Godofredo de Oliveira Neto é eleito para a cadeira 35 da ABL

Catarinense é o primeiro ficcionista a conquistar uma vaga na instituição desde a sua reabertura

Por Bolívar Torres — RIO


O escritor Godofredo de Oliveira Neto em 2011 — Foto: Ana Branco

O escritor e professor universitário Godofredo de Oliveira Neto foi eleito para a Cadeira 35 da Academia Brasileira de Letras, em sessão realizada nesta quinta-feira, 10. Com 22 votos, ele sucede ao acadêmico Candido Mendes. O novo imortal superou o advogado Sergio Bermudes, o médico Antônio Hélio da Silva, o escritor Elias Gonçalves Pereira e o professor e filósofo Dermeval Saviani.

— Tenho 45 anos de carreira e este é o ponto alto, uma coroação — diz Oliveira Neto.

Oliveira Neto é o primeiro ficcionista a ingressar na Casa de Machado de Assis desde a retomada das atividades presenciais da instituição, em outubro do ano passado, após longo mais de um ano de resguardo em função da pandemia. O discurso dos bastidores naquele momento era de que pelo menos uma das cinco vagas abertas no período em que a ABL esteve fechada seria reservada a um escritor de ficção. No entanto, elas acabaram ficando com uma atriz (Fernanda Montenegro), um cantor e compositor (Gilberto Gil), um economista (Eduardo Gianetti), um médico (Paulo Niemeyer Filho), e um jurista (José Paulo Cavalcanti, que toma posse nesta sexta-feira).

Após a morte de Candido Mendes, em fevereiro, a ideia de acolher um acadêmico com um perfil mais literário voltou a ganhar força. Oliveira Neto, que havia perdido a eleição para Niemeyer Filho em novembro, inscreveu-se novamente. Apesar de uma intensa campanha de Bermudes, o escritor catarinense conseguiu convencer a maioria dos imortais, que conhecem bem a sua obra. Em 2009, a Academia já o havia premiado com a Medalha Euclides da Cunha.

— Os outros candidatos eram da mais alta qualidade, tenho o maior respeito e admiração por eles — diz Oliveira Neto. — Ser o único ficcionista concorrendo sem dúvida pesou, sei que fui beneficiado pelo desejo da ABL por alguém com esse perfil.

Nascido em Blumenau, em 1951, Oliveira Neto cursou o estudo superior na França durante a ditadura militar. Após fazer graduação e mestrado em Letras pela Universidade de Paris III (França), ele voltou ao Brasil para um doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde leciona atualmente. Desde 2017, é Pesquisador associado do Centro de Pesquisas sobre países lusófonos na Université Sorbonne Paris III.

Em 1996, ele chamou a atenção da crítica nacional com o romance "O Bruxo do Contestado", que sobrepõe três diferentes momentos da história do Brasil no Século XX, a Guerra do Contestado, a Segunda Guerra Mundial e a Ditadura Militar.

A ditadura também aparece em "Amores exilados" (2011), sobre um triângulo amoroso entre exilados políticos que pertencem a uma célula política socialista em Paris. Outros romances importantes do autor são "Oleg e os clones" (1999), "Marcelino" (2008) e "O grito" (2016).

Oliveira Neto publicou livros de não ficção, como "Crus e Sousa: o poeta alforriado" (2010), sobre o poeta simbolista catarinense. Também foi co-autor de "Secchin : uma vida em letras" (2013), sobre o seu novo colega na Academia, Antonio Carlos Secchin.

Oliveira Neto é ainda Membro Titular da cadeira Barão do Rio Branco da Academia Carioca de Letras; membro do PEN Clube do Brasil e do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro; além de embaixador da América Latina na Academia Europeia de Ciências, Letras e Artes.

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