‘Cilada’, ‘Brincadeira de criança’, ‘Dança da vassoura’... Anderson Leonardo deixa legado de samba e irreverência com o Molejo

Cantor Anderson Leonardo, vocalista do Molejo, morreu após um longo tratamento de um raro câncer inguinal

Por O GLOBO — Rio de Janeiro


O grupo Molejo, nos anos 1990, com Anderson Leonardo (de macacão) Divulgação

Um dos grandes grupos do pagode dos anos 1990, o Molejo perdeu esta sexta-feira (26) o seu integrante mais simbólico: Anderson Leonardo, que faleceu após um longo tratamento de um raro câncer inguinal. Cantor e cavaquinista do grupo, ele sublinhava a irreverência e a alegria dos sambas com o seu riso largo, sua voz rouca e uma dentição muito particular — que optou por corrigir em 2015.

“Estou bem feliz com o resultado. Tudo melhora. Costumo brincar que a minha língua está mais à vontade na suíte. Antigamente o barraco ficava muito apertado (risos). Quando eu olho no espelho e vejo tudo certinho, fico muito feliz. A patroa gostou muito”, festejou ele, em entrevista ao Jornal Extra.

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Vocalista do Molejo retomou tratamento contra câncer

Como surgiu o Molejo?

Fundado no fim dos anos 1980 como uma banda de baile pelo pai de Anderson, o produtor Bira Hawai, o Molejo ganhou sua formação clássica com a entrada do jovem e seu amigo de infância, Andrezinho, filho do ex-diretor de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, Mestre André, o inventor das paradinhas. Quando meninos, os dois fizeram shows folclóricos no exterior, nos quais tocavam músicas de capoeira e executavam acrobacias com o pandeiro.

Em 1994, o Molejo lançou seu primeiro LP, “Grupo Molejo”, que estourou com o samba-rock “Caçamba” (“está tudo aí / que papo legal / estão dizendo lá no gueto / que você tem um suingue legal”). Os discos seguintes trariam “Paparico” (“arranjei um carro importado / uma beca e um celular / na verdade era tudo emprestado / não tenho nem onde morar”), “Brincadeira de criança” e a popularíssima “Dança da Vassoura” (“diga aonde você vai / que eu vou varrendo”).

Maiores músicas de sucesso do Molejo

O maior dos sucessos, porém, viria em 1996, com “Cilada”, samba feito por Delcio Luiz e Ronaldo Barcellos durante um pileque em São Paulo (“inocente, apaixonado, eu estava crente que ia viver uma história de amor / não era amor, não era, era cilada”). Sem jeito, Delcio apresentou a composição a Anderson num almoço de Natal. “Eu nunca largo prato de comida, e larguei pra bater palmas pra eles”, contou o cantor no programa “Faustão da Band”. “Essa música é tão legal que até Lady Gaga deu uma moral”.

Ele se referia, de forma brincalhona, ao fato de que, em setembro de 2016, logo após a cantora americana ter lançado o single “Perfect illusion”, fãs terem apontado nas redes sociais semelhanças entre a música e “Cilada”. A brincadeira impulsionou as buscas pelas músicas do Molejo no Spotify, que cresceu 102% em apenas um dia. Dias depois, Lady Gaga fez referência no Facebook ao samba do Molejo para promover o seu álbum “Joanne”.

Com isso, uma nova geração descobriu o grupo (e o celebrou com memes e camisetas que diziam “Molejo maior que Beatles”), que então, após seis anos sem lançar um disco de inéditas, anunciou o álbum “Molejo Club”, antecipado pela música “Fofoca é lixo”. Logo depois foi anunciado que Andrezinho, que havia saído em 2009, voltaria ao grupo.

“André disse: ‘Quero voltar, não aguento mais ficar sozinho’. E eu respondi: ‘Vai lá e fala com os caras”. Foram oito anos de briga e, com o tempo, a mágoa vai passando, ainda mais porque a gente havia construído muita coisa junto”, revelou Anderson ao Extra. “Eram discussões sobre compromissos, condição monetária, virou uma bola de neve. A minha saída foi a parte ruim de nossa história”, admitiu Andrezinho, que durante os anos que ficou longe do Molejo, atuou como coordenador de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel.

Morre Anderson Leonardo:

Anderson Leonardo, do Molejo, estava com câncer inguinal

Anderson foi diagnosticado com câncer inguinal em 2022, um tipo raro, que se desenvolve na virilha a partir da metástase (disseminação) dos tumores localizados no pênis e no ânus. Este câncer está associado a inflamações prolongadas, além disso, também pode estar ligado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV). É mais comum em homens acima dos 50 anos de idade, mas pode acometer jovens.

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