Fama ou família: Memórias do príncipe Harry saem em janeiro e público especula quanto ele vai revelar

Após meses de especulações, livro ganhou data de publicação nos EUA e Reino Unido

Por Elizabeth A. Harris e Alexandra Alter, The New York Times


Príncipe Harry e Meghan Markle durante o festival Global Citizen Live, em Nova York, em 2021 Angela Weiss / AFP

Parecia inevitável, e aconteceu: o príncipe Harry, vivendo em um exílio auto-imposto após sua saída tempestuosa da família real britânica, está escrevendo uma autobiografia. Após meses de especulação frenética, o livro tem data de publicação: 10 de janeiro de 2023, segundo executivos do setor.

O livro de memórias, que, no Brasil, será publicado pela Editora Objetiva, foi inicialmente programado para o final de 2022 e deve ser um sucesso de vendas. Foi parte de um esforço mais amplo de Harry e Meghan Markle, o duque e a duquesa de Sussex, para construir suas marcas como magnatas da mídia: além do contrato do livro, pelo qual receberam pelo menos US$ 20 milhões, o casal assinou acordos lucrativos com Netflix e Spotify.

A força do casal como celebridades — e a disposição de falar com franqueza incomum e pouco lisonjeira sobre um assunto normalmente envolto em segredos — já apareceu numa entrevista com Oprah Winfrey, em 2021, que atraiu mais de 17 milhões de espectadores apenas nos Estados Unidos. Na época, a conversa trouxe acusações de que a família real não apoiou o casal em meio a ataques de tablóides e fez comentários racistas quando Meghan estava grávida, refletindo sobre qual seria o tom de pele do bebê.

Muita coisa mudou desde então.

Desconforto após morte da rainha

Veja imagens do funeral de estado da Rainha Elizabeth II

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Após a morte da rainha Elizabeth II, no mês passado, qualquer ataque que o livro de memórias faça a membros da família real, ou à monarquia, pode parecer impróprio para muitos leitores. Harry ficou em dúvidas sobre o conteúdo do livro em vários momentos, disseram executivos da indústria com conhecimento do caso, e o projeto sofreu com rumores, atrasos e sigilo.

O livro será publicado em um momento delicado para a monarquia britânica e para o público, que ainda está se ajustando ao rei Charles III e sofrendo com a instabilidade econômica e política. Seu lançamento também coloca Harry em uma situação difícil. Revelações negativas podem prejudicar a monarquia e seu relacionamento com sua família. Mas um conteúdo mais contido diminuiria as vendas, tornando mais difícil para a editora recuperar o considerável investimento, e corroendo a imagem de Harry como o príncipe rebelde e que diz a verdade.

— O objetivo dele é aumentar seu status de celebridade com um determinado setor do público, ou reparar a rixa com sua família? — questiona o agente literário Matt Latimer, cofundador da agência Javelin, que representa políticos e figuras públicas como James Comey, ex-diretor do FBI, e John Bolton, ex-assessor de segurança nacional. — Essas são metas concorrentes até certo ponto, e é difícil fazer as duas coisas.

A Penguin Random House se recusou a comentar. Um representante de Harry e Meghan também se recusou a comentar.

Sinceridade ou proteção

Príncipe Harry em maio de 2021 — Foto: VALERIE MACON / AFP

O livro de memórias tem sido objeto de intensa especulação no mundo editorial e entre quem acompanha a família real. Tabloides e editores britânicos debateram o quão sincero Harry será ao revelar as causas do rompimento com sua família e quanto dano ele estará disposto a infligir à instituição da monarquia. Após a morte da rainha, alguns comentaristas políticos questionaram o valor da monarquia, e novas revelações de Harry podem alimentar o ceticismo do público em relação à instituição e seu extenso elenco de cortesãos.

