Música de Jane Birkin e Serge Gainsbourg foi proibida pela ditadura militar no Brasil

'Je t'aime... moi non plus' tinha gemidos que foram condenados pelo Vaticano


Serge Gainsbourg e Jane Birkin em setembro de 1970 AFP

Voz lânguida, gemidos, um ato sexual musicado. Em 1969, uma canção descrita dessa forma não passava incólume. E "Je t'aime... moi non plus" não passou. Composta por Serge Gainsbourg e interpreta por ele e Jane Birkin, sua companheira à época e que morreu neste domingo, aos 76 anos, a música causou furor. Ocupou o topo das paradas musicais em diversos países, mas foi condenada pelo Vaticano.

Países como Itália e Espanha trataram logo de proibir que ela tocasse nas rádios. Na América Latina, o Brasil, vivendo sob uma ditadura militar, tomou a mesma atitude. Segundo o jornal "O Estado de São Paulo" à epoca, a ordem partiu do coronel Aloisio Mulethaler, chefe do Serviço de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal.

Na edição de 1 de novembro de 1969 de O GLOBO, o colunista Ibrahim Sued reiterava que a canção ("que inaugurou a sexualidade sonora", escreveu ele) era a mais ouvida no mundo todo, mas seguia censurada em países como Brasil, Itália e Espanha.

"Aliás, sobre a censura no Brasil, um jornal francês maldosamente insinuou que a proibição no Brasil foi porque o L'Observatore Romano não é ouvido no Brasil", escreveu Sued. O colunista ainda reportava que, na época, a expectativa da gravadora era de que o disco com canção vendesse, até o Natal, dois milhões de cópia na França.

"Na Alemanha, já venderam 200 mil. Na Inglaterra, 250 mil, e lá noticiou-se de que no Brasil foram vendidos 70 mil", escreveu Sued. "Até o presente momento, Jane Birkin ganhou com essa música US$ 240 mil, mais de um milhão de cruzeiros novos".

Na edição de 10 de outubro, O GLOBO escreveu também que o disco censurado era vendido, ilegalmente, por 25 cruzeiros novos.

Bardot

Originalmente, "Je t'aime... moi non plus" foi uma composição pensada para a voz de Brigitte Bardot, que decidiu não gravar a canção.

"Todas as belas atrizes estavam implorando para ele (Serge) para gravar, então, quando ele me pediu, achei melhor dizer sim, ou ele me largaria", disse Jane Birkin ao jornal "The Daily Mail", em 2008.

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