Olhando para trás e passando em revista a sua história, a cantora nigeriana Tiwa (pronuncia-se Tiuá) Savage, 43, conhecida como a Rainha dos Afrobeats, não consegue conter a exclamação.
— Foi uma jornada muito louca! — admite ela, que chega pela primeira vez ao Brasil como atração, dia 27, do festival Back2Black, que acontece no Armazém da Utopia, na Gamboa.
- Burna Boy, WizKid, Tiwa Savage: Conheça os músicos africanos que estão fazendo a cabeça de Beyoncé e Drake
- Amapiano, House Music e um pouquinho de Brasil: Festival reúne ritmos e influências musicais da África do Sul
Antes de tornar-se um nome de expressão internacional do pop (com canções na trilha organizada por Beyoncé para “O Rei Leão” e participação no disco “Everyday life”, do Coldplay), ainda adolescente, na Inglaterra, fez backing vocals para artistas do porte de George Michael e depois participou do programa X-Factor. Mais tarde, Tiwa foi estudar música na prestigiosa escola de Berklee, em Boston, nos Estados Unidos. E lá, foi recrutada como compositora de potenciais hits para artistas como Babyface, Monica, Snoop Dogg e Akon.
— Ao longo do caminho, fui acumulando muita experiência, tanto ao fazer backing vocals para artistas quanto ao estudar jazz em Berklee. — recorda. — Toda a minha base musical vinha do r&b, era o que eu amava. Assim, o que eu podia fazer de melhor era tornar-me compositora, trabalhar com o que havia me levado à música.
Mas, segundo Tiwa, naquela primeira década dos anos 2000, havia tantos cantores de r&b maravilhosos nos EUA “que eu comecei a pensar no que eu poderia fazer para me diferenciar”:
— Quando me tornei compositora, nos Estados Unidos, muita gente não sabia que eu era nigeriana. Achavam que eu era americana... na verdade, diziam que eu era britânica! E aí percebi que o mais importante era o fato de eu ser africana.
- Salif Keita: ‘Sigo músico em minha alma, é muito difícil me aposentar da música’
- ‘A voz dela continuará ressoando’: Dionne Warwick faz shows no Brasil e diz que planejou um disco com Gal Costa
Tiwa lembra que nessa época se atualizou sobre o panorama musical da Nigéria, onde a cena dos afrobeats estava crescendo, mas ainda sem muitas representantes femininas. Sendo assim, pensou no que poderia acontecer se misturasse r&b e afrobeats à sua maneira.
— Mas era só uma experiência, eu não sabia o que poderia acontecer. Fiz meus dois primeiros discos e eles tiveram um enorme sucesso. Acho que nenhum de nós imaginava que tudo ia acontecer tão rápido. O fato de os afrobeats terem atingido uma escala global é algo pelo qual seremos eternamente gratos — conta ela, que estreou em carreira solo no seu país há exatos 10 anos com o álbum “Once upon a time”. — Ainda gosto desse disco, ele ocupa um lugar especial no meu coração, e ainda canto algumas músicas dele, são músicas que fazem parte da minha jornada como artista.
Tiwa Savage surgiu na Nigéria junto com cantores como WizKid e Ice Prince. E diz que penou por ser mulher.
— Era muito desafiador, culturalmente. Você não podia usar certas roupas, não podia ter tatuagens, era difícil para mim ser aceita. Mas sou teimosa! E acho que foi essa determinação, essa energia, que me ajudou a ir adiante esses anos todos.
E sua atuação em prol das mulheres no país foi além da música: ela se engajou em campanhas de combate ao estupro e de conscientização sobre o câncer de mama.
— Como mulher, acho que você tem que emprestar a sua voz àquelas que não têm — defende Tiwa. — Eu estou do lado das causas que afetam as mulheres, até porque eu também sou mãe.
Na coroação de Charles
Hoje, a cantora tem reconhecimento (este domingo, com Charles III, ela será a primeira artista africana a se apresentar no concerto de coroação de um rei britânico), influência e consciência do seu papel cultural (“A música, a moda, elas vão mudar a imagem preconceituosa que as pessoas têm da África, elas mostram um outro lado da história”, acredita). Mas ainda se derrete ao lado de um ídolo, como a estrela americana do r&b Brandy, com quem lançou uma música em 2021.
— Foi tão emocionante, eu cresci ouvindo Brandy. E quando nos conhecemos foi muito bonito. Às vezes, quando encontra um ídolo pessoalmente a coisa pode acontecer de forma diferente da que você espera... e ela foi tão adorável e humilde! Foi além da imaginação — diz ela, animada ao ir ao Brasil. — Essa viagem é algo que todo artista parece querer fazer um dia. Li bastante sobre a história do Brasil, sou fascinada pelo país. Estou indo com a minha banda completa, será um show bem energético.
No Back2Black, Tiwa Savage se apresenta na mesma noite que a brasileira Iza, com quem aliás tem trocado figurinhas pela internet.
— Acompanho o trabalho da Tiwa desde sempre. Ela é uma das minhas cantoras favoritas e saber que ela está vindo pra cá e vou poder assistir ao show dela é incrível! — festeja Iza. — Ela é uma artista muito moderna mas, ao mesmo tempo, ela respeita suas raízes na música.