De ídolo da Disney ao sonho do Oscar: como Zac Efron reconstruiu sua carreira após um acidente e anos de ostracismo

Lutando para deixar para trás o papel de ídolo adolescente e as fases mais sombrias da vida, o ator desponta na corrida pela estatueta graças ao papel em ‘Garra de ferro’

Por , Em El País — Madrid


Zac Efron, em 'Garra de ferro' A24

"O que aconteceu com o rosto de Zac Efron?" é uma das perguntas mais repetidas na imprensa internacional nos últimos dois meses. Assim como ocorreu anteriormente com estrelas do calibre de Demi Moore, Renée Zellweger ou Meg Ryan, a atenção pública e as especulações sobre possíveis procedimentos estéticos agora se concentram neste californiano de 36 anos que ganhou popularidade por seu papel principal em “High school musical”.

No caso dele, o aspecto "irreconhecível" é atribuído a maçãs do rosto um pouco inchadas e à linha da mandíbula visivelmente diferente do habitual, apesar de o ator explicar há anos que sua mudança física se deve a um grave acidente doméstico que o obrigou a passar por uma reconstrução facial completa.

O debate sobre o rosto do ator foi tão generalizado que o que foi chamado de "garoto maravilha da Disney" teve que admitir que até sua mãe o havia ligado para perguntar se havia feito procedimentos estéticos sem o conhecimento dela. Essas especulações ressurgem agora com o lançamento do aclamado último filme de Efron, "Garra de ferro", baseado na história real dos Von Erich, uma família de profissionais de luta livre (wrestling) marcada pela tragédia. O filme colocou o ator pela primeira vez na corrida para os próximos prêmios do Oscar, depois de anos vagando sem muito destaque na indústria. Será que ele finalmente conquistará o título de campeão?

Transformação no rosto de Zac Efron foi causado por uma fratura na mandíbula. Ator precisou passar por cirurgia — Foto: Reprodução/ Instagram

A primeira evidência de que 2024 pode se tornar o ano do renascimento de Zac Efron remonta ao dia 11 de dezembro passado, quando ele descobriu sua estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Um reconhecimento aos 18 anos que se passaram desde que ele deu vida a Troy Bolton em “High school musical”, e um lembrete de seu status na indústria que será de grande utilidade para o laureado, como afirmou o ator Jeremy Allen-White:

— É como se Zac Efron não soubesse que é uma grande estrela de cinema. Então, para que ele nunca mais esqueça, estamos todos aqui hoje para lembrá-lo colocando uma estrela no chão com seu nome — disse o protagonista da série “O urso” e seu colega de elenco em “Garra de ferro”.

Nas redes sociais, o drama independente já despertou uma apaixonada campanha em apoio aos méritos de Zac Efron, com centenas de comentários clamando por uma indicação. Aqui estão exemplos passados, como Brendan Fraser, Jamie Lee Curtis, Jennifer Lopez, Matthew McConaughey... A reivindicação e legitimação por parte do público de um rosto familiar de Hollywood, nunca antes apreciado pelos críticos, é uma das tradições mais poderosas em cada temporada de premiações, e Efron surge este ano como o perfeito embaixador desses anseios.

— É loucura. Nem quero pensar nisso. Acabei de receber uma estrela, então preciso me conter um pouco. Estou satisfeito com o que tenho — respondeu ao ser questionado sobre os rumores de uma estatueta.

Os acadêmicos fariam bem em prestar atenção ao perfil do ator, pois, apesar de sua idade jovem, sua trajetória preenche cada caixa das estereotipadas histórias de redenção tão apreciadas por Hollywood. Depois de se tornar um ídolo para a geração millenium, Efron não conseguiu encontrar um espaço na maturidade cinematográfica e acumulou fracassos notáveis de crítica e público, como em "Dirty grandpa" ou na adaptação de "Baywatch". A trajetória do ator foi ainda prejudicada por uma luta contra a dependência de álcool e drogas, que o levou a ingressar em uma clínica de reabilitação em 2013, descrevendo o consumo como o "lubrificante social" necessário para lidar com a pressão midiática que havia se abatido sobre ele desde o início de sua carreira. Pouco depois, o nome dele estava nas manchetes por ter se envolvido em uma briga com uma pessoa em situação de rua em um bairro de Los Angeles.

Zac Efron já não era Troy Bolton. Não era o rei da festa de formatura, nem o capitão do time de basquete, nem quem liderava o musical da escola. Seu futuro na indústria cinematográfica estava pendurado por um fio. “Sou um ser humano e cometi muitos erros. Aprendi com cada um deles”, confirmou ao The Hollywood Reporter.

Talvez devido ao escrutínio ao qual estava submetido, ou ao tentar expandir seu charme jovial além dos 30 anos, Efron decidiu transformar seu corpo na academia e exibir um físico musculoso do qual, com o tempo, também se arrependeu.

— Não era uma imagem realista — disse no programa de Ellen DeGeneres —, não quero que ninguém pense que essa é a imagem mais saudável que alguém pode projetar. Não é glamoroso. Conformem-se em serem felizes com o tamanho de vocês.

Diante da impossibilidade de avançar para o próximo nível em Hollywood, a decisão de se mudar para as idílicas costas australianas de Byron Bay — a mesma localidade onde residem Elsa Pataky e Chris Hemsworth — no início deste século parecia ser uma capitulação definitiva de sua parte. Ele vendeu sua mansão em Los Angeles por mais de cinco milhões de euros, se apaixonou por Vanessa Valladares, uma garçonete de um restaurante local, e deixou de lado sua faceta de ator para protagonizar uma série documental sobre consciência ecológica e sustentabilidade na Netflix, "Curta essa com Zac Efron".

No entanto, o relacionamento amoroso mal completou um ano e a plataforma cancelou a série neste verão, justo quando acabara de estrear sua segunda temporada, deixando o ator novamente diante da necessidade de se reinventar. Felizmente para ele, e para os fãs que esperam quase duas décadas para vê-lo brilhar, o papel principal em "Garra de ferro" estava a apenas alguns meses de distância. Porque não há ninguém melhor que Zac Efron na meca do cinema para subir ao ringue interpretando um anti-herói marcado pelo sucesso precoce, golpes baixos e um físico tão hipertrofiado quanto a intensidade dos holofotes voltados para sua figura. Veremos se os tapetes vermelhos futuros reconhecerão isso.

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