Léa Garcia é homenageada no Oscar, em tributo 'in memorian' a artistas

Atriz, que morreu aos 90 anos em 2023, participou do filme 'Orfeu Negro' (1959) e recebeu indicação ao Festival de Cannes; relembre

Por O GLOBO — Rio de Janeiro


Atriz Lea Garcia Leo Martins / Agencia O Globo

A atriz Léa Garcia foi homenageada pelo Oscar, neste domingo (10), em tributo "in memorian" a artistas durante a cerimônia. Em momento tradicional da premiação, o nome da carioca — que morreu, aos 90 anos, em agosto de 2023, em decorrência de um infarto — apareceu numa lista no telão do Dolby Theatre, em Hollywood, nos EUA, ao lado de outros profissionais notáveis da indústria cinematográfica, como o escritor americano Cormac McCarthy (autor do livro que inspirou o filme "Onde os fracos não têm vez") e o ícone do cinema de vanguarda Kenneth Anger.

A carioca Léa Lucas Garcia de Aguiar estreou nos palcos aos 19 anos de idade, na peça "Rapsódia Negra", de Abdias do Nascimento. Foi o intelectual e criador do Teatro Experimental do Negro (TEN) quem apontou seu talento quando a conheceu no ponto do bonde, em 1950, na Praia de Botafogo, na Zona Sul carioca.

Nome de Léa Garcia aparece em telão do Oscar (no alto, à direita), durante homenagem a artistas que morreram no último ano — Foto: Reprodução/TNT

— Estava indo buscar minha avó para levá-la ao cinema quando uma pessoa veio ao meu encontro e perguntou: ‘Você não gostaria de fazer teatro?’” — contou Léa ao GLOBO, numa entrevista em 2022.

Léa, então, se apaixonou — não só por Abdias, com quem teve teve dois filhos (Henrique Christovão Garcia do Nascimento e Abdias do Nascimento Filho), mas pelo universo artístico. Deixou o sonho de ser escritora (o pai a queria contadora) e seguiu carreira nas artes cênicas. Em 1956, esteve no elenco da peça "Orfeu da Conceição", de Vinicius de Moraes. Ela também participou do filme "Orfeu Negro", dirigido pelo francês Marcel Camus um ano depois. Sua atuação rendeu-lhe uma indicação ao prêmio de interpretação feminina no Festival de Cannes.

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Foram mais de 30 participações no cinema, entre curtas e longas-metragens, que renderam a Léa prêmios nacionais e internacionais. Além da indicação como melhor atriz do Festival de Cannes com "Orfeu negro", seu primeiro filme, a carioca foi eleita melhor atriz, inclusive pelo júri popular, do Festival de Gramado por "Filhas do vento" (2005), de Joel Zito Araújo.

O Festival de Gramado a premiou novamente com menção honrosa do júri pelo curta "Hoje tem Ragu", de Raul Labancca, em 2008, e em 2013 como melhor atriz de curta-metragem por "Acalanto" (2012), de Arturo Saboia, baseado num conto de Mia Couto. Este mesmo curta lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Brazilian Film Festival of Toronto, no Canadá. Seu último filme foi "Barba, Cabelo & Bigode" (2022), da Netflix, dirigido por Rodrigo França.

Sucesso na TV

Léa esteve no elenco de sucessos da TV Globo como "Selva de pedra", de Janete Clair, exibida em 1972, e "Escrava Isaura", adaptação de Gilberto Braga para a obra de Bernardo Guimarães, no ar em 1976. Nesta novela, fez sua primeira vilã e sofreu represálias na rua.

Na TV, a primeira novela de Léa foi "Acorrentados", de 1969, na Record. Antes disso, participou de programas como "Grande Teatro", da TV Tupi, e "Vendem-se Terrenos no Céu". Sua estreia na TV Globo aconteceu em 1970, em "Assim na Terra como no Céu", obra de Dias Gomes.

Léa Garcia em cena do filme "Orfeu Negro", de 1959 — Foto: Divulgação

A artista costumava dizer que "Escrava Isaura" era seu "cartão de visitas". "Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa (personagem de Léa) acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou", disse Léa ao site "Memória Globo".

Na TV Manchete, fez parte de "Dona Beija", em 1986, escrita por Wilson Aguiar Filho, "Tocaia grande", de Duca Rachid baseada na obra de Jorge Amado, exibida em 1995, e "Xica da Silva", de 1996, escrita por Walcyr Carrasco.

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Nos anos 2000, participou ainda de "O Clone", em 2002, novela de Glória Perez na TV Globo; "A Lei e o Crime", em 2009, de Marcílio Moraes para a Record; a série do Globoplay "Assédio", em 2018, escrita por Maria Camargo, entre outras participações. No dia 25 de agosto, entra no ar no Canal Brasil "Vizinhos", um de seus últimos trabalhos.

Léa estava cotada também para participar do remake da novela "Renascer", de Bruno Luperi, baseada na obra de Benedito Ruy Barbosa.

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