Clássico do Deep Purple ganha nova cara, e vocalista promete show no Brasil em 2024

Ian Gillan conta como um incêndio inspirou a música ‘Smoke on the water’ e mudou os planos de gravação de ‘Machine head’, álbum que volta em caixa com remixes, remasters e faixas ao vivo

Por — Rio de Janeiro


O grupo inglês Deep Purple, em 1972, com o vocalista Ian Gillan no centro Divulgação/Didi Zill

Imagine só um disco que, além de uma das canções mais conhecidas do rock — “Smoke on the water”, o pai de todos os riffs de guitarra —, ainda trouxesse “Highway star”, “Never before”, “Lazy” e “Space truckin’”, faixas que embalaram gerações e ajudaram a definir os rumos do heavy metal. Lançado em 1972, “Machine head”, sexto álbum do grupo inglês Deep Purple, teve sua importância reconhecida com a edição, à venda desde ontem, de uma caixa SuperDeluxe com LPs, CDs ou blu-rays, reunindo remasterizações, remixes (estéreo e Dolby Atmos imersivo) e a versão quadrifônica de 1974 das faixas do álbum, mais gravações ao vivo de shows da época.

Uma extravagância que surpreendeu até mesmo Ian Gillan, de 78 anos, vocalista do Purple em “Machine head” e — depois de idas e vindas — da versão atual do grupo, que completa 57 anos em 2024 e promete, segundo ele, aparecer pelo Brasil em setembro. Em entrevista por telefone ao GLOBO, ele deu a sua mais sincera resposta sobre o porquê de uma reedição comemorativa de 52 anos do disco — e não de 50 ou de 60.

— Não tenho a menor ideia (risos), só soube desse projeto há um ano, e pelo nosso escritório! Nos últimos tempos andamos intensamente ocupados com a agenda insana de shows e de gravações do nosso novo disco. Na verdade, eu nem vi a caixa ainda, só ouvi as faixas on-line e tudo me soou maravilhoso — diz. — Sobre os remixes, eu diria: “Uau, isso é algo diferente!” Não é só uma mexida de botões aqui e ali, é algo radical.

Ironicamente, esses remixes foram feitos por Dweezil Zappa, o filho do mítico guitarrista Frank Zappa, que era justamente quem estava tocando no cassino de Montreux (Suíça) em que “Machine head” seria produzido, quando uma pessoa da plateia disparou um sinalizador em direção ao teto e um incêndio começou. O incidente obrigou o Deep Purple a levar seu equipamento para um hotel na cidade, onde as gravações enfim aconteceram, e, de quebra, inspirou “Smoke on the water” (cuja letra é um relato do causo).

— Eu lembro bem, eu estava sentado no meu lugar quando o cara veio com o sinalizador e disparou bem por cima do meu ombro. Eu estava lá não só porque era o último show da temporada e no dia seguinte a gente ia se instalar na sala de shows, mas também porque eu queria ver Flo & Eddie, do grupo Turtles, que faziam os backing vocals de Frank Zappa — recorda-se Ian Gillan, ressaltando que a banda sempre compôs sobre aquilo que viveu na estrada. — Até hoje eu levo comigo meu caderninho de anotações e, se eu vejo algo interessante, não importa o que for, eu escrevo.

O box da reedição 2024 do álbum "Machine Head", do grupo inglês Deep Purple — Foto: Divulgação

O cantor conta que “Smoke on the water” só entrou em “Machine head” porque “precisávamos de sete minutos mais no disco e não tínhamos tempo de fazer mais nada”. O disco saiu, eles começaram a tocar a música nos shows, mas as rádios não davam bola.

— Um dia, um homem muito importante da Warner Brothers veio assistir ao nosso show em Anaheim, Los Angeles, viu a reação da multidão a “Smoke on the water” e não acreditou naquilo. Ele olhou novamente o álbum e disse: “Não é de se admirar que não toque na rádio, ela tem 7m30!” Então, fez uma edição de 3m15, mandou para as emissoras e ela começou a tocar — diz.

Muitos reconhecem em “Machine head”, não só pelo som agressivo, poderoso e tecnicamente impecável, mas até mesmo por sua capa, um precursor do heavy metal.

— Não tenho certeza, mas acho que tivemos um papel nisso — admite Gillan. — Havia muitas coisas interessantes acontecendo ao mesmo tempo ali, foi uma era de ouro da música. Foi uma época em que Jim Marshall (criador dos amplificadores Marshall) apareceu e tudo ficou maior e mais alto. Começamos a trabalhar de maneira diferente, tocar em lugares diferentes e, de repente, se você entrava em um estúdio convencional, tudo soava pequeno. Tivemos que buscar nossos próprios técnicos de som, e aí tudo mudou.

Ian Gillan, com o Deep Purple, em 2013, em Copenhague — Foto: Torben Christensen/AFP

Desgastes com os outros integrantes levaram Ian Gillan a sair do Deep Purple depois de gravar o álbum seguinte a “Machine head”, “Who do we think we are?” (1973). Ele voltaria em 1984 para o revival da banda, sairia em 89 e retornaria, de vez, em 92.

— Tem um bom tempo que recuperamos nosso charme como Deep Purple, e recentemente (o guitarrista) Simon McBride se juntou a nós depois que Steve Morse saiu. E estamos arrasando, cara, sem qualquer esforço, é só alegria! — garante.

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