrupção praticada por agentes públicos.

Para o coordenador do Gaeco, não há diferença entre organizações criminosos e milícias:

— Essas facções e milícias já não têm mais uma dicotomia tão marcante. Elas aprenderam, umas com as outras, a realizar as mesmas práticas. E hoje, efetivamente, o que vale para cada um desses grupos é o território e toda a forma de exploração que eles possam exercer sob domínio em relação às pessoas que orbitam aquelas localidades — disse o promotor.

Entenda cada operação do Gaeco:

Pretorianos

Deflagrada em março, a ação teve como objetivo o cumprimento de 20 mandados de prisão e 50 de busca e apreensão. Entre eles, havia 18 policiais militares da ativa e um policial penal, que integravam o grupo liderado pelo bicheiro Rogério de Andrade. Nesta operação, o Gaeco denunciou 31 pessoas pelo crime de organização criminosa à Justiça.

Jammer

Foram cumpridos três mandados de prisão e sete de busca e apreensão contra o esquema criminoso chefiado por Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL), e Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, ambos denunciados na primeira fase da operação. O objetivo da ação foi combater a organização criminosa voltada à exploração clandestina de atividades de telecomunicação, televisão e internet, ou seja, o gatonet. Seis pessoas foram denunciadas na segunda fase da operação Jammer, que ocorreu também em março.

Murder Inc.

A Força-Tarefa Marielle e Anderson do Gaeco, a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República desencadearam, em março, a operação Murder Inc., que levou à prisão dos acusados de serem os mandantes do assassinato da parlamentar e de seu motorista, além da tentativa de homicídio contra a assessora Fernanda Chaves. Três meses depois, o Gaeco obteve a condenação do ex-policial militar Rodrigo Ferreira, conhecido como Ferreirinha, e da advogada Camila Nogueira por obstrução das investigações. Eles foram condenados a quatro anos e seis meses de prisão em regime fechado. Os promotores recorreram da sentença para aumentar a pena deles.

Ás de Ouros

A lavagem de dinheiro também foi alvo de investigação do Gaeco na operação Ás de Ouros III. A ação foi deflagrada em março para o cumprimento de oito mandados de busca e apreensão. Nesta operação, 13 pessoas foram denunciadas à Justiça pelos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Naufrágio

Em abril, houve o cumprimento de 12 mandados de prisão e oito de busca e apreensão contra integrantes de uma milícia suspeita de atuar na Comunidade Bateau Mouche, na Praça Seca, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. O Gaeco denunciou à Justiça 16 pessoas por associação criminosa, extorsão a comerciantes, empreendedores, vendedores ambulantes e mototaxistas, bem como por corrupção ativa. Entre os denunciados, estavam um policial civil e dois PMs.

Bancarrota

Para combater a exploração do jogo do bicho e de máquinas de caça-níqueis, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em 14 endereços ligados ao contraventor José Caruzzo Escafura, o Piruinha, em abril.

Escritório do Crime

Em maio, o Gaeco conseguiu a condenação dos irmãos Leandro Gouvêa da Silva e Leonardo Gouvêa da Silva, conhecidos como 'Tonhão' e 'Mad', integrantes da organização criminosa conhecida como Escritório do Crime, no IV Tribunal do Júri da Capital. Eles foram condenados a 26 anos e oito meses de reclusão, em regime fechado. Os dois foram denunciados em maio de 2020 pelo crime de homicídio qualificado de Marcelo Diotti.

Força-Tarefa contra a ocupação irregular

No combate às construções ilegais e ocupações irregulares na cidade, a Força-Tarefa de Enfrentamento à Ocupação Irregular do Solo Urbano (Gaeco/FT-OIS) atuou junto com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP) em operações de demolição de imóveis construídos irregularmente em áreas dominadas pelo tráfico e pela milícia. Em maio, o MPRJ e o município de Maricá firmaram um acordo de cooperação técnica semelhante ao que foi feito com a capital, com o mesmo objetivo. Além de evitar os danos decorrentes dessas invasões, a finalidade é inibir a ação de organizações criminosas que se valem dessas construções para se fortalecer e estabelecer domínio sobre o território e as comunidades.

Ruptura

Em junho, o Gaeco cumpriu 19 mandados de busca e apreensão decorrentes de investigação de crimes de constituição de milícia privada e lavagem de capitais cometidos por integrantes da organização criminosa conhecida como "Bonde do Varão", atuante em Nova Iguaçu.

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