Por acessibilidade, Flip convida poeta surdo pela primeira vez e Paraty pensa em solução para o Centro Histórico tombado pelo Iphan

Auditórios oficiais recebem pessoas com baixa mobilidade ou cadeirantes com rampas de acesso e chão nivelado com o uso de brita; Mesas principais contam com intérprete de libras e fones de ouvido com audiodescrição

Por — Paraty (RJ)


Flip e prefeitura de Paraty pensam em como aumentar a acessibilidade na Festa: Carlos Eduardo Pereira, autor semifinalista do Jabuti 2023 Domingos Peixoto

As famosas ruas de pedra que compõem o Centro Histórico de Paraty seguem instagramáveis e atraentes aos olhos, mas pouco inclusivas. Por isso, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) fez esforços para tornar a programação mais abrangente. Pela primeira vez, na programação principal, a organização convidou um escritor surdo para participar de uma das mesas, o poeta ucraniano Ilya Kaminsky.

Na programação paralela, Maria Carvalhosa, uma das idealizadoras da Supersônica, editora de audiolivros, é cega e participou de debate na Casa Publishnews: “Audiobook - performance e acessibilidade”. Ao lado de seu cão guia, o Café, Maria falou da dificuldade de se locomover pela cidade e da necessidade de trazer qualidade editorial para os livros em áudio, sua missão profissional.

Flip 2023: Maria Carvalhosa, uma das idealizadoras da Supersônica, editora de audiolivros — Foto: Domingos Peixoto

O autor do livro semifinalista do Prêmio Jabuti 2023 “Agora agora”, Carlos Eduardo Pereira, reforça a necessidade e importância de ocupar os espaços mesmo que sejam de difícil acesso aos PCDs. Ele, que é cadeirante, conta que esse ano conseguiu pela primeira vez uma autorização da guarda municipal para poder entrar de carro no Centro Histórico e chegar em seus compromissos como escritor.

— As pessoas ainda não entenderam que deficiente é a coisa mais legal que existe. Não entenderam que abraçar a causa PCD é você ter uma compreensão mais completa do que é o corpo, a vida e as possibilidades. Quando virarem essa chave talvez tenham mais vontade de colocar medidas em prática que já são lei — opina Maria, que acrescenta como a falta pode ser benéfica em uma produção literária. — A falta ou a falha de um sentido pode ter um potencial criativo, ela redimensiona o mundo. A maioria das pessoas vai ficar deficiente em algum momento da vida e dá para abraçar e observar isso de maneira artística.

— Dependendo do lugar, as pessoas nem me chamam por ser um terreno que é difícil para locomoção, e até entendo. Mas é justamente por conta dessas dificuldades e pela visibilidade que eu faço questão de estar presente. É uma forma de militância e quando isso se tornar minimamente acessível vai trazer mais público, mais gente interessada — diz Carlos Eduardo.

O espaço com auditórios oficiais da Flip está preparado para receber pessoas com baixa mobilidade ou cadeirantes com rampas de acesso e chão nivelado com o uso de brita. Todas as mesas principais contam também com um intérprete de libras e a organização também disponibiliza fones de ouvido com audiodescrição.

Já a prefeitura de Paraty, afirmou que vem tentando junto ao Iphan uma solução para o Centro Histórico, que é tombado. A nota enviada ao GLOBO diz que “em razão do tombamento, houve a necessidade de se pesquisar um tipo de piso adequado, que não interferisse nas características arquitetônicas do Centro Histórico. O projeto-piloto de rampas que serão instaladas em corredores culturais está em fase de conclusão no acesso ao estacionamento da Praça da Matriz”. Ainda de acordo com o município, ano passado, a Secretaria Municipal de Turismo iniciou um trabalho de orientação à rede hoteleira para a implantação de projetos de acessibilidade.

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