Foram encontrados dentro de uma caixa sete contos inéditos de Julio Cortázar (1914-1984). A descoberta foi feita há mais de um ano em Montevidéu, capital do Uruguai, onde será realizado o leilão do material na próxima quinta-feira, dia 12, na tradicional casa Zorrilla Subastas. O lote estará à venda com preço inicial de US$ 12 mil dólares, e a expectativa é que o preço supere US$ 12 mil.
O conjunto de folhas, intitulado "Histórias de cronópias e de famas" e datado de 1952, traz 46 contos datilografados. Destes, 35 foram publicados, com pequenas variações, na primeira edição do livro de mesmo título, publicado em 1962; outros quatro saíram em edições posteriores da obra e, por fim, sete são inéditos — seus títulos são “Inventário”, “Carta de uma fama para outra fama”, “Borboletas automáticas”, “Viagens e sonhos”, “Tiny unicorn”, “Mirror rage” e “King of the sea”. Devido a questões de direitos autorais, as imagens desses textos não foram divulgadas.
Estudos mostraram que os textos foram datilografados na máquina de escrever Royal com a qual o autor de "O jogo da amarelinha" escreveu em Paris até que, em 1966, sua companheira, a tradutora e escritora Aurora Bernárdez, lhe deu uma Olivetti Lettera 32. São sessenta folhas de 28,5 x 22,8 centímetros, escritas apenas de um lado, que estão bem preservadas. Cortázar exilou-se da Argentina em 1951; pouco antes de morrer, regressou em 1983.
Especialistas garantem autenticidade
Após o achado, a família do falecido proprietário das páginas datilografadas contatou especialistas para estudar o material: o escritor e doutor em Letras uruguaio Aldo Mazzucchelli e o antiquário, livreiro e colecionador argentino Lucio Aquilanti.
"Pediram-me que examinasse uma formidável peça recentemente encontrada em Montevidéu, intitulada 'Historias de cronópios e de famas (Paris, 1952)' e na qualidade de livreiro antiquário e colecionador e pesquisador da obra de Julio Cortázar, posso afirmar sem dúvida que se trata de um original do autor, datilografado, de extraordinário significado”, aponta Aquilanti em um artigo divulgado pelos organizadores do leilão. Aquilanti é coautor de "Todo Cortázar — Biobiliografia" (2014) e seu acervo está preservado no Tesouro da Biblioteca Nacional Mariano Moreno com o nome “Coleção Aquilanti. Júlio Cortázar”.
“Uma coisa óbvia no início: hoje as oportunidades de encontrar originais desconhecidos de Julio Cortázar são muito escassas. Sem falar na descoberta de obras inéditas do escritor argentino”, escreve Mazzucchelli em outro artigo que acompanha o programa do leilão. “Como interpretar as exclusões dos referidos textos do conjunto finalmente publicado? (...) Se nos concentrarmos numa leitura literária, as razões só podem ser especulativas: questões de qualidade relativa, de maior ou menor realização ou acabamento de cada texto, e razões comparativas tanto em questões de estilo, forma e tema."