— Não se esqueça, a família real britânica está lá por consentimento; eles precisam conquistar e manter o respeito do público britânico — diz Valentine Low, jornalista e autor de “Courtiers: Intrigue, Ambition and the Power Players Behind the House of Windsor”.

Quando o acordo foi anunciado pela primeira vez no verão de 2021, a Penguin Random House descreveu o livro como um livro de memórias “intimista e sincero” que traria “o relato definitivo das experiências, aventuras, perdas e lições de vida que ajudaram a moldá-lo”. O relato incluiria sua infância e maioridade como membro da realeza, seu tempo no exército, seu casamento com Meghan e suas experiências com a paternidade.

“Estou escrevendo isso não como o príncipe que nasci, mas como o homem que me tornei”, disse Harry em um comunicado divulgado por sua editora na época, acrescentando que pretendia produzir um “relato em primeira mão da minha vida que é exato e totalmente verdadeiro”.

“Eu usei muitos chapéus ao longo dos anos, literal e figurativamente, e minha esperança é que, ao contar minha história – os altos e baixos, os erros, as lições aprendidas – eu possa ajudar a mostrar que não importa de onde viemos, temos mais em comum do que pensamos”, escreveu.

Perseguição dos tabloides

Imagens da mansão Montecito na Califórnia, de Harry e Meghan

18 fotos
Site de aluguel de imóveis publicou fotos da casa do duque e da duquesa de Sussex em 2020 quando o casal a listou na plataforma

Apesar da tentativa de Harry de apresentar seu livro de memórias como um empreendimento nobre, o anúncio provocou uma onda de suposições vertiginosas entre os especialistas reais sobre o quanto ele de fato entregaria.

Em entrevistas, Harry e Meghan descreveram o impacto psicológico da cobertura dura e implacável dos tablóides, da falta de apoio que sentiram da família real e do racismo que disseram ser dirigido a Meghan, que revelou até mesmo pensamentos suicidas. Mas o casal não divulgou, por exemplo, quem na família real especulou sobre o tom de pele do bebê.

As queixas de Harry sobre sua família remontam à sua infância: em uma entrevista ao ator Dax Shepard, Harry descreveu a “dor e sofrimento genéticos” de ser criado na família real e comparou crescer como membro da realeza como “uma mistura entre 'O show de Truman' e morar em um zoológico”.

O tom sincero do casal conquistou boa parte do público americano, mas não é tão bem recebido no Reino Unido, onde a imprensa os classifica como indelicados e critica por se apresentarem como vítimas.

As relações tensas de Harry e Meghan com sua família e seu tratamento severo pelos tablóides britânicos tiveram um novo capítulo recentemente. A presença dele no funeral da rainha provocou uma nova rodada de críticas de que eles estavam lá para buscar atenção.

Rumores sugerem que Harry pode diminuir o tom das críticas sobre sua família por respeito à rainha, embora, como costuma ser o caso, grande parte da especulação tenha sido divulgada através de fontes anônimas. Alguns especialistas reais alertaram que seria escandaloso para Harry dar outro golpe público em sua família tão logo após a morte da rainha. “Se tivesse algo sensacional, seria de mau gosto”, disse o comentarista real Richard Fitzwilliams ao The Daily Mail no mês passado.

Harry está trabalhando com o aclamado ghostwriter J.R. Moehringer, que ganhou elogios por seu trabalho na autobiografia do tenista Andre Agassi, e é conhecido por investigar as tensões inerentes aos relacionamentos entre pai e filho.

Alguns observadores reais argumentam que, independentemente do que as memórias digam, a monarquia resistiu a escândalo após escândalo, e provavelmente o faria novamente.

— Sim, estamos chegando a um momento delicado de transição. Sim, as pessoas estão nervosas. Sim, isso pode prejudicar a monarquia — diz Low, autor de “Courtiers”. — A longo prazo, a menos que Harry tenha algo surpreendente a dizer, eles vão aguentar. Mas vamos ver o que Harry tem a dizer.

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