Bilhete com ameaça a indigenista da Funai partiu de pescadores invasores; veja

Bruno Araújo foi coordenador regional do órgão em Atalaia do Norte (AM) e tinha estilo combativo na proteção aos povos isolados da região

Por Daniel Biasetto — Rio de Janeiro


O servidor da Funai, Bruno Araújo Pereira, desaparecido no Vale do Javari, na Amazônia. vinha recebendo ameaças de invasores — Foto: Daniel Marenco /O Globo

Ativo no combate aos invasores do Vale do Javari, região amazônica com a maior concentração de povos isolados do mundo, o indigenista Bruno Araújo Pereira, desaparecido junto com o jornalista inglês Dom Phillips durante uma viagem pelo rio Ituí, vinha recebendo ameaças constantes por parte de pescadores que praticam de maneira ilegal a retirada diária de toneladas de peixe pirarucu e tracajás, espécie de cágado muito cobiçado nos rios da Amazônia.

O GLOBO teve acesso à uma carta enviada à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) onde constam ameaças de morte contra Beto Marubo, coordenador da entidade, e o servidor da Funai.

"Sei que quem é contra nós é o Beto Índio e Bruno da Funai, quem manda os índios irem para área prender nossos motores e tomar nosso peixe. Só vou avisar dessa vez, que se continuar desse jeito, vai ser pior para vocês. Melhor se aprontarem. Tá avisado", diz trecho do documento.

Bilhete enviado por pescadores ilegais mencionam ameaças a liderança indígena e ao servidor da Funai — Foto: Reprodução

Recentemente, Bruno acompanhou a Equipe de Vigilância Indígena da Univaja (EVU) em uma incursão de uma semana Vale do Javari, onde foram apreendidos materiais de pesca, caça e dezenas de quilos de peixe e tracajás.

‘A Funai acabou’: diz Sebastião Salgado, o artista da floresta

O indigenista e o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, desapareceram no Vale do Javari, na Amazônia, quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. O Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal (PF) e o Exército já foram acionados para realizar as buscas.

Bruno Pereira é considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai e e profundo conhecedor da região, onde foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por cinco anos. Foi também por quase três anos coordenador-geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai.

Veja imagens da Terra Indígena Vale do Javari

9 fotos
 

Procurada, a Funai afirma que acompanha o caso, está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas. "Cumpre esclarecer que, embora o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira integre o quadro de servidores da Funai, ele não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares", diz a nota.

Localizada no oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, a Terra Indígena Vale do Javari teve seu processo de demarcação finalizado no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, e possui uma extensão territorial equivalente a quase dois estados do Rio de Janeiro (85,4 mil km²). É considerada a segunda maior demarcação depois da Terra Yanomami (96, 6 mil km²), homologada em 1992, pelo ex-presidente Fernando Collor.

Mais recente Próxima