Reinaldo Figueiredo, o Zé Galo do ‘Casseta & Planeta’: ‘Os torcedores desabafavam comigo como se eu fosse o Zagallo!’

Escalado para fazer a sátira do lendário técnico, mesmo sem saber nada de futebol, o humorista admite: ‘Não lembro o que eu falava, mas tinha sempre que ser algo surrealista!’

Por — Rio de Janeiro


Reinaldo Figueiredo (à esquerda), Zagallo e Bussunda, em 2003, na concentração da seleção brasileira de futebol em Teresópolis Cezar Loureiro

Eterno Devagar Franco do programa humorístico “Casseta & Planeta” (“aquele que em alguns momentos ficou mais famoso do que o próprio Itamar (Franco, presidente do Brasil entre 1992 e 1995)”, recorda-se), o humorista e cartunista Reinaldo Figueiredo foi também o Zé Galo, sátira de Zagallo, o lendário treinador do futebol brasileiro, falecido nessa sexta-feira (5), aos 92 anos.

— Primeiro, teve a ironia da coisa que essa escalação, feita pelo nosso diretor, o José Lavigne. Porque para não ficarmos discutido entre nós quem queria fazer o quê, o programa tinha um técnico, o Zé. E ele me escalou para fazer o Zé Galo, logo eu que, do nosso time, era o cara mais ignorante em termos de futebol! — recorda-se Reinaldo. — Mas eu achei que fazia sentindo botar um “ator” que não entendia porra nenhuma de futebol para fazer o Zagallo. Naquela época, eu também topava qualquer coisa: era o mosquito da dengue, o ET de Varginha, a Rosane Collor... para o que me escalassem, eu fazia.

E como foi, para esse ator entre aspas, o trabalho stanislavskiano de encontrar o seu Zagallo?

— Eu não sou imitador, o melhor nisso no programa era o Hubert, que fazia o Gavião Bueno. O Devagar Franco eu fazia só um cara falando em mineirês, com um sotaque de caipira que não tinha nada a ver com o Itamar, que era só mineiro (risos) — conta. — Com o Zagallo, eu não tinha muito o que fazer. Eu até tentei chegar a uma voz parecida com a dele, mas era difícil.

A questão, argumenta Reinaldo, é que “o personagem Zagallo era importantíssimo para a torcida brasileira”. E aí, sem esforço, ele acabou deitando e rolando. Bastava repetir os bordões inventados pelo técnico (como o “vocês vão ter que me engolir!”) e ir adiante.

— O mais impressionante de tudo é que, nas várias vezes em que a gente ia gravar na rua, interagindo com o público, os torcedores vinham falar comigo e começavam a dar uns palpites sobre o time como se eu fosse o Zagallo de verdade. “Pega o fulano, bota pela esquerda, pela direita...” — diverte-se o humorista. — A magia do programa era essa. Mesmo que fosse o Zagallo fake, o cara se empolgava e desabafava, dava os esquemas táticos dos sonhos dele... e eu ficava ali ouvindo. Mal sabia o cara que eu não entendia coisa alguma do que ele estava falando! Muitas vezes eu não lembro o que dava de resposta, mas tinha que ser algo surrealista!

O coordenador técnico Zico, com o Zé Galo de Reinaldo Figueiredo, em 1998, na Granja Comary — Foto: Jorge William

Reinaldo diz ter memórias vagas de um encontro entre Zé Galo e Zagallo. A imprensa registra, porém, em 1998, uma história bem zagalliana: logo após ver o humorista vestido como ele, próximo ao gramado da Granja Comary, em Teresópolis, o técnico ficou irritado, entrou no ônibus da seleção brasileira e voltou para a concentração.

Na época, a assessoria de imprensa da seleção justificou a atitude de Zagallo alegando que ele teria ficado magoado com as piadas de um “Casseta & Planeta” exibido logo após a derrota do time em um amistoso contra a Argentina, no Maracanã.

— Pois é, foi um não encontro! — reconhece hoje Reinaldo.

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