Donas de página fofocas confessaram posts sobre jovem que se suicidou em MG

Três mulheres responsáveis pelo perfil, que funcionava há quatro anos, tiveram seus celulares apreendidos e são denunciadas, pela família da vítima, por difamação e perseguição

Por Anna Bustamante* — Rio de Janeiro


Polícia Civil investiga mulheres por postagens em página de fofocas que resultou em morte no Sul de Minas Reprodução EPTV

RESUMO

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GERADO EM: 02/08/2024 - 12:59

Confissão de mulheres em caso de cyberbullying fatal em MG.

Três mulheres confessam autoria de posts ofensivos em perfil de fofoca que culminaram em suicídio em MG. Celulares apreendidos e investigação em andamento desde janeiro. Família denuncia por difamação e perseguição. Delegado alerta para não alimentar perfis desse tipo nas redes sociais.

Três mulheres que administravam um perfil de fofoca "Gossipnep", nas redes sociais, na cidade de Nepomuceno (MG), confessaram à Polícia Civil de Minas Gerais que foram responsáveis por mensagens ofensivas à Natália Adonmiram, jovem de 20 anos que tirou a própria vida no dia 26 de julho, após às publicações. Segundo o advogado da família, a página coleciona outras vítimas e é, de acordo com as autoridades, investigada desde janeiro deste ano.

Além da confissão, a polícia Civil informou ao GLOBO, em nota, que "os celulares das três mulheres foram apreendidos e serão analisados para confirmar a origem das mensagens que eram publicadas". A investigação do perfil, no entanto, não começou agora. Segundo as autoridades, a Gossipnep já era acusada por outras vítimas.

— A investigação não começou hoje nem semana passada, ela já vinha sendo realizada desde janeiro deste ano — disse o delegado de Nepomuceno, Bruno Bastos, em uma entrevista coletiva. Ele diz, ainda, que estavam esperando os mandados de busca e apreensão serem expedidos para que, então, pudessem realizar a apreensão dos aparelhos celulares. — Nesse intervalo de tempo teve o acontecimento que estaria relacionado às publicações da página — justificou.

De acordo com Marcelo Adonmiram, advogado da família, o crime vai muito além de difamação, visto que culminou no suicídio da vítima. Ele enquadra a elas o crime de perseguição, cuja pena vai de seis meses a dois anos de prisão.

— Com o crescimento do meio digital as pessoas tendem a esperar que o mundo por de trás das telas seja uma terra sem lei, o que não é — disse o advogado, em entrevista ao GLOBO.

A Gossipnep fazia postagens expondo os moradores de Nepomuceno há cerca de quatro anos. Para a cidade mineira de poucos habitantes, cerca de 22 mil, o perfil era conhecido apenas como uma página de fofocas. Já para quem era citado nos posts, o perfil era muito mais que isso. Uma dessas pessoas, Natália Adonmiram, de 20 anos, tirou a própria vida.

Polícia Civil investiga mulheres por postagens em página de fofocas que resultou em morte no Sul de Minas — Foto: Reprodução EPTV

Antes de confessarem a autoria dos posts, as três mulheres disseram não se recordar de nenhuma publicação recente que tenha sido feita pela página delas, com relação à Natália.

— Segundo elas, elas estavam com tédio e resolveram criar uma página para se divertir — disse o delegado na coletiva, acrescentando a justificativa de que elas apenas repostavam as fofocas que as pessoas mandavam por mensagem para a página, que tinha cerca de 8 mil seguidores.

A família de Natália Adonmiram espera uma solução eficaz do crime e busca reunir outras vítimas para ajudar no caso.

— Estamos coletando o maior número de pessoas que sofreram ataques para dar início a vários processos criminais, com o intuito de cumular todas as penas e manter as responsáveis presas em regime fechado, o que complementaria a justiça esperada — expressou o advogado.

O delegado Bruno Bastos ressaltou a importância de não dar força a esse tipo de perfil nas redes sociais, visto que os seguidores colaboravam e participavam dos posts.

— A página tinha oito mil seguidores, quase um terço da população de Nepomuceno seguia a página. Então cadê essas pessoas? Se não existisse esse ibope a página não existira. As pessoas têm que colocar a mão na consciência e pensar se tiveram participação nisso também — disse o delegado, na entrevista coletiva.

Procurada pelo O Globo, a defesa das três investigadas ainda não se manifestou.

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