Contrato que encerrou a greve dos atores em Hollywood é alvo de críticas por termos que tratam da Inteligência Artificial

Com 128 páginas, documento é considerado controverso por parte dos profissionais, que votaram ou planejam votar contra a resolução

Por O Globo — Rio de Janeiro


Presidente do SAG-AFTRA, Fran Drescher, e Duncan Crabtree-Ireland, diretor executivo e negociador-chefe do sindicato Robyn Beck/AFP

O Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG-AFTRA, na sigla em inglês) divulgou, nesta sexta-feira, o contrato completo que encerrou a sua greve, no último dia 8. A paralisação generalizada dos atores durou 118 dias, se tornando a mais longa do sindicato. Com 128 páginas, o acordo provisório tem sido considerado controverso por alguns membros do SAG, que já votaram ou planejam votar contra a resolução. Isso se deve aos termos em torno da "inteligência artificial generativa". Para esses membros, o que foi planejado para o longo prazo não é o suficiente para proteger os empregos dos atores.

É o caso de Matthew Modine, ator de "Stranger things" e "Nascido para matar". Em longa carta publicada nas redes sociais na última quinta-feira, Modine reconhece as melhorias para os atores trazidas pelo acordo, mas tece algumas críticas.

"No contrato, a palavra ‘consentir’ é evocada pelo menos uma dúzia de vezes. Ela é propositalmente vaga e demanda dos membros do sindicato que renunciem a sua autonomia. Concordar em consentir significa, contratualmente, deixar que nossos empregadores capturam e reconstruam nosso físico e nossas vozes usando inteligência artificial. Assim que essa informação for coletada, um membro pode ser criado quando e como o contratante quiser", disse.

Ele integrou o conselho nacional do SAG e fez parte dos 14% de profissionais que votaram contra o documento que acabou sendo aprovado (cerca de 10 dos 66 membros disseram não). Agora, ele segue em votação pelos membros do sindicato, que têm até o dia 5 de dezembro para ratificá-lo. Se o documento for aprovado, as regras valerão até 30 de junho de 2026. Segundo a Variety, "o potencial para a maioria dos membros do SAG-AFTRA rejeitar o contrato parece pequeno".

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As melhorias para os atores de Hollywood

No último dia 10, Fran Drescher, a presidente do sindicato, e Duncan Crabtree-Ireland, o negociador-chefe, já haviam falado sobre alguns dos pontos de mudança conquistados com o pacto firmado com a Amptp (associação que reúne as grandes produtoras e distribuidoras de Hollywood, como Netflix, Amazon, Warner ou Disney).

Para começar, é aplicado de imediato um aumento salarial de cerca de 7% para os atores – 11% para figurantes –, acompanhado de outro aumento de 4% em julho de 2024 e de 3,5% em julho de 2025 para ambos os grupos. Como afirmou a Crabtree-Ireland, o pacto avançou graças à “solidariedade dos seus membros”.

Atores que tenham participado de séries e programas que tenham “certo sucesso”, embora não seja especificado quanto, que sejam veiculados em plataformas de streaming terão direito a receber determinado valor (o que na televisão linear são chamados de residuais, espécie de royalties) graças a um novo fundo de 40 milhões de dólares. Haverá também uma melhoria nos planos de saúde que significará um aumento de 180 milhões de dólares em contribuições nos próximos 40 anos.

Inteligência Artificial

Em relação à inteligência artificial, não deram detalhes, mas explicaram que a criação de “réplicas digitais” dos intérpretes pelos estúdios será permitida desde que sejam pagas e tenham aprovação dos clonados. Outra questão importante para os atores e que foi discutida é que os estúdios devem fornecer coordenadores de intimidade para cenas de sexo.

Também estava em cima da mesa a questão das audições, que os próprios intérpretes deveriam filmar, com rapidez e com os seus recursos. Agora, os estúdios podem solicitá-los com no máximo 48 horas de antecedência, deverão providenciar maquiagem e cabeleireiro se forem específicos e poderão solicitar a gravação de no máximo oito páginas do roteiro.

O contrato completo está disponível on-line.

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