Brasileira conta em livro a história da canção revolucionária da América Latina

Da Nueva Canción ao funk da MC Carol, Bruna Ramos da Fonte vai para além dos estereótipos da ‘música de protesto’: ‘ela tem o poder de transformar e de apresentar uma solução, não é simplesmente sair por aí protestando’

Por — Rio de Janeiro


O cantor e compositor chileno Victor Jara e a MC Carol, de Niterói Colagem de fotos de divulgação

Música de protesto? É bem verdade que, por causa do movimento Nueva Canción Latinoamericana, de cantautores como os chilenos Victor Jara e Violeta Parra, os cubanos Pablo Milanés e Silvio Rodríguez e a argentina Mercedes Sosa, a expressão se popularizou ao longo dos anos 1970, tempo em que as ditaduras corriam soltas no subcontinente.

Mas a escritora Bruna Ramos da Fonte preferiu deixá-la um pouco de lado em sua nova obra, que trata dessa música, desses artistas e de tantos outros: “Apenas uma mulher latino-americana — Em busca da voz revolucionária” (Rocco), livro com título que parafraseia o da célebre canção do cearense Belchior — muitas vezes, também, associado à tal “música de protesto”.

— A música tem o poder de transformar, de revolucionar, de trazer o novo e de apresentar uma solução. Não é simplesmente sair por aí protestando, até porque esse termo “protesto” acabou ficando um tanto caricato — observa Bruna, de 32 anos, lembrando da velha música de Raul Seixas “Eu também vou reclamar” (dos ferinos versos “pra vender disco de protesto/ todo mundo tem que reclamar”).

Mais do que apenas falar de música, Bruna cuidou para que “Apenas uma mulher latino-americana” unisse ensaio, jornalismo, história, autobiografia, poesia e fotografia. Uma obra cuja ideia ela teve em 2012, ainda como jovem escritora (que estreou aos 14 anos, com o livro “Um réquiem para Mozart”), depois de lançar o volume “Essa tal de bossa nova” (com histórias da música brasileira contadas pelo violonista e compositor Roberto Menescal, um dos expoentes do movimento).

— A ideia inicial era fazer um almanaque, e eu saí por aí para fazer essa pesquisa e conversar com as pessoas. Fui para Cuba para falar com o Silvio Rodríguez, entrevistei a filha do Che (Guevara), fui para a Argentina, participei das manifestações das mães da Praça de Maio, entrevistei o filho da Mercedes Sosa, morei na casa da Violeta Parra e entrevistei a filha, a neta dela... enfim, a família inteira — conta. — No final de 2013, quando voltei das viagens todas, vi que o melhor seria contar a experiências de um outro modo, encontrar um outro formato de livro.

Capa do livro "Apenas uma uma mulher latino-americana", de Bruna Ramos da Fonte — Foto: Reprodução

Além dos luminares da Nueva Canción Latinoamericana (como é o caso de Victor Jara, assassinado pela ditadura chilena e redescoberto pela juventude dos anos 2020 por causa de bandas como o Rage Against The Machine), o livro (que tem prefácio de Tita Parra, filha de Violeta Parra) passa também por Belchior, Roger Waters, Raul Seixas, Secos & Molhados, Zé Ramalho, The Clash, Cazuza, Racionais MC’s e Manu Chao até chegar ao Caetano Veloso de 2021 que compôs “Não vou deixar”.

— Quis principalmente mostrar que a canção de protesto, canção revolucionária ou seja lá o nome que a gente quiser dar para esse cancioneiro, não é uma coisa que está perdida no tempo, uma coisa que aconteceu durante ditadura e depois acabou. A gente ainda tem muitos artistas atentos às questões sociais, fazendo reivindicações e mostrando realidades distintas na sua música — diz. — Teve gente que se chocou quando viu na minha playlist uma música do MC Carol. O funk é uma música que está o tempo inteiro trazendo essas reivindicações, era importante ter essa diversidade no livro.

Bruna Ramos da Fonte, autora de "Apenas uma mulher latino-americana" — Foto: Divulgação

“Apenas uma mulher latino-americana: em busca da voz revolucionária”

Autora: Bruna Ramos da Fonte. Editora: Rocco. Páginas: 272. Preço: R$ 69,90.

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