Banco de fomento da América Latina vai oferecer até R$ 3,8 bilhões ao RS para reconstrução e ações emergenciais

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul e Programa de Reconstrução e Resiliência Climática foram os mais beneficiados com recursos

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Escola Aurélio Porto, em Montenegro, no Vale do Taquari, parcialmente submersa por enchente Secretaria de Educação do RS

O Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) vai disponibilizar até R$ 3,8 bilhões (US$ 746 milhões), entre recursos novos e a realocação de linhas de crédito já aprovadas, para ajudar a mitigar os efeitos das inundações no Rio Grande do Sul. Os recursos, assim como ajuda técnica, serão destinados tanto a necessidades emergenciais como para obras de reconstrução da infraestrutura no Estado.

Do total, R$ 306 milhões foram de uma linha de crédito para o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), com juros reduzidos e prazos esticados, que serão destinados à reconstrução de moradias, auxílio à micro e pequenas empresa, ações de melhoria do habitat e reconstrução de infraestrutura. Outros R$ 382 milhões deverão ser destinados ao Programa de Reconstrução e Resiliência Climática do governo brasileiro.

O CAF também tem a disposição R$ 408 milhões em recursos que já havia sido aprovados pela Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) para a prefeitura de Porto Alegre por meio do Programa de Inovação Social e Transformação Territorial. O financiamento poderá ser destinado, agora, à reconstrução da capital gaúcha.

Ao Valor, o presidente da instituição, Sergio Díaz-Granados, lembrou que o banco tem histórico de atuação em outras zonas surpreendidas por desastres climáticos, como os incêndios florestais no Chile e deslizamentos de encostas na Bolívia, ambos no começo deste ano.

— No caso do Rio Grande do Sul, ficamos duplamente comovidos. Tanto pela solidariedade em relação às famílias atingidas pelas enchentes como pela relação histórica de proximidade com prefeituras da região, como Porto Alegre e Canoas

— O que estes eventos mostram é que a região precisa se preparar melhor para as mudanças climáticas. É preciso recapacitar e repensar os governos para fazer frente a eventos cada vez mais extremos e mais frequentes — prossegue o dirigente. — Não faz um ano estávamos discutindo problemas de abastecimento de água em Montevidéu e quebra de safra na Argentina e Paraguai por causa da seca.

O grosso dos recursos, R$ 2,55 bilhões, é de uma linha de crédito para o BNDES aprovada em 2023, mas que ainda não entrou em operação. Originalmente aprovada para atender micro, pequenas e médias empresas, essa linha pode ser colocada disposição para ações de emergência no Estado.

Anteriormente, o banco já havia anunciado a doação de R$ 1,2 milhão para apoiar trabalhos de emergência e outros R$ 5 milhões em cooperações para o Ministério do Planejamento e Orçamento, também disponíveis para o uso imediato.

Díaz-Granados está no Brasil para dois eventos. O primeiro deles é a etapa final do concurso para a criação de um logo de identificação dos produtos e serviços da região, apresentando uma marca regional da América Latina e Caribe. Inspirado em iniciativas como o Brand Africa e o Team Europe, a ideia é que a logomarca ajude os países latino-americanos e caribenhos a ter presença mais reconhecível para o empresariado e o público geral na hora de atrair o turismo, o comércio intrarregional e os investimentos que miram transição climática.

A competição, que teve mais de 500 inscritos, selecionou cinco equipes para a última fase. Os finalistas estão em São Paulo desde domingo (12), participando de uma imersão que irá apresentar os trabalhos a uma comissão de jurados — um dos escolhidos, inclusive, não conseguiu deixar Porto Alegre e participa de forma virtual. O resultado final será anunciado na próxima quarta-feira (15), em evento no Memorial da América Latina.

"Queremos que a região seja melhor compreendida como uma de oportunidades e soluções. Há mercados em que podemos ter presença maior e melhor se chegamos unidos”, diz Díaz-Granados. “Na transição climática, não é possível pensar em solução sem passar pela América Latina e Caribe, seja pela floresta amazônica, seja por outros biomas como os Andes ou a Patagônia.”

O presidente do CAF também veio inaugurar o escritório de São Paulo — o país é o único em que o banco tem dois endereços. A capital paulista concentrará todas as atividades ligadas ao setor privado. “Sabemos que São Paulo tem uma indústria forte de venture capital e da sua importância para todo o setor privado para a região. Queremos aproveitar a ocasião da criação deste logo para posicionar também São Paulo como hub financeiro do CAF”, diz.

No Brasil, o banco está presente em 36 financiamentos, totalizando US$ 3,4 bilhões, além de outros US 865 milhões em operações com o setor privado. O maior projeto em que está envolvido é a extensão da linha 2-Verde do Metrô de São Paulo, em que financia US$ 550 milhões. O CAF também participa do Rotas de Integração, que planeja investir US$ 10 bilhões a projetos de infraestrutura que para melhorar a integração. O projeto é feito em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), BNDES e o Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fomplata).

Ministro do Comércio e da Indústria da Colômbia entre 2010 e 2013, no governo Juan Manuel Santos, Díaz-Granados está à frente do CAF desde setembro de 2021 e assumiu com o plano de converter o CAF no "banco verde da América Latina", ampliando a atuação em infraestruturas sustentáveis e resilientes.

Questionado sobre como é a recepção da classe política a esse novo tipo de projeto, Díaz-Granados diz que muitos prefeitos do Brasil têm consciência dessa nova realidade. “Sinto que os prefeitos estão mais cientes do que as mudanças climáticas implicam. Quero crer que eventos como o do Rio Grande do Sul vão ajudar tanto a opinião pública quanto os governantes a assumir responsabilidade maior.”

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