De noite em barrica a 'alquimia' com vinho do Porto, o luxo da simplicidade à beira do Rio Douro, em Portugal

Atração popular entre brasileiros no norte do país, hotel e vinícola Quinta da Pacheca lança uma nova experiência exclusiva

Por Gian Amato, Especial Para O Globo


Os quartos em forma de barrica de vinho são grandes atrações da Quinta da Pacheca, em Lamego, no Norte de Portugal Divulgação

Destino bastante popular entre brasileiros que visitam Portugal, o hotel da Quinta da Pacheca recebeu recentemente do Turismo do Porto e Norte a classificação cinco estrelas. Para celebrar, a bicentenária empresa produtora de vinho de Lamego criou uma experiência que pretende valorizar o maior luxo da região: a vida simples à beira do Rio Douro.

Sócia do grupo que detém a Pacheca, Maria do Céu Gonçalves nasceu na pequena Boticas, em Trás-Os-Montes. Seguiu a tradição de uma das regiões com mais emigrantes em Portugal e se mudou com a família, ainda criança, para a França. Voltar nas férias à terra natal significava resgatar a sua origem. Como faz agora boa parte dos hóspedes brasileiros.

— Quero que se sintam como se estivessem na casa da avó, como acontecia quando eu vinha da França. A sopa servida por ela era o melhor cinco estrelas. Vinha da horta para o prato — lembrou Maria do Céu.

Veja imagens da Quinta da Pacheca, hotel e produtora de vinhos no Norte de Portugal

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Popular atrativo em Lamego, na região do Rio Douro, acaba de lançar uma nova experiência para os visitantes

A valorização da terra é a base do programa de enoturismo Pacheca Flamour Experience. Apesar de combinar duas palavras em inglês (flavour e glamour) para tornar a ideia mais global, a força local se impõe.

A junção também sinaliza o movimento em direção ao mercado norte-americano, que só fica atrás do brasileiro. Em janeiro de 2022, 70% da ocupação foi de hóspedes do Brasil, um recorde no hotel de 50 quartos. Ao longo de doto o ano de 2023, 40% dos hóspedes foram brasileiros e 30% dos EUA.

Os brasileiros também lideram o número de pernoites nas dez barricas de vinho gigantes da parte alta da quinta. Segundo a diretora adjunta Sandra Dias, 50% das suítes com arquitetura inovadora e compacta têm sido ocupadas pelos hóspedes do Brasil.

— (As brasileiras) chegam cheias de malas, mas querem dormir nas barricas. E dão jeito, adoram fazer muitas fotos — contou Sandra.

Da horta ao prato

O passeio de jipe pelas vinhas até o Pacheca Nature, área revitalizada da Quinta da Pacheca, na região do Rio Douro, em Portugal — Foto: Divulgação / Pedro Sarmento Costa

A visita começa percorrendo de jipe as vinhas até o Pacheca Nature, projeto que reabilitou a zona ribeirinha da propriedade, pretende atualizar a tradição da horta para o prato e resgatar o interesse na identificação e conservação de plantas do campo. Em meio às ruínas de uma cozinha de fogo à beira do Douro, facilita a aproximação do visitante com o rio e com o conceito de sustentabilidade. A ideia é fazer parte do programa Biosfera, da ONU, que promove o desenvolvimento sustentável das comunidades locais.

— É na imersão na natureza e na interação com o agricultor que as pessoas têm mais interesse. Querem conhecer a mão de obra local e 95% da nossa equipe são profissionais da região. Tentamos reter talentos e minimizar o impacto do êxodo, da fuga para o litoral — explicou o diretor de marketing, Ricardo Santos.

O almoço ao ar livre é preparado em uma fogueira pelo chef Carlos Pires, também natural de Trás-Os-Montes, mais especificamente da aldeia de Samil. Ele conta que usa receitas tradicionais de comidas de pote, cozidas em panelas de ferro diretamente no fogo, algo comum nas aldeias durante a ceia (ou consoada, como também é chamada por lá) portuguesa na véspera do Natal.

No almoço da Quinta da Pacheca, servido ao ar livre, os pratos são feitos com ingredientes locais e receitas tradicionais do Norte de Portugal — Foto: Divulgação / Pedro Sarmento Costa

O consenso é que o cardápio simples, harmonizado com o Reserva Branco 2022 e o Reserva Vinhas Velhas 2021, é uma redescoberta óbvia do que estava esquecido e só pode ser apreciado sem pressa, ao ritmo do trem que se arrasta ao longe pelos contornos do Vale do Douro e se integra à paisagem dos socalcos, os tradicionais terraços para cultivo das parreiras nas encostas das colinas. Entre enchidos, espetos de porco e polvo e milhos cremosos com carne em vinha de alho, o caldo de cebola honra a sopa cinco estrelas da casa da avó.

A tarde é reservada às atividades diretamente ligadas ao vinho. A primeira delas é o “wine blending” com a enóloga Maria Serpa Pimentel, referência na área e descendente da família Serpa Pimentel, que comprou a quinta no início do Século XX e vendeu, mais recentemente, ao grupo Terras e Terroir.

Ela tenta ensinar como chegar a um vinho do Porto 30 anos fazendo a mistura com as demais safras, explicando como as tonalidades representam as idades da bebida e como poupar para não desperdiçar a produção. Com edições de 1950 a 2015, os entusiastas e alguns mais entendidos fazem alquimia em uma proveta e aprendem o quanto é difícil chegar a um resultado palatável.

— É importante as pessoas entenderem o que é o vinho do Porto e como isso não aparece do nada — afirma.

Fazendo arte

Harmonização especial na Quinta da Pacheca, em Lamego, na região do Rio Douro, em Portugal — Foto: Divulgação / Pedro Sarmento Costa

Na próxima etapa do programa, o artista residente Oscar Rodríguez mostra como desenhar à mão livre, usando temas ligados à Pacheca e ao Douro. No lugar da paleta de cores, taças de vinho, onde os pincéis são mergulhados. O resultado final é uma grande surpresa para todos.

Depois de uma pausa para o chá com infusões da Pacheca Nature e tratamento no spa, o jantar é servido na garrafeira particular dos donos da quinta. São cinco pratos harmonizados com cinco vinhos em homenagem às cinco estrelas, que foram recebidas em 2022, mas só foram divulgadas agora.

— Até agora, fizemos treinamento da equipe e ajustes, além da abertura do segundo restaurante, o Alambique, de comida compartilhada, que funciona na antiga sala de tratores — disse Álvaro Lopes, marido de Maria do Céu e também sócio.

O casal é dono de 50%. A outra metade é de Paulo Pereira, que instigou Maria Serpa Pimentel a fazer o melhor vinho do mundo, um desafio em andamento.

Antes de ir para cama na barrica, a programação da noite termina com uma sessão de cinema na adega. Em exibição, “Our story in every bottle”, filme premiado Zagreb Tourfilm Festival, em 2023, e produzido pela Pacheca, que mostra o cotidiano da quinta. No geral, é uma experiência cinematográfica que custa € 600 (R$ 3,2 mil) por pessoa, sem hospedagem.

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