‘Emblemática, atuante e atual’, Pagu feminista e jornalista é tema de abertura da 21ª Flip

Brasilianista David Jackson, que acaba de lançar antologia sobre a escritora, e professora Adriana Armony estiveram na primeira mesa do evento em Paraty

Por — Paraty (RJ)


A escritora Adriana Armony na abertura da Flip Maria Isabel Oliveira

“Emblemática, atuante e atual”, as muitas facetas da jornalista, poeta e crítica cultural feminista Patrícia Rehder Galvão, a Pagu (1910-1962), homenageada da 21ª Festa Literária de Paraty, a Flip, foi o tema da primeira mesa, que abriu os bate-papos do Auditório da Matriz, na noite desta quarta-feira (22), com sensação térmica de 34°C e trovoadas intensas fora da tenda refrigerada.

— Pagu foi uma mulher a frente do nosso tempo, no sentido da luta feminista, da coragem e do pensamento — disse Adriana Armony, doutora em literatura pela UFRJ e autora de “Pagu no metrô” (Nós), uma das participantes da mesa de abertura. — Ela tinha coragem de mudar de ideia, de pensar diferente dos padrões a que era submetida, por isso sofreu uma série de prisões. Era desejosa de se dedicar a algo maior do que ela.

Outro participante da mesa, o professor americano dedicado a estudos da literatura brasileira Kenneth David Jackson, leu alguns trechos da recém-lançada “Palavras de rebeldia: uma antologia do jornalismo de Patrícia Galvão” (Edusp). São pouco mais de 600 páginas, divididas em quatro capítulos: o primeiro dedicado à política; o segundo foca em arte e literatura, “em que (Pagu) se revela uma crítica maravilhosa”; o terceiro, com crônicas sobre o teatro; e o quarto, traz textos em que Pagu apresenta e traduz autores da literatura mundial.

— A antologia vai desde as primeiras colunas em 1931 até quase o final da vida dela — disse David Jackson, na conversa mediada pela professora de literatura Eneida Leal Cunha. — (Começou) uma pessoa extremamente jovem que viveu intensamente e depois foi se dedicando a um período de reflexão. Ela escreve o que quer nas colunas, ouvimos a voz dela, ela fala com o leitor.

O professor Kenneth David Jackson — Foto: Maria Isabel Oliveira

A heterogeneidade de Pagu aparece também nos pseudônimos (Patsy, Mara Lobo, Ariel, e tantos outros) e na forma que ela fez uso deles. E, para Adriana, isso é uma senha para os leitores.

— Ela foi múltipla desde os pseudônimos. A partir dos constrangimentos e contradições consegue levantar a voz. Consegue reescrever esse nome e cabe a nós avançar nessa reescrita (de Pagu).

Festa da Poesia

Antes do início da mesa, o diretor-artístico da Flip, Mauro Munhoz, destacou o papel da poesia nesta edição da festa.

— Esse ano vai ter muita poesia na Flip. Pagu foi uma poeta, o próprio Augusto de Campos, artista homenageado também — disse ele.

Em tempos incertos de guerra, como os vividos agora, salientou Mauro, a poesia cria imaginários e sonhos.

— Um artigo que a Pagu escreveu no jornal “A noite” durante a 2ª Guerra, deu uma resposta a um outro artigo do Mário de Andrade: “no mundo em guerra, pra que literatura?”.(Ela escreve) “Justamente nesse momento que a gente mais precisa da arte, literatura e da poesia.”

Mais recente Próxima ‘Flip do calor’: evento começa com termômetros marcando 40°C em Paraty