Avó de criança com paralisia disse em depoimento que sabia da 'estratégia digital' do filho para atrair mais doações

Após confrontar o filho sobre os abusos sobre a imagem da menina de dois anos, a familiar foi proibida pelo filho de ver Sophia

Por — Rio de Janeiro


Igor Viana e Ana Santi com a filha Reprodução

RESUMO

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GERADO EM: 26/06/2024 - 08:48

Investigação de influenciadores por desvio de doações

Polícia investiga influenciadores que podem ter usado doações para benefício próprio, incluindo cirurgia plástica. Casal também é acusado de maus-tratos à filha com paralisia cerebral. Avós paternos assumem cuidados da criança. Influenciador tentou fugir com a criança, mas foi impedido pela polícia.

A Polícia Civil de Goiás recebeu denúncias e apura se a influenciadora Ana Santi, de 22 anos, usou dinheiro de doações para a filha de dois anos, que tem paralisia cerebral, para fazer uma cirurgia plástica. Segundo as investigações, a avó paterna sabia da "estratégia digital" de Igor para conseguir mais doações para a filha. Nesta terça-feira, o Conselho Tutelar de Anápolis encaminhou a menina Sophia para a casa dos avós paternos após Ana e o pai da criança, Igor Viana, de 24 anos, serem denunciados por maus-tratos.

Os pais de Igor, que agora cuidam da menina, ficaram em choque no momento em que foram contatados pelo Conselho Tutelar e contaram que Igor havia proibido o contato dos avós com a menina. Segundo afirmou ao GLOBO a delegada Aline Cardoso, responsável pelo caso em Anápolis, a avó paterna sabia da "estratégia" de Igor, mas que não concordava com as atitudes do filho, mas que ele justificava produzir esse tipo de “conteúdo agressivo” para gerar mais renda para o tratamento.

— Ela afirmou que questionava os filhos sobre as postagens, que não concordava com aquilo tudo. Mas segundo a avó, Igor justificava que aquilo era “só um show” para atrair mais seguidores, e que atrás das redes, ela imaginava que ele cuidava bem da menina — disse a delegada.

Segundo o Conselho Tutelar, o influenciador tentou impedir a ação dos agentes, ensaiou uma fuga com a criança e foi necessário chamar a Polícia Militar para auxiliar na operação. Na tentativa de convencer os conselheiros de que poderia ficar com a criança, Igor usou “artimanhas de influenciador” e chegou ao ponto de imitar a criança com gestos e caretas.

— A mãe não tem nenhum trabalho fixo, afirmou que se fosse celetista, não conseguiria arcar com as despesas da menina. Questionei sobre como ela mantém as despesas dela, e ela respondeu que seria com o dinheiro que eles receberiam das doações. Tudo isso será investigado pela Civil. Sobre a menina, ela continua na casa dos avós paternos, que estão dando continuidade ao tratamento e levando nas sessões de fisioterapia e fono — contou ao GLOBO Grazielle Ramos, do Conselho Tutelar de Anápolis.

Desvio de doações

A polícia recebeu algumas denúncias que indicam que os pais podem ter usado os recursos pedidos nas redes sociais para bens próprios. Além de procedimentos estéticos, o casal também teria arrecadado dinheiro para uma geladeira que, posteriormente, foi doada para eles. Apesar disso, não houve devolução dos recursos ou prestação de contas.

— Houve denúncias nesse sentido. A mãe foi ouvida ontem, e nega essa informação. Afirma que só fez um procedimento, por parceria. Eles também teriam ganhado uma geladeira de uma seguidora e não publicaram isso. Ficaram com o dinheiro, falando que compraram a geladeira, quando na verdade ganharam uma. Outras pessoas serão ouvidas hoje a fim de esclarecermos esse e outros pontos. O intuito era sempre arrecadar mais e mais, mesmo que fosse enganando os seguidores — afirmou ao GLOBO a delegada Aline Cardoso, responsável pelo caso em Anápolis.

Segundo a delegada, embora o casal negue as acusações — ela em depoimento, e ele em entrevista — há muitos pontos que depõem contra Igor e Ana. Em um dos vídeos investigados, Igor chama a filha de inútil após pedir que ela vá ao mercado. Essa foi uma das frases que viralizaram e chegaram até a Polícia Civil de Goiás, que também recebeu denúncias de que a menina não estaria sendo bem cuidada, estava sendo negligenciada e não possuía condições de higiene.

Em posicionamento sobre o caso, Igor disse que não era "obrigado" a usar o dinheiro que os doadores enviaram à filha. "Eu também tenho necessidade de serem supridas. Também sou um ser humano", afirmou.

— O principal é o fato de que eles afirmam terem feito um acordo, para produção de um conteúdo que gerasse mais engajamento, e consequentemente maior monetização, mesmo às custas do constrangimento da filha. Os dois simulavam brigas na internet, muitas vezes na presença da filha, para chamar a atenção — disse a delegada.

O início das investigações

A investigação começou na última quinta-feira (20), em Anápolis, após denúncias de que a menina estava sendo negligenciada. Em vídeos nas redes, o pai compartilhava a rotina da filha com deboche e ironia sobre a paralisia cerebral. Em um dos vídeos investigados, ele chama a filha de inútil após pedir que ela vá ao mercado.

Igor passou a ser suspeito de maus-tratos e por causar constrangimento à criança. Mas novas denúncias continuaram chegando à polícia, alegando que o dinheiro doado pelos seguidores também era desviado para benefício dos pais.

